Além da forte pressão sobre suas contas, as dívidas também enfraquecem politicamente o Flamengo no futebol brasileiro. No ano passado, o clube dobrou o débito com a CBF e o total atingiu R$ 15,5 milhões. Isso demonstra que a ex-presidente Patrícia Amorim recorreu aos cofres da confederação no ano passado, apesar de o novo empréstimo não ter sido confirmado por nenhuma das partes.
Até o final de 2011, o total do débito rubro-negro com a CBF era de R$ 7,8 milhões. Esse montante cresce desde o início da década passada quando o clube começou a recorrer a recursos da entidade. Mas o valor praticamente dobrou em 2012, e tornou-se provavelmente a maior a dívida de um clube nacional com a confederação. Afinal, o total dos mútuos da entidade com os clubes somam cerca de R$ 50 milhões, isto é, o Flamengo responde por 30% desse total.
Esse aumento ocorreu em um ano em que Amorim se aproximou do atual presidente da CBF, José Maria Marin. Chegou a ser convidada para chefiar a delegação da seleção feminina na Olimpíada, o que recusou porque o clube vivia uma crise no momento. Ressalte-se que outras gestões rubro-negras, como a dos ex-presidentes Edmundo Santos Silva e Márcio Braga, também recorreram a cofres da confederação por ajuda financeira.
Nem o Flamengo, nem a CBF informaram quando de fato foi feito o novo empréstimo para o clube – Amorim não foi encontrada para comentar o fato. Fato é que o pagamento deveria ser feito a curto prazo. O balanço do clube carioca diz que, até o final de 2012, o débito com a entidade a longo prazo era de R$ 2,9 milhões.
Isso significa que os rubro-negros teriam de pagar mais de R$ 10 milhões para entidade só durante 2013. A nova diretoria do clube, que assumiu neste ano, limitou-se a dizer que fez um novo acordo para pagamento do débito.
“Renegociamos nossa divida com a Federação em termos de prazo e juros. Não posso dar mais detalhes”, descreveu o vice-presidente de Finanças rubro-negro, Rodrigo Tostes, por meio da assessoria. A CBF informou que não falaria sobre assuntos internos que são tratados com o clube.
Desta forma, a nova diretoria do clube já teve que contar com a boa vontade da confederação para esticar o seu prazo de débito. Isso ocorre a pouco mais de um ano da eleição para presidente da CBF, na qual Marin apoiará o candidato Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol. A confederação tratou de aumentar a ajuda aos eleitores, clubes e federações, no ano passado.
A dívida com os clubes aumentou em R$ 3,3 milhões. A entidade não especifica quanto deve cada time. Mas é fato que os times cariocas são os maiores devedores da entidade. De acordo com o balanço, o Vasco devia R$ 7,8 milhões ao final do ano passado, com uma redução de cerca de R$ 2 milhões do ano anteriores. Já o Fluminense devia R$ 9,3 milhões em 2012, valor pouco menor do que um ano anterior.
O Botafogo não discriminou em seu balanço a dívida com a confederação. Mas, em 2010, tinha recebido empréstimo de R$ 8 milhões da entidade, pouco antes da eleição dentro do Clube dos 13 em que o então presidente da confederação Ricardo Teixeira apoiava a oposição. Os botafoguenses apoiaram Kléber Leite, nome de Teixeira.
Se o débito botafoguense tiver sido integralmente quitado, só os outros três grandes do Rio deviam R$ 32,9 milhões à CBF ao final da 2012, mais da metade do total emprestado pela confederação a clubes. Clubes como o Corinthians chegaram a ter débitos com a confederação na década passada, mas já as quitaram.
E os empréstimos da CBF não têm condições excepcionais em relação ao mercado. O Fluminense informou que seu débito tem juros de 1,5% ao mês, um pouco inferior ao que é cobrado pelos bancos. Esse costuma ser o padrão de juros cobrados pela confederação, embora esta tenha se recusado as especificar as condições do dinheiro dado ao Flamengo. Fato é que o clube de maior torcida do Brasil entrará no ano da eleição da CBF devendo favores à atual gestão.
Fonte: UOL