Da lanterna para o topo da lista dos clubes que mais arrecadam com estádios no Brasil. Essa é a meta do Flamengo na negociação com o Consórcio Maracanã SA para voltar a mandar seus jogos no palco da final da Copa de 2014. Último colocado entre os 15 presentes em ranking neste tipo de receita, divulgado pelo especialista em marketing e gestão esportiva Amir Somoggi, terça-feira, o Rubro-Negro se impôs um objetivo a curto prazo: em até três anos, conseguir um valor entre R$ 60 e R$ 70 milhões anuais para decretar o retorno a sua casa habitual. O São Paulo, atual líder do ranking, gerou R$ 65,2 milhões com o Morumbi em 2012.
De acordo com a nova diretoria, o Flamengo precisa se pautar em um tripé financeiro que inclui verbas de televisão, patrocinador e receita de jogos para dar um salto de qualidade em um breve período de tempo. Internamente, sabe-se que as cotas de TV estão próximas de um limite desejado e a camisa é a segunda mais valiosa do país – ainda com as mangas em aberto -, faltando apenas uma parceria nos moldes desejados com o Maracanã. A meta traçada não está calculada apenas com bilheteria, inclui todos os fatores que envolvem o jogo de futebol, como camarotes, estacionamento, lojas, ações particulares e até mesmo o programa de sócio-torcedor.
As conversas entre o clube e o trio de empresas responsável pelo estádio seguem normalmente. Após um contato inicial do consórcio, o Fla apresentou uma contraproposta, recebeu uma tréplica e projeta ainda para esta semana uma nova proposta. A realidade, porém, é que ainda há um abismo entre os anseios de ambas as partes no momento. A proposta inicial do Maracanã SA incluía todos os 43 mil lugares atrás dos gols – os mais baratos – para os rubro-negros, possibilidade de participação no museu, criação de loja própria, vestiários temáticos, entre outros fatores que não permitiriam que o clube chegasse perto de seu objetivo, de acordo com estudos, e foi recusada prontamente. Outro fator apontado como negativo foi a não participação em nenhum dos camarotes.
Firme em sua posição, o Flamengo trata o acordo como o “contrato mais importante de sua história” e pega como parâmetros exatamente o sucesso de clubes como São Paulo, Inter e Grêmio, que faturam milhões com suas arenas. Ciente de que o que lhe foi ofertado é consideravelmente mais lucrativo do que foi ao Fluminense, por exemplo, o Rubro-Negro bate o pé de que sua comparação alcança outros níveis. Nem mesmo a possibilidade de rescisão do vínculo que, a princípio, seria de 35 anos aumenta a flexibilidade dos dirigentes, sob alegação de que a diferença entre as possibilidades ofertadas e o valor desejado ainda é muito grande.
Líder do grupo que comanda as negociações, e conta com a consultoria da Fundação Getúlio Vargas, o vice-presidente de finanças rubro-negro, Rodrigo Tostes, atendeu o GLOBOESPORTE.COM para comentar o assunto. Reforçando o objetivo traçado, ele foi firme em dizer que o clube não aceitará a desvalorização de sua marca.
– Por que um clube quer ter um estádio? Para poder ter receita. Ninguém quer ter prejuízo. Independente de onde você vai fixar sua casa, no fim da linha do trem o que se busca é uma receita que possa ser reinvestida no clube. Nossa negociação é pautada toda com essa premissa. O Flamengo precisa em dois ou três anos ter uma receita de jogo, ingressos e tudo que envolve, na ordem de R$ 60, R$ 70 milhões/ano. Traçamos essa meta. O Flamengo sabe o quanto precisa e se valoriza.
Mais do que valores exatos oferecidos, Tostes chama a atenção para o conceito desejado pelo clube. Independentemente de maneira como a cifra será alcançada, seja por ações promovidas particularmente ou por uma cota paga pelo consórcio, o mais importante é cumprir as expectativas.
– A questão é o conceito. Sabemos fazer conta. Não estou muito preocupado com a proposta que eles vão dar. Se vão oferecer 50 pulseiras, dois relógios e 85 coisas…. O que preciso é fazer uma conta que o Flamengo esteja colocando cerca de R$ 70 milhões em caixa em três anos. Nenhuma proposta recebida chega nesse valor. Não é ser flexível ou não. Tenho uma meta que preciso atingir. Fechar algo que não me permita isso é jogar por água abaixo todos os planos que temos. Quem tem pressa são eles, não eu. Eu preciso é definir onde vou jogar o segundo semestre, até para passar uma programação. Enquanto as negociações pelo Maracanã não avançam, o Flamengo segue recebendo propostas para mandar seus jogos ao redor do país. O confronto com o Coritiba, dia 6, por exemplo, deve ser confirmado em breve para Brasília. A direção acredita que o conhecimento deste leque de opções pode ser positivo até mesmo na negociação, mas não descarta mandar jogos aleatoriamente no estádio mais importante do Rio de Janeiro.
– Há uma diferença muito grande entre não fechar um contrato permanente e não jogar no Maracanã. O Flamengo pode chegar e jogar no estilo de show. Dizer que tem três jogos para jogar lá e saber a proposta para isso. Já demos uma grande resposta do que podem esperar de nós em Brasília (na estreia contra o Santos, que teve a maior renda da história do futebol brasileiro em jogos entre clubes). Só não vamos fechar um contrato permanente para sermos competitivos no mercado.
Caso as tratativas fracassem, o Fla não descarta a construção de um estádio próprio. Há um consenso, entretanto, de que um acerto pelo Maracanã seria a opção mais viável, até mesmo para que o retorno financeiro aconteça a curto prazo. Paralelamente a isso, investidores já buscaram o clube para comentar a possibilidade de construção de uma arena. Tostes, por sua vez, é objetivo ao analisar a possibilidade.
– O plano B, que seria ter um estádio, precisaria de tempo para construir, terreno, localização, licença para construir isso…. Além de ter que colocar alguém para construir que vai te cobrar esse investimento via receita. Então, qual o melhor dos mundos? Ter o Maracanã como seu estádio e ter a receita como se tivesse um estádio.
As cartas estão na mesa. Resta saber se o Flamengo conseguirá chegar ao topo do ranking com elas.
Fonte: GE