Nada tenho, a priori, contra a teimosia. Ela é, muitas vezes, útil e necessária, ainda que com o nome de “persistência”. Na condição de capricorniano e descendente direto de uma espanhola nascida em Astúrias (perguntem aos mouros o que é encarar um asturiano), conseguiu muita coisa na vida na base da teimosia. Por experiência própria, admito, contudo, que em algumas situações a teimosia é burro por ser contraproducente. E é preciso muita coragem para parar de teimar.
O nariz de cera é para falar sobre duas situações no futebol, que chamaram a atenção neste fim de semana mas que não são tão novidade assim. A primeira é Rogério Ceni cobrando pênaltis. Só no Brasileiro, foi o quarto perdido. Se outro cobrador tivesse convertido contra Criciúma, Portuguesa (dois adversários diretos do São Paulo na tabela da degola) e Corinthians, o São Paulo poderia ter mais quatro pontos (que certamente farão alguma diferença na última rodada) tirando o décimo lugar do Flamengo.
Mais da metade do Morumbi imaginava que Ceni perderia mais um pênalti. Insistir nisso é acrescentar alguns pontos de uma carreira que se aproxima do fim e seria intocável e irrepreensível se não fossem estes últimos percalços provocados pela teimosia. Para Rogério e Muricy refletirem.
Por falar em Flamengo, ressaltando de início que o trabalho de Jayme de Almeida é muito superior às melhores expectativas, há duas situações claras como água, que só não serão alteradas se ficar confirmada minha impressão inicia de teimosia.
A primeira: gostaria que os setoristas do Flamengo me respondessem porque Rafinha não joga. Depois daquele jogo fantástico contra o Vasco, na Taça Guanabara, o jovem passou da condição de “novo Neymar”, o que evidentemente era um delírio tipicamente rubro-negro, a uma inexplicável condição de última opção para entrar aos 42 minutos do segundo tempo. E nos raríssimos momentos em que entra em campo, consegue bagunçar inteiramente a marcação adversária. Não tenho qualquer dúvida que Rafinha, no mínimo, tem que ser o plano para o dia em que, como contra o Botafogo, Paulinho esteja “inspirado” e não consiga acerta uma opção de jogada sequer.
A segunda: André Santos e Carlos Eduardo não têm condição física para jogar 90 minutos. É fato. Contra Vasco e Botafogo, só para citar exemplos mais recentes, o Flamengo foi de razoável para bastante bom no primeiro tempo, e foi inteiramente atropelado nos primeiros 25 minutos do segundo tempo. Por um único motivo: jogou com 9 em campo, André e Carlos se arrastam. Contra o Botafogo qualquer criança perceberia: o Alvinegro virou o jogo e poderia ter feito mais, até o momento em que os dois supracitados saíram para a entrada de Luiz Antônio e Bruninho.
Aí o Flamengo voltou ao jogo, equilibrou e, com uma pitadinha de sorte, poderia ter empatado ou virado em chances concretíssimas com Elias e Bruninho. Aí algum apressado vai dizer: “Ah, mas André Santos empatou o jogo contra a Ponte aos 45 do segundo tempo”. Claro que empatou, estava no bico da área adversária porque não tinha pernas para ficar no meio. Aí, técnica ele tem, dominou, abriu para o meio e bateu.
André Santos e Carlos Eduardo, especialmente o primeiro, encaixaram-se muito bem no meio-campo rubro-negro enquanto têm pernas, o primeiro tempo do time nos jogos têm sido muito bom com Jayme. Mas, se eles não forem substituídos no intervalo – por qualquer um que consiga acompanhar um ritmo de jogo intenso – o Flamengo continuará a perder pontos. Por teimosia.
Fonte: Blog Entre as Canetas