DIPLOMA
1 – Nenhum lugar – do passado, do presente ou que venha a ser inventado – pode se chamar Maracanã sem ter aberto suas portas para um Fla-Flu. O futebol tem suas instituições, seus pilares. São patrimônios. Estão para o torcedor assim como prédios históricos, tombados, estão para a memória. O Maracanã, independentemente das transformações e do tratamento, é um deles. O Fla-Flu, independentemente das escalações e do momento, também é.
2 – Esses são os jogos necessários. Currículo obrigatório na formação de interessados. Um ponto turístico do futebol do Brasil, por assim dizer. Este Maracanã, novo, já tinha vivido uma jornada memorável no dia em que a Seleção Brasileira venceu os campeões do mundo. Esperava pelo Fla-Flu, seu certificado de conclusão de curso.
3 – A ocasião é prejudicada por quem deveria proporcionar a melhor experiência possível. Um Fla-Flu, destino de multidões, não merece espaços desocupados no mítico estádio. Não deveríamos conhecer as cores das cadeiras. O público presente, fração do que já se viu, é sintoma indiscutível de incompetência. Assim como o gramado com aparência cansada, apesar da juventude.
4 – Bom primeiro tempo. Merecida virada do Flamengo, melhor durante todo o tempo. O choque pelo gol de Rafael Sóbis – resultado de falha de Wallace – poderia ter desequilibrado o Rubronegro, que já jogava o suficiente para estar na frente quando se viu atrás. Mas Elias (que cansou de fazer gols nos Corinthians x São Paulo, o equivalente paulista ao Fla-Flu) e Hernane corrigiram o cenário. Existe explicação para um gol de letra de Hernanes? Um gesto sublime de quem menos se espera. Não há surpresas num jogo imprevisível.
5 – Clara diferença entre os padrões de ataque de cada time. O Flamengo ameaça com vários jogadores. Ocupação coletiva de espaços. O Fluminense isola Fred, como se estivesse em desvantagem numérica. A bola tem mais companhia na área de Diego Cavalieri.
6 – Na altura em que o jogo entra em sua fase mais franca, com os dois times em busca de um gol praticamente decisivo, bate a nostalgia da vastidão do velho Maracanã. O desaparecimento dos amplos corredores laterais extinguiu aquelas esticadas longas, em que a câmera focalizava apenas a bola e o jogador só aparecia mais tarde. As dimensões atuais do gramado, claro, são uma exigência da Fifa.
7 – Hernane dobra a vantagem. Jogada confusa em que Fred, a pretexto de ajudar a defesa, proporciona uma chance extra ao ataque adversário. Um toque de bico de chuteira de Hernane (mais característico do que a letra do primeiro tempo, diriam os maldosos) furta o gol que André Santos pretendia marcar. A câmera mostra um setor em que a torcida do Flamengo, em festa, preenche seu espaço e nos permite visualizar um estádio com público de Fla-Flu. Milagre da televisão.
8 – Sóbis diminui no último lance, em que a bola brinca de fliperama com Felipe e a trave. Não há tempo para mais emoção no primeiro Fla-Flu do novo Maracanã. Mas há espaço para emoção nas cadeiras do templo, que não podem ficar vazias num domingo como este.
Fonte: Blog do André Kfouri