Arthur Muhlenberg: “Jorginho substituiu que nem a cara dele.”

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Vergonha total a apresentação do Flamengo diante do Audax. Distraído, cansado, azarado, e sem a mínima organização tática, o Flamengo foi facilmente neutralizado pelo apenas sofrível time das Casas Sendas. Jorginho, coitado do cara, se embananou todo na escalação. Em compensação substituiu que nem a cara dele. Mas como exigir muito de um bucha que acabou de chegar no baile e ainda mal sabe quem é quem naquela zona? Tem culpa ele, mas não é muita, não.
A responsabilidade maior é dos jogadores mesmo, tanto do grupo, que é comprovadamente fraco, quanto de certos uns e outros que deixaram o fracasso subir à cabeça muito rápido e jogam partidas decisivas com uma fleuma e um distanciamento mais adequados aos jogadores de críquete ou xadrez. Esse time não vibra, é frio. Não parece o Flamengo.
O velho sangue no olho, a vontade de matar ou morrer, correrias de tirar o fôlego entre catadupas de suor, entre muito outros indícios visuais da velha raça rubro-negra são coisas que não se vê nesse time do Flamengo. Todo mundo é muito centrado, muito profissional, muito respeitoso com os adversários. Qualidades de muito pouca serventia para um time que está jogando uma bolinha pra lá de mixuruca.
Mas aí vocês vão dizer, mas esse cara não tem vergonha de ser tão puxa-saco e ficar malhando os jogadores enquanto não fala nada dos dirigentes mãos-de-porco que montaram essa porcaria de time de 1,99? E vocês estão certos, porque é evidente que essa turma que está mandando tem responsabilidade pelos resultados.
Responsabilidade que considero limitada, mas tem. Como é que eles ainda não perceberam que pagar salário em dia está fazendo mal aos nossos rapazes? Uma medida tão violenta e traumática deveria ter sido introduzida aos poucos, com carinho, nunca com essa violência toda. A rapaziada está desorientada e muitos parecem ser incapazes de render sem se preocupar com a bufunfa do dia 25.
Fora essa imperdoável barbeiragem administrativa até agora o maior erro dessa galera foi cometido logo na saída, no dia em que tomaram posse. Quando deveriam ter se livrado imediatamente do Dorival, que nunca esteve nos seus planos, e contratado logo um treinador para levar o seu ambicioso projeto à frente. Ficar com Dorival 3 meses foi um grande vacilo. Mesmo sabendo que se economizou um dinheirão em multa rescisória agora estamos sendo obrigados a pagar mais do que economizamos em uma mercadoria muito mais preciosa: tempo.
Tempo que Jorginho precisa para poder dar uma mínima cara a um time que hoje está totalmente desfigurado. Tempo pra separar o joio do trigo (e escalar o trigo, por favor!). Tempo pra motivar os apáticos e pra pensar na merda que fizeram nessa Taça Rio. Bem, esse problema do tempo foi resolvido de maneira drástica. Virtualmente fora do carioqueta nosso time e nosso treinador estão cheios de tempo agora. Que o aproveitem pra colocar os pés nas formas, as cabeças nos tornos e os perebas no banco ou na rua.
A arte e o desafio de administrar uma entidade como o Flamengo, que é uma mistura entre o Bradesco, o Vaticano e uma boite da moda, só que sem dinheiro, está justamente em manter o barco apontado firmemente para a meta maior da limpeza ética e econômica, cortando hábitos perniciosos, rompendo parcerias ruinosas e passando a cobrar um preço justo pelo o que antes o Flamengo dava de graça, enquanto ao mesmo tempo mantém os seus milhões de fiéis minimamente satisfeitos com o desempenho do time.
Nossos cartolas pop stars são muito bons. Mas não sabem tudo. Precisam perceber que a linha que separa o time pobrinho mas limpinho de um bando de felas da mãe que nos matam de vergonha e desonram nossas mais caras tradições é muito estreita. É um fio de cabelo. E que no Flamengo todo o avanço conseguido através da boa administração e das mais finas estratégias negociais corre o risco de ir pro lixo quando a bola não entra.
Pagar nossas dívidas, recuperar o bom nome do Flamengo na praça e enfrentar sem medo o tsunami provocado pelas mudanças é fácil. Difícil é encontrar a sintonia fina que permitirá ao Flamengo manter a cabeça fora d’água enquanto o mar não volta a serenar.
A esmagadora maioria das pessoas com mais de 7 anos de idade não acredita no coelhinho da Páscoa. Porque percebem que é um personagem ficcional criado para ajudar a indústria cacaueira a bater suas metas de venda em um determinado período do ano. Por isso mesmo é ainda mais curioso que muitos de nós que se encaixam na faixa etária supracitada ainda acreditassem que o Flamengo poderia assoviar, chupar cana, e ganhar o 33º carioqueta ao mesmo tempo.
Eu admito que era um dos fanfarrões que achava que dava pra fazer uma profunda faxina administrativa e uma revolução nos procedimentos do clube enquanto se ganhava com um pé nas costas, porque nós somos o Fuderoso Rei do Rio, mais um inútil carioqueta. Não dava. E a nossa lamentável campanha na Taça Rio comprovou de maneira eloquente que toda a paciência que tivemos até agora ainda é pouca em comparação com a paciência que teremos que ter até que o Flamengo tire o pé da lama e possa voltar a ser do tamanho que merece.
Goethe dizia que “Todos querem ser alguém. Ninguém quer crescer.” Porque crescer é um processo sabidamente doloroso que envolve a renúncia a muitos maus hábitos inaceitáveis no mundo dos adultos. O imediatismo é um deles. É perfeitamente tolerável que a torcida, um multidão sem rosto com a idade mental de 3 anos, seja imediatista e queira tudo ao mesmo tempo agora. Mas ao torcedor como eu, esse individuo pensante que sabe o que é preciso para pagar suas contas, não se pode franquear a mesma tolerância.
Quem disse que o crescimento é uma progressão estável para frente e para cima? Muito pelo contrário, ele é uma trilha em ziguezague; três passos para frente, dois para trás, um de volta ao buraco, e um tempo parado, antes de outro pulo pra frente. Desafios vão aparecer toda hora, mistérios sempre há de pintar por aí, o importante é não perder o rumo e nem o terreno que já foi conquistado.
Se o Flamengo tivesse vencido o Audax, ou melhor, se o Flamengo vencesse a Taça Rio ou até mesmo o Carioca isto significaria que o trabalho está sendo bem feito? Claro que não. Carioca nunca foi parâmetro. Por isso não admito sequer pensar na possibilidade desses dirigentes usarem o cheque que a torcida assinou em branco pra eles pra comprar um ídolozinho meia-boca só pra parar a cornetagem e jogar no lixo todo o planejamento que nos venderam.
O ano vai ser difícil e isso nos foi avisado. Campeonato Carioca não vale nada e perde-lo é um preço muito barato para quem tem aspirações tão altas quanto as nossas. Se você quer ficar de pirraça exigindo a contratação imediata de um Dimba da vida é contigo mesmo. Mas o bom senso está gritando foda-se a Taça Rio, o foco agora é a Copa do Brasil.
Fonte: Urublog


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