A conturbada relação entre Flamengo e o Consórcio do Maracanã.

Compartilhe com os amigos
Eremildo é um idiota, não torce para nenhum clube, mas adora futebol. Eremildo maldiz o dia perdido nas brumas do século XIX em que um pioneiro dirigente de um clube inglês ofereceu um barril de cerveja para convencer um jogador de futebol a trocar um time por outro. Para Eremildo foi exatamente ali que acabou o amor e o futebol virou negócio. Pois o que vivemos hoje no futebol é apenas o reflexo do tresloucado gesto do irresponsável cartola britânico.
É por causa daquele maldito barril de cerveja que, em vez de estar falando do nosso importante jogo contra a gambazada arrivista da ponta feia da Dutra, Eremildo está aqui a incomodar vocês em pleno sábado com assunto muito mais sério e transcendental. A conturbada relação entre o Flamengo e o consórcio que administra o Maracanã, que há dois meses mantém uma DR pública e ininterrupta que fatalmente levará a um rompimento traumático entre as partes.
O Flamengo, para orgulho de sua torcida e benefício de agremiações menos corajosas, recusa ruidosamente a submissão aos termos impostos pelos concessionários liderados pela poderosa empreiteira Odebrecht. Provando e comprovando a sua infinita versatilidade os concessionários foram os responsáveis pelas obras e, surpreendentemente, também pela confecção do edital da licitação que acabariam vencendo.
Eremildo, mesmo sendo um idiota, sabe que o futebol é uma caixinha de surpresas, mas suspeita que a licitação deveria ter sido anulada. Pois com o recuo do governo do Rio sobre a demolição do estádio de atletismo Célio de Barros e do parque aquático Júlio Delamare houve uma clara mudança no objeto da licitação.
Ainda assim Eremildo acredita que não falte idoneidade às partes, por isso não compreende os motivos para que os concessionários não revelem aos seus fornecedores de conteúdo, isto é, os clubes que jogam no Maracanã, a natureza dos seus custos, encerrados em uma caixa preta desde a reabertura do estádio.
Eremildo, crédulo na lisura dos processos licitatórios brasileiros, entende que para administrar um bem público a transparência seja fundamental. E espera que o estádio volte o quanto antes às mãos do governo do estado para que se encontre uma solução mais sábia para o impasse. Ou, ainda que não seja sábia, uma solução que ao menos encontre alternativas à carne dos clubes para manter funcionando a fábrica de salsichas que se instalou na Rua Eurico Rebello.
Eremildo não é amigo de nenhum empreiteiro, mas é capaz de se colocar no lugar do governador e perceber que o estádio mais famoso do mundo, reformado à preços do Palácio de Versailles, de volta às mãos do chefe do executivo de um governo que ultimamente não tem conseguido os melhores índices de aprovação popular não é exatamente uma batata quente. Ainda menos em um ano eleitoral.
Eremildo tem certeza de que o Maracanã é o maior do mundo. E suspeita que esse título foi conquistado não somente com as vitórias do futebol auriverde, mas também com a presença assídua do público carioca nas elegantes arquibancadas de concreto projetadas por Miguel Feldman, Waldir Ramos, Raphael Galvão, Oscar Valdetaro, Orlando Azevedo, Pedro Paulo Bernardes Bastos e Antônio Dias Carneiro nos anos 50.
Se não fosse um idiota Eremildo, até por razões estatísticas, certamente torceria para o Flamengo. Mas mesmo sem estar fechado com o certo Eremildo reconhece que o mito do Maior do Mundo, sem qualquer desdouro para gerações de craques que fizeram do Brasil o país do futebol, se deve em grande parte às hordas de pretos, pobres e desdentados da torcida do Flamengo. Que historicamente são os responsáveis por 70% da ocupação do Maracanã.
Se ao final da Copa de 1950 o Flamengo já não fosse o mais Querido do Brasil e o Maracanã teria sido nosso primeiro elefante branco esportivo. Foi o Flamengo e sua plural torcida que viabilizaram a construção e a manutenção do mito nos últimos 63 anos. Por isso Eremildo acredita que nada seja mais justo do que reconhecer o direito do Flamengo em não ser tungado a cada vez que se apresenta no estádio.
Eremildo não quer que o Flamengo, ou nenhum outro clube, mesmo que sejam estes os maiores responsáveis pela existência do Maracanã, se beneficiem do barata voa que se instalou ao redor da concessão do estádio. Mas espera que ao fim dessa briga os concessionários sejam, no máximo, sócios e nunca patrões do clubes. O que Eremildo não consegue entender é porque os clubes cariocas ainda não se juntaram ao Flamengo nessa briga.
Fonte: Urublog

E aí Nação, o que vocês acharam? Comentem! Siga-nos também no  

Compartilhe com os amigos

Veja também