É com muita satisfação que a Coluna do Flamengo anuncia seu primeiro contato com o economista e blogueiro Vinicius Paiva. Atualmente Paiva mantém um blog chamado “Teoria Dos Jogos” no site do GE, visando comentar as questões financeiras dos Clubes e esclarecer dúvidas de torcedores a respeito do assunto.
Por isso, o principal foco da entrevista foi o novo Sócio-Torcedor do Flamengo. Recentemente lançado, o Programa criou várias opiniões e dúvidas a seu respeito, principalmente por parte da torcida Rubro-Negra.
Como exemplo, Vinicius explicou a participação do “Movimento Por Um Futebol Melhor” nos valores arrecadados pelos Clubes e a sua real importância.
A baixo, as perguntas enviadas por internautas do site e redigidas por Eduardo El Khouri, respondidas por Vinicius Paiva:
1) Como você vê a importância do Sócio-Torcedor aos Clubes Brasileiros? Ele deve estar acima de patrocínios?
Enxergo esta questão como de suma importância. Trata-se de um adiantamento de valores importantes para o caso de projetos focados em ingressos e presença aos estádios. E um grande reforço nos cofres quando o enfoque reside em benefícios e produtos. Patrocínios são imprescindíveis, mas o sócio-torcedor deve ser tratado com a mesma importância.
2) Qual a sua primeira impressão sobre o Sócio-Torcedor do Flamengo?
Infelizmente o projeto não foca nem um lado nem outro. Não vislumbra entradas gratuitas nem estabelece o nível de descontos a que cada categoria tem direito. Sendo assim, poucos frequentadores se sentem impelidos à associação. Quanto à questão dos benefícios, é ainda menos vantajoso. Produtos oficiais e benefícios diversos não foram contemplados, de modo que o torcedor de fora do Rio só se associa por amor ao clube. Relações comerciais devem ser calcadas em benefícios mútuos, sob pena de naufragarem.
3) O que você destaca no Programa do Flamengo em relação aos outros Clubes, tanto positivamente quanto negativamente?
A única virtude foi à sinceridade em afirmarem a inexistência de benefícios num primeiro momento. Trata-se de um pedido de socorro, uma busca por torcedores dispostos a darem dinheiro recebendo pouco em troca. A única rede de benefícios (descontos da Ambev) é externa, ou seja, mais mérito da multinacional do que do clube.
4) Qual sua opinião sobre o direito a voto, o qual o ST do Flamengo não permite?
Direito a voto é um dos tripés na elaboração de um projeto de sócio-torcedor – ao lado de benefícios (produtos, redes de descontos, etc) e ingressos. Infelizmente a estrutura interna do Flamengo não permite que se ofereça o voto, mas espero que os profissionais trabalhem para mudar o estatuto, o que permitiria a qualquer sócio poder votar.
5) Os valores de R$ 39,90 a R$ 199,90 estão fora da realidade dos torcedores Rubro-Negros?
Não considerei ruim que o plano mais barato tenha sido considerado “caro” (R$ 39,90). Mas os demais valores são absolutamente fora da realidade – pelo pouco que oferecem. Para que se tenha ideia, a partir de R$ 129,00 o associado passa a ter direito a receber e-mails! Por que não oferecer descontos em veículos da marca Peugeot na modalidade de R$ 199,90? Ou duas partidas em camarotes por ano? Afinal, estes estariam injetando quase R$ 2.400 anuais, é muito dinheiro.
6) Acha que deveria ter mais um pacote para torcedores Off-Rio, já que a grande maioria não frequenta Estádios?
De certo. Do jeito que está, a modalidade “sócio Off Rio” (que ainda existe) vale mais a pena. São R$ 40 mensais, dando direito a frequentar a Gávea por 30 dias e voto após 3 anos de vida associativa.
7) Em sua opinião, no que deveria ser revertido o lucro mensal do Programa analisando o Flamengo atual?
No saneamento das contas. Creio que após a renegociação com o setor público – que rendeu as tão faladas certidões negativas de débito – o próximo passo é a amortização de dívidas trabalhistas de curto prazo. Estas também são passíveis de penhoras, gerando sufoco financeiro.
