O “Maior do Mundo” voltou. Hoje ocupando não mais que a 23ª posição do ranking dos maiores do planeta, o estádio Jornalista Mário Filho vem sendo alvo de debates e polêmicas. Primeiro as manifestações que questionavam seu orçamento bilionário. Recentemente, o debate acerca do melhor modelo de exploração – já que a “arena” privatizada depende de acordos com a concessionária. Se é cedo para conclusões definitivas, já é possível delinearmos cenários embrionários. Afinal de contas, qual seria o melhor modelo de exploração do Maracanã?
AS POSSIBILIDADES
1) Assentos Fixos*: Acordo feito com o Fluminense. Repassa ao tricolor receitas das 43 mil cadeiras atrás dos gols. Todas as despesas são arcadas pelo Consórcio. Assentos centrais, VIPs, camarotes, bares e estacionamento pertencem à iniciativa privada.
2) Compartilhamento*: Acordo feito com o Flamengo. Contempla a divisão exata do arrecadado com todas as propriedades. Não foi divulgado se o compartilhamento se refere tão somente a receitas ou aos lucros – incluindo divisão de despesas. Ambos os cenários serão considerados.
*Denominações dadas pelo Blog, sem nenhum caráter oficial ou técnico.
SOB A ÓTICA DOS CLUBES
1. Assentos Fixos (Fluminense)
Domingo o Maracanã apresentou visual diferente do convencional: a maioria dos torcedores se concentrou nas cadeiras atrás dos gols. Mais baratas, eram justamente aquelas cujas receitas pertenciam ao Fluminense.
Receita verificada: R$ 1.554.510,00 (34.634 pagantes)
Lucro do Fluminense: R$ 999.449,52
Fontes: Globoesporte.com e boletins financeiros da CBF
A lotação das cadeiras de trás dos gols aproximou os resultados do teto de ganhos do Tricolor – a não ser que majore preços. Em tempos de bilheterias multimilionárias, os ganhos proporcionados por este modelo são bastante limitados. Em contrapartida, para jogos de pouco público o modelo é excelente. Basta projetar os resultados quando 5 mil pagantes dispendem em média R$ 30:
Receita projetada: R$ 150 mil
Lucro do Fluminense: R$ 150 mil (se todos acomodados atrás dos gols)
Em outros tempos a audiência configuraria forte prejuízo. Com Assentos Fixos o Fluminense se defende com eficiência, mas deixa de ganhar (muito) em jogos de maior apelo.
2. Compartilhamento (Flamengo)
Para projetar os ganhos máximos do modelo, uma base seriam os preços de Flamengo x Botafogo, a ser jogado no próximo fim de semana. Hipoteticamente, se os ingressos forem vendidos ao preço da meia entrada, teremos R$ 6 milhões** de bilheteria. Com 1/3 de entradas normais (compatível com o que se verifica no Rio de Janeiro), serão R$ 8 milhões – arrecadação daquele Brasil 2 x 2 Inglaterra, há dois meses.
Sendo assim:
Receita projetada: Entre R$ 6 milhões e R$ 8 milhões
Despesa projetada: R$ 1 milhão
Compartilhamento de Receitas:Entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões
Compartilhamento de Lucros: Entre R$ 2,5 milhões e R$ 3,5 milhões
Dependendo do modelo adotado, pode-se ganhar de 2,5 a 4 vezes mais que o de Assentos Fixos – embora aqui se presuma lotação superior à média. Com base na propensão ao consumo do torcedor carioca, é possível que nem decisões de título estadual tenham demanda para cadeiras a R$ 350.
Sendo assim, retoma-se o exemplo dos 5 mil pagantes:
Receita projetada: R$ 150 mil (Ticket médio de R$ 30)
Despesa projetada: R$ 150 mil
Compartilhamento de Receitas: R$ 75 mil
Compartilhamento de Lucros:ZERO (ou negativo para públicos inferiores)
SOB A ÓTICA DO CONSÓRCIO
Após Fluminense x Vasco, dos R$ 1.554.510,00 o Consórcio Maracanã ficou com R$ 291.484,33**. Compartilhasse Receitas, teria direito a R$ 777.255,00, abatendo despesas (R$ 216.754,72) e angariando R$ 560.500,28. Compartilhando Lucros, seriam R$ 668.877,64. Quanto menos chamativo o evento, menor o número de tricolores predispostos a arcarem com os lugares pertencentes ao Consórcio.
CONCLUSÃO:
Melhor modelo para os clubes em partidas vazias: ASSENTOS FIXOS
Melhor modelo para os clubes em partidas cheias: COMPARTILHAMENTO DE RECEITAS
Melhor modelo para o Consórcio em partidas vazias: COMPARTILHAMENTO DE LUCROS
Melhor modelo para o Consórcio em partidas cheias: ASSENTOS FIXOS
Partidas com público intermediário trarão benefícios alternados de acordo com a concentração do público nos diferentes setores do estádio. Cabe aos clubes buscarem a melhor opção traçando o perfil de comparecimento histórico de suas torcidas. Como em todo processo de negociação, os interesses do Consórcio serão opostos, de modo que melhores resultados serão atribuídos àqueles com maior poder de barganha.
** Todas as projeções desconsideram a arrecadação do Consórcio com camarotes (vendidos para empresas), placas publicitárias, bares e estacionamento – receitas que pendem a favor do modelo de Compartilhamento. As conclusões, longe de qualquer verdade absoluta, são meras opiniões particulares do Blog Teoria dos Jogos.
Fonte: Blog Teoria dos Jogos