Arthur Muhlenberg cita deuses gregos ao falar de Flamengo.

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Imagina que você vive na Grécia antiga, há uns 2500 anos, e por algum motivo não pode dar uma pesquisada no Google antes de tomar alguma decisão importante. Para aumentar suas possibilidades de acertar o bolão da 15ª rodada do Brasileiro você provavelmente iria viajar até o pé do monte Parnaso pra consultar as sibilas do Templo de Apolo em Delfos. Que era conhecido pelos seus contemporâneos como omphalos, o centro do universo.
Depois de pagar o ingresso para entrar no templo, sempre bombado, e sacrificar uma cabra ou uma ovelha a Apolo, você faria sua pergunta diretamente à sacerdotisa. Que era sempre uma camponesa virgem e gatinha escolhida pela sua pureza e castidade para ser o canal do poder profético de Apolo.
Você chega na frente da sibila e, humildemente, manda a sua pergunta: – E aí, novinha, como vai ser o Mengão contra a bambizada, no domingo? A profetisa escuta a sua pergunta com uma expressão neutra e desce para o subsolo do tempo. Onde por uma fenda nas rochas emanam gases alucinógenos (provavelmente etileno, produzido pelo encontro das águas termais da fonte subterrânea Castália com as pedras calcárias betuminosas do subsolo) que a colocam em transe.
Depois de alguns minutos ela volta chapadona para dar uma resposta dúbia e enigmática à sua questão. Como era comum nas consultas ao oráculo, é costume entre as pitonisas responder aos mais variados questionamentos com algum dos provérbios atribuídos aos 7 Sábios da Grécia. Com você não foi diferente e ela mandou a mais clássica das máximas atribuídas a Tales de Mileto, Periandro de Corinto, Pítaco de Mitilene, Bias de Priene, Cleóbulo de Lindos, Sólon de Atenas e Quílon de Esparta: “Conhece-te a ti mesmo”. E fim da consulta.
Você sai do templo tão desorientado quanto entrou, pensando no preju de ter ido até lá só pra aquilo. Mas na saída percebe inscrita no pátio a frase completa que a sibila lhe disse: “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. E aquilo te faz pensar e reconhecer como válido o investimento feito na viagem, no ingresso e na ovelha.
Porque você é um grego antigo, mas esclarecido. Sabe que é um grandessíssimo idiota, que é humano, ridículo, limitado e que só usa dez por cento de sua cabeça animal. Ou seja, você admite que não se conhece. Mas conhece muito bem o Flamengo. E essa percepção era o que faltava para você poder fazer seu prognóstico pro jogo do Mengão tranquilo e calmo.
Na descida do Phaedriades, em direção ao porto de Kirrha, você começa a organizar os dados que dispõe para a tomada de decisão. Você até que está confiante, sabe que o Mengão vence os grandes aos domingos para entregar tudo aos miúdos nos dias de semana. E então se lembra que nesse campeonato o Flamengo ressuscitou defuntos como se fosse um ungido (khristós em grego) passeando pela Cisjordânia. E que os desmortos Náutico, Ponte Preta e Bahia hoje zumbizam pela Série A graças a esse duvidoso dom do piedoso Flamengo.
Mas você também é um homem justo e não um corneteiro safado e tem consciência que o Mengão, quando não estava perdendo de bobeira para potências futebolísticas do porte de Náutico, Ponte Preta e Bahia, fez jogos bastante razoáveis no Brasileiro. E que o time, ainda que naquela base de dar dois passos pra trás pra conseguir dar um pra frente, tem evoluído consistentemente.
Você se pergunta se é tão difícil assim para o Flamengo, e contra um adversário tão sem vergonha, ganhar 3 pontos e finalmente sair daquele atoleiro no topo da segunda página da tabela. E você percebe que não, não é nada difícil que o Flamengo te dê essa alegria e pare de dividir com os pobres o que tem roubado dos ricos. Ainda mais porque todo o mundo helênico, inclusive Palas Atena, a divindade da Justiça, sabe que a São Paula só é pobre em caráter e que o látego excruciante da punição divina tem vergastado o lombo dos cervídeos com admirável severidade por que elas bem o merecem.
Ora, dessa fraqueza espiritual de tão débil adversário o Flamengo tem por dever tirar proveito. Já que não há qualquer motivo para que, após 14 rodadas tomando sacode de todo mundo, logo no jogo contra nós eles resolvam jogar que nem homem. Tudo indica que o universo conspira a favor do Mengão. E que vamos dar outro sapeca nelas.
Satisfeito pelo exercício de autoconsciência proporcionado pela visita ao oráculo você ruma feliz para o seu lar. A sabedoria da Escola Jônica o havia ensinado que “todas as coisas estão cheias de deuses”. Graças a eles você agora está em paz consigo mesmo. Seguro de que poderá cravar a vitória do Mengão sem medo de errar no bolão. Vai pra cima delas, Brocador!
Fonte: Urublog

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