Ainda impedidos de mandarem jogos em casa pela falta do Maracanã e do Engenhão, os clubes do Rio (exceção do Vasco) seguem em tour por estádios do Brasil. No fim de semana foi a vez do Mané Garrincha (Brasília) e da Arena Pernambuco (Recife). Com os dados financeiros em mãos, não quer calar a pergunta do título: A quem interessam os jogos fora do Rio de Janeiro?
Às Federações
Mesmo em outros estados, cabe à Federação de Futebol do Rio de Janeiro autorizar o acontecimento de tais partidas. E cobrar a taxa de 10% sobre a receita bruta exatamente como faria em terras fluminenses. Sendo assim, Flamengo 2 x 2 Coritiba (bilheteria: R$ 2.705.050,00) e Botafogo 1 x 0 Fluminense (R$ 368.550,00) renderam à FFERJ exatos R$ 307.360,00. De lambuja, a Federação Pernambucana abocanhou R$ 18.427,50 do clássico carioca, enquanto a Federação Brasiliense recebeu R$ 135.252,50 do jogo do Flamengo. Em ambos os casos, o equivalente a 5%.
Aos Consórcios/Administradores
Desfilar pelas novíssimas arenas da Copa tem um custo – e não é baixo. A questão é saber se os recursos se direcionam a consórcios privados ou a governos locais que centralizem a administração. No caso de Brasília, foi o GDF (Governo do Distrito Federal) quem angariou o equivalente a 13% da renda de Fla x Coxa – exatos R$ 351.656,50. No Recife, a maior distorção: em possível negociação de valor pré-fixado, o Consórcio Arena Pernambuco ficou com R$ 270.000,00 – nada menos que 73% do total! O que explica o prejuízo de R$ 41.465,24 arcado pelo Botafogo, mandante do clássico.
Aos empresários
Eis o verificado naquele Santos x Flamengo do Mané Garrincha, pela 1ª rodada do Brasileirão. Pensando fazer um bom negócio, o Peixe vendeu o mando de campo a uma empresa por R$ 800 mil. Mas a inacreditável receita de R$ 6.948.710,00 – a maior da história de clubes no país – cristalizou o mau negócio do alvinegro. Descontando-se as despesas, o jogo proporcionou superávit de R$ 4.321.386,59 (sobre o qual se deduzem os tais R$ 800 mil). Ao final, lucro de R$ 3,5 milhões para o empresariado. E um Flamengo de mãos abanando, mesmo responsável por quase todos os 63 mil pagantes.
Aos próprios clubes
Nem só de prejuízos vivem clubes cujas torcidas se espalham pelo território nacional. Assim, o Flamengo levou para casa R$ 1.163.981,59 na partida contra o Coritiba, mesmo após penhoras que totalizaram R$ 206.300,96. No próximo domingo, Vasco x Flamengo se enfrentarão em Brasília, fazendo o mesmo no returno. As diretorias firmaram acordo e dividirão lucros nos dois clássicos. Flamengo x Botafogo também será jogado na capital federal, em benefício rubro-negro.
A análise do exposto pode ser feita sob duas óticas: ou “todo mundo sai ganhando”, ou “existe gente demais se beneficiando em detrimento dos clubes”. Seja como for, o Fluminense anunciou hoje seu acordo com o consórcio Maracanã. Contrato que reserva ao tricolor apenas 56% dos assentos, justo os de menor valor (atrás dos gols). Cadeiras VIP, camarotes, bares, restaurantes e estacionamento irão para o consórcio. A contrapartida seria um aporte na ordem de R$ 6 milhões a R$ 7 milhões para obras do centro de treinamento tricolor.
Corretamente, o Flamengo considera ruins as condições oferecidas e aceitas pelo Fluminense. Até porque o novo Maracanã, na condição de arena, embolsará todo o lucro em shows e eventos. Como o público do showbizz é de outra natureza, não cabe que aos clubes se beneficiarem. Diferente das receitas oriundas do consumo dos torcedores. Em partidas de futebol o apelo vem unicamente deles. E o adiantamento não soa vantajoso quando consideramos o prazo de 35 anos da parceria. Tendo em mãos as condições do Fluminense, pode ser que o Flamengo consiga firmar um acordo melhor. A outra opção é continuar a mambembe trajetória Brasil afora, auferindo lucros econômicos e prejuízos esportivos.
Fonte: Blog Teoria dos Jogos