O vice-presidente de futebol do Flamengo, Wallim Vasconcellos, deixou o Maracanã após a derrota para o Atlético Paranaense e soube pelo rádio que Mano Menezes pedira demissão. O presidente Eduardo Bandeira de Mello também. Os dirigentes rubro-negros não costumam ir ao vestiário após as partidas, independentemente dos resultados.
A postura é inspirada num conselho de Txiki Begiristain. O ex-jogador basco, ex-dirigente do Barcelona e atual diretor de futebol do Manchester City para onde foi levado por Ferran Soriano; disse a cartolas flamenguistas que o ambiente é dos jogadores. E que se fossem até os camarins após vitórias, deveriam voltar sempre, mesmo depois das piores derrotas.
Eles também não frequentam o Centro de Treinamentos, onde o ex-artilheiro Nunes foi barrado recentemente. O futebol fica nas mãos de Paulo Pelaipe, executivo contratado para tocar o departamento. Wallim, inclusive, nem sempre aparece no CT. Pelaipe foi o único com quem Mano falou que estava se demitindo. Os demais dirigentes não receberam sequer um telefonema.
Nos minutos seguintes à surpreendente demissão de Mano, os cartolas se comunicavam por e-mail, atônitos, tentando compreender o que se passava. Um questionamento que deverá crescer envolve a autonomia dada a Pelaipe, alvo da ira da torcida nos 4 a 2 impostos pelo Furacão. A saída do técnico foi mesmo estranhíssima, por motivos como os que seguem abaixo:
1) Mano sabia das dificuldades que enfrentaria e os salários estão em dia.
2) Alegar que não conseguiu “passar para esse grupo” o que pensa sobre futebol é pouco para justificar a demissão.
3) Foi a primeira derrota do time no Rio de Janeiro.
4) A fragilidade do elenco é notória e foi reconhecida pelo próprio técnico em entrevistas.
5) O time não está na zona de rebaixamento.
6) O próximo adversário é o lanterna, Náutico, ou seja, em tese a chance de recuperação na rodada seguinte não poderia ser maior.
7) O Flamengo tem um jogo importantíssimo na quarta-feira, contra o Botafogo, pela Copa do Brasil.
8) Os rubro-negros venceram o Santos e empataram com a Ponte Preta, fora de casa, mesmo atuando bom tempo com menos um jogador, ou seja, o retrospecto recente era aceitável.
9) Em Campinas, Mano comemorou uma “pequena evolução” do Flamengo,
10) A atuação do Flamengo foi excelente por cerca de 20 minutos, talvez a melhor com ele.
11) Se o time foi capaz de atuar bem no primeiro quarto da peleja, é evidente que, com Mano, em jogos futuros, poderia render mais.
12) No dia 3 de setembro, Mano escreveu no twitter: “Estamos nos primeiros passos de uma reestruturação e sabemos que a parte inicial é a mais complicada”.
13) Na véspera da derrota para o Atlético Paranaense, Mano disse sobre a equipe que comandava: “Temos condição de vencer todos”.
Diante dessas nítidas demonstrações de confiança na evolução do time e sem explicações e motivos minimamente convincentes para a decisão tomada por Mano, não é absurdo algum imaginar que o técnico observe perspectivas melhores no mercado. E é o que muita gente começou a fazer imediatamente após o anúncio do treinador, que fazia um ótimo trabalho nas atuais circunstâncias.
O pronunciamento após a derrota e as frases no twitter pouco depois em nada reduzem a sensação de que ele pulou fora sem motivos que sustentem tal decisão. O ex-técnico do Grêmio, do Corinthians, da Seleção e do Flamengo colocou sua própria credibilidade na berlinda. Até que apresente argumentos melhores para justificar o abandono do barco. Se é que os tem.
PS: os dirigentes ainda estão sem rumo. Mas o blog não crê numa volta de Joel Santana, como alguns torcedores imaginam, e se tivesse que apostar em um nome, a priori, o mais provável seria o de Abel Braga, vice-campeão da Copa do Brasil em 2004 com o Flamengo. O obstáculo? Salários…
Fonte: Blog do Mauro Cezar Pereira