Mário Neto tem uma ligação quase orgânica com o Maracanã, cujo avô, Mario Filho, foi homenageado emprestando seu nome para o “maior do mundo”. Neto tem autoridade para dizer que o estádio atual não é o que o avô sempre imaginou. “A grande preocupação do dele sempre foi a torcida, e é justamente quem está sendo banida do estádio: o povo, as pessoas de menor renda. Eu já protestei, dei murro em ponta de faca, e nada vai ser mudado. Esse novo estádio não tem nada que lembre algo que seja feito para a torcida”, criticou o também jornalista.
“Eu quero ver o povo ter capacidade de pagar R$ 70, R$ 80 no mínimo, por jogo. O torcedor que você vê nas arenas não representa o brasileiro médio. E duvido que 43 mil pessoas vão ao estádio em todos os jogos, no caso do Fluminense”, apostou ele, que considera que o acordo entre o tricolor e o consórcio foi “razoável”. Ficou, porém, o alerta para Peter Siemsen,presidente do clube: ” Espero que ele não faça isso só por causa do estádio. Ele tem que pensar no Fluminense”.
Com as novas regras do Maracanã, Mário acredita que o estádio perdeu o que lhe dava um aspecto especial, mítico, único, em comparação aos outros estádios pelo mundo. “E posso estar errado, porque não sei sobre o futuro, mas acho muito difícil que recupere aquele “algo especial”, aquela torcida que incendiava o Maracanã antigamente. Não será a mesma que levava bandeira, que fazia o time vencer no grito. Isso acabou”.>>Domingo eu (não) vou mais ao Maracanã
Mário Neto atacou ainda o processo de privatização do Maracanã, marcado pela presença da Odebrecht (90%) e da IMX (5%), de Eike Batista, no consórcio vencedor junto com a AEG (5%). Enquanto a Odebrecht fez também a reforma do estádio, orçada inicialmente em R$ 700 milhões e que chegou a R$ 1,2 bilhão em abril de 2013, a IMX foi autora do estudo de viabilidade do estádio. “O que faltou foi reclamar antes. Na Alemanha, queriam mudar o estádio de Berlim e a organização da Copa não deixou. Não sou contra a Copa não, mas há formas honesta e desonesta de se construir estádios. E nós fizemos desonestamente”, disparou ele, criticando ainda que os clubes tenham perdido a chance de fazer uma pressão maior por melhores condições na negociação com o consórcio. “Os clubes estavam com a faca e o queijo na mão. Se o consórcio não retrocedesse, os clubes jogariam em qualquer lugar. Eu queria ver o consórcio fazer o estádio do Maracanã sem futebol por sete meses”, diverte-se.
Mário Neto ainda deixou no ar que não acredita em coincidência no fato do Engenhão, concedido ao Botafogo e que foi a casa dos times cariocas entre 2010 e 2013, ter sido interditado justamente perto da data final de licitação do Maracanã. ” É algo que eu não engoli. Obriga os clubes a aceitarem o estádio do Maracanã. Se ele estivesse aberto, seria uma opção para os clubes, e o consórcio não teria elementos de negociação”, finalizou ele.
Fonte: Jornal do Brasil