8) Para você, a procura do torcedor pelo Programa é reflexo do que está acontecendo dentro, ou fora de campo?
A demanda do projeto passa longe de ser um fracasso, mas reflete a falta de benefícios. Até agora, pouco mais de 11 mil abnegados se predispuseram a contribuir sem contrapartida. É possível que o limite deste perfil de torcedores esteja próximo. Fala-se em potencial de “200 mil sócios” para o Flamengo, mas isto é uma loucura. O número de engajados é sempre muito menor, e a falta de tradição associativa no Rio de Janeiro atrapalha. Sem benefícios, mais ainda.
9) O Sócio-Torcedor é mais torcedor do que o não associado?
Não. Se eu compro pay per view, duas camisas oficiais por ano e vou aos jogos com frequência, sou tão importante para o clube quanto o sócio-torcedor.
10) Tem alguma sugestão ou ideia não implementada pelos Clubes em seus Programas de Fidelidades?
Os clubes precisam atentar para a questão das facilidades. Em 2009, mesmo com o cartão “Cidadão Rubro Negro” carregado com o valor do ingresso, flamenguistas que foram à final do Brasileirão precisaram pegar a mesma fila dos demais torcedores. Perderam horas, sendo que lhes foi oferecido conveniência. Não são poucos os casos de projetos que não aceitam cartões nem remetem boletos mediante solicitação do associado. O indíviduo quer contribuir e não consegue. Coisas assim não podem acontecer.
11) Acha que o Clube agiu certo em não trabalhar com o sistema de boleto para pagamento, aceitando somente cartão de crédito?
Acho que quanto mais formas, melhor: cartões, boleto, pay pal e até mesmo depósito direto em conta corrente. Mas não adianta oferecer pagamento via boleto se o mesmo não chegar ao endereço do associado todo mês. Ficando na dependência do download, aumenta a possibilidade de inadimplemento.
12) Para o BAP, o sistema de cartão de crédito foi criado para garantir o pagamento e não haver perigo de inadimplentes. Você teria alguma sugestão para o uso de boletos, sem correr o risco de torcedores deixarem de paga-los?
Vide resposta acima.
13) Consegue nos explicar como funciona a parceria entre o Movimento Por Um Futebol Melhor com os Clubes? Se o Movimento tem direito a algum valor sobre o Sócio-Torcedor dos Clubes e das Marcas Parceiras, ou se realmente é apenas um modo de incentivar os torcedores a se associarem.
É apenas um projeto de fomento. Trata-se do “marketing estruturante” da Ambev, que ajuda os clubes sem pagar em troca de mera exposição nas camisas.
14) Qual seu ponto de vista sobre o potencial da Marca Flamengo?
Trata-se da maior marca do Brasil – um pouco eclipsada por conta do Corinthians viver sua melhor fase histórica. Poucos se atentam para o nível de crescimento na renda das regiões mais pobres do país. Por acaso, regiões de ampla maioria rubro-negra. Isto fatalmente virá a se refletir nos números do Flamengo, especialmente quando a fase der uma melhorada. Futebol não perdoa, vive de resultados.
15) Acredita que o Flamengo até o final do ano terá o maior programa de Sócio-Torcedor do Brasil? Lembrando que o Corinthians e Internacional que beiram os 100 mil sócios somam os inadimplentes.
O Corinthians realmente não beira os 100 mil adimplentes, o Torcedômetro desmistificou a informação. Vejamos quantos serão os colorados em dia com suas mensalidades. Nos moldes atuais, o projeto do Flamengo não chegará perto deste números. Se remodelado, oferecendo descontos generosos, ingressos livres, camisas oficiais e direito a voto, sim. Acredito nos 100 mil sócios.
16) O que está achando da nova gestão do Flamengo liderada por Eduardo Bandeira de Mello, Wallim Vasconcellos e Luiz Eduardo Baptista?
Gestão excelente em termos administrativos e jurídicos, um pouco abaixo das expectativas em termos de marketing. Mas no Flamengo tudo é mais difícil, apenas o terceiro mês foi completado. É justo que se aguarde um pouco antes de críticas mais vorazes sobre o departamento de marketing.
@ElKhouri
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