O gol de Elias contra o Cruzeiro no segundo tempo coroou um jogo mortal demais (melhor por isso). Foi uma partida sem grandes ações, perdida entre o brilho apagado de um Cruzeiro em “retranca zen” e o passo trôpego de um Flamengo limitado e arrastado por uma arquibancada viva. O gol de Elias aos quarenta e três, um gol de febre, iluminou o que era, até ali, uma planície. Leve ou não o Flamengo a Copa do Brasil (improvável, não impossível), essa partida da campanha rubro-negra seguirá mortal, “elegíaca, grave e cerimoniosa”.
Quando eu trabalhava no G1, chamava a nossa atenção a frequência com que surgia (e era destacada) a frase “Pensei que ia morrer” em histórias de superação. “Pensei que ia morrer” forma, até hoje, quase uma editoria independente. Na noite deste Maracanã retomado por homens em pé, imagino que muitos tenham pensado que iam morrer – junto com o jogo.
(O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro trata dessas experiências de quase-morte a partir dos mundos indígenas. O quase-morrer é a experiência per se do sobrenatural, o quase-desembarque do outro mundo entre nós. O “quase morri” forma a carne das histórias que merecem ser contadas.)
******
Botafogo 1×0 Flamengo, Carioca de 1997: Botafogo com time reserva. Atlético Paranaense 2×0 Palmeiras, Brasileiro de 1996: a Baixada em fúria. Paraná Clube 0×1 Portuguesa, Brasileiro de 1997: um jogo estranho, desfechado por Alex Alves. Irlanda 1×0 Itália, Copa de 1994: o nada incrível. Carrego jogos mortais, “elegíacos, graves e cerimoniosos”. Jogos de momento, de um presente ”atravessado pelos raios da eternidade“.
Convido vocês a lembrarem dos seus jogos mortais. Foquem nos que não deram em nada.
Fonte: Blog Chuteira Preta