Ricardo Setti fala da realidade financeira do Flamengo e elogia atual gestão.

Com um rombo de 750 milhões de reais, o Flamengo sofre os efeitos de décadas de péssima administração e total descontrole das finanças. A solução: corrigir os desmandos, como fazem as empresas responsáveis
Até recentemente, a equipe de atletas olímpicos do Flamengo não tinha patrocínio, não rendia um tostão aos cofres do clube e custava caro. Resultado: dava prejuízo de 14,5 milhões de reais por ano. O nadador Cesar Cielo, sua maior estrela, ganhava 80000 reais por mês e nem sequer treinava nas instalações da Gávea. Com razão, aliás. Foi apurado que a piscina tem uma rachadura de 25 metros, que algum funcionário tentou remendar com sacos plásticos e massa de vedação.

Tanto a falta de estrutura para treinar quanto o desperdício de atletas de primeira são produto de décadas de administração inepta, cuja conta final veio à luz na semana passada: superando as expectativas mais pessimistas, o Flamengo deve na praça 750,7 milhões de reais. O time com a maior torcida de futebol no Brasil é o campeão insuperável de dívidas.

Para chegar a esse valor, uma empresa de auditoria contratada pela nova diretoria do Flamengo – formada por empresários experientes decididos a profissionalizar a gestão – passou três meses desvendando a balbúrdia no departamento financeiro. “O mais espantoso foi constatar o total descontrole das contas”, diz o diretor financeiro, Paulo Dutra. “Faltavam nota fiscal, recibo, tudo.”

Sem registros confiáveis, os auditores tiveram de ir a cerca de quarenta fontes variadas, entre elas credores, para obter as informações necessárias. Uma amostra do descalabro: só no balanço de 2011, apareciam listados 9 milhões de reais em “adiantamentos” não especificados. A tática para encarar a escassez de dinheiro era não pagar – nem contas, nem salários, sobretudo nem impostos. Só ao Fisco o clube deve 394,8 milhões de reais, sendo 86,7 milhões acumulados na gestão da presidente anterior, a ex-nadadora Patrícia Amorim.

No mandato dela, ocorreu o bizarro sumiço de seis relógios com o escudo do clube avaliados em 45000 reais cada um. Foram doados por uma empresa para ser leiloados ou sorteados. Eles estavam, surpresa, sob a custódia de conselheiros e dirigentes (a própria presidente “guardou” dois), que depois, na maior cara de pau, devolveram os mimos.

Patrícia também tomou empréstimos bancários de 84 milhões de reais dando como garantia a receita da venda de direitos de transmissão de jogos, e assim comprometeu recursos até o fim de 2013. A manobra, conhecida como “pedalada”, permitiu contratar – e não pagar – estrelas como Vágner Love e Ronaldinho Gaúcho, ambos já fora do time. “A regra era lançar mão de dinheiro destinado a outros fins para pagar a jogadores caros, na esperança de que lá na frente aconteceria um milagre”, diz o vice-presidente de finanças, Rodrigo Tostes.

Dívidas exorbitantes e má gestão não são exclusividade do Flamengo. Levantamento de 2011 calcula que os cinco clubes mais enforcados devem, juntos, acima de 2 bilhões de reais. “A má administração do esporte no Brasil é um entrave que impede sua imprescindível profissionalização”, afirma Ana Ligia Finamor, coordenadora do curso de gestão esportiva da Fundação Getulio Vargas.

Não precisaria ser assim. O aumento na renda dos brasileiros e a proximidade da Copa das Confederações, em junho, e da Copa do Mundo, em 2014, ajudaram a elevar a receita dos dez maiores clubes a 3 bilhões de reais. Ganhar mais dinheiro, porém, não adianta. É preciso saber equilibrar a receita e a despesa. O Barcelona, por exemplo, símbolo de sucesso, fatura quase 500 milhões de euros por ano, o que minimiza confortavelmente sua imensa dívida de 300 milhões.

A nova diretoria do Flamengo, comandada pelo economista e diretor do BNDES Eduardo Bandeira de Mello, quer implantar uma administração profissional ao estilo da adotada pela agremiação catalã e outras similares. Decidiu cortar custos e funcionários (150 até o momento, dos 800 que encontrou) e renegociar dívidas. Para economizar, tomou jogadores emprestados de outros times. Faltar aos treinos agora rende punição e há regras até para comemorar gols – tirar e levantar a camisa é proibido, porque esconde os patrocínios.

Os jogadores têm metas e ganharão bônus quando elas forem alcançadas. O próprio clube receberá um bônus dos patrocinadores por bom desempenho. No papel, é promissor. Fora dele, há muito a percorrer. O Flamengo foi eliminado do campeonato carioca e ainda não se destacou na Copa do Brasil. Os torcedores flamenguistas sonham com o momento em que a administração saneada vai se traduzir no que realmente importa: gols e dinheiro.

Fonte: Coluna do Ricardo Setti

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Coluna do Flamengo

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