Vinte e Dois de Outubro de Dois Mil e Treze. Cinco horas e meia respirando o Clube de Regatas do Flamengo como ele é. A reunião do Conselho Deliberativo, que tive a ousadia de acompanhar, me fez reler Camões: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. O que vi, e vivi, foi a vontade de mudança por parte de alguns, e o desespero pelos velhos fins que não justificam os meios, por outros. E outra. Acontece que não se muda trinta anos de gestões políticas ultrapassadas, em apenas, dez meses. E aí que a diretoria atual com desejo de transformação acertou, errando. Foi histórico ver a ex(ufa)presidente, tentando explicar o inexplicável, e ainda declarando: “Quem tem que explicar é o Flamengo. O Flamengo é que me deve explicações”. A política tem mesmo sua fonte na perversidade, e não na grandeza do espírito humano. Eu, você e a torcida do Flamengo sabemos que se teve – ou tem – irregularidades…alguém tem que pagar essa conta. Durante décadas as dívidas se acumularam, os balanços não fecharam, o dinheiro mais saiu do que entrou, as negociatas aconteceram e os sócios do Clube e sua imensa torcida “assumiram” os títulos que não vieram, as dívidas exorbitantes, e um Flamengo que nasceu para Vencer, Vencer e Vencer, sendo derrotado e goleado pela incompetência daqueles que o presidiram. As vontades mudaram. Ou estão mudando. Desejar encontrar aqueles que ROUBARAM o Flamengo, e desejar através de mecanismos democráticos e SEM a intimidação dos covardes, é mérito dos que hoje estão a frente do clube. Mas, deveriam acrescentar a esse desejo, uma dose cavalar de competência que tanto inflam os seus respectivos egos “notáveis”. Estou querendo dizer, e digo, que a Comissão de Inquérito ERROU, afinal, se a auditoria identificou valores – e que valores! – não comprovados pela antiga gestão, NÃO poderiam expor os possíveis responsáveis SEM provas definitivas e concretas. Nesse sentido, a fala da ex-presidente tem, pasmem vocês, alguma razão.
Vivi Mariano conta os bastidores da isenção à Patrícia Amorim.
Durante a reunião, ouvi todos os lados. Diante de um Flamengo dividido, faço o exercício diário de me assumir FLAMENGO ACIMA DE TUDO. E deles. Fiz isso antes e durante a última eleição, e reforcei naquela noite de intensa votação. Conversei com Conselheiros octogenários, com dirigentes e ex-dirigentes, com os que estavam em dúvidas, com os que estavam assustados, com os que estavam revoltados, com os que cegamente me diziam “eu não voto contra a Patrícia”, e com aqueles que estavam certos de que “ela não escaparia”. Diante deles, uma certeza: são todos MUITO rubro-negros. Para o bem, ou para o mal, AMAM o Flamengo incondicionalmente. Fato é, que tratando-se do Clube de Regatas do Flamengo, nem todas as formas de amor valem a pena, e por isso o desejo de mudança. O discurso de Patrícia Amorim e seus seguidores, NÃO me comoveu. Ela chorou, ela gritou, ameaçou ir embora, voltou, comemorou o resultado, e ainda assim NÃO me sensibilizou. Talvez toda aquela “emoção” fizesse algum sentido nos cenários políticos do qual ela foi também impedida de retornar. Ali, não. Em seu discurso, afirmou que vira uma LEOA para defender sua honra. Dos dirigentes atuais, esperamos que preparem a jaula. Mas, que atraiam a felina com um suculento pedaço de carne, concreto, real, juridicamente comprovado, pois “pelo que fizeram, se hão um dia de condenar muitos, pelo que não fizeram, todos.” Sem as benditas provas, ficou MUITO feio acusá-la, expô-la a um processo dentro do clube. Logo, também não me comoveu o discurso vazio de provas concretas dos que acusavam. E aí, a frustração de ver uma chance importante de se encontrar os responsáveis por contas-que-não-fecham, escapar – amadoramente (olha aí) – diante dos olhos incrédulos de alguns, e brilhantes, de outros. Saí de lá com um desejo profundo de que Camões permaneça. De que as novas vontades continuem trabalhando arduamente por mudanças e transparência. De que não hajam seguranças-armários formando barreiras dividindo rubro-negros dentro da sua própria casa. No dia seguinte, nas arquibancadas do Maracanã, vi rubro-negros sem divisão de desejos, de grupos, de objetivos, de vontades. Vi neles a essência da paixão, esquecida pela política do clube. Não sei se essa paixão é mais funda ou mais dilacerada, ou mais santa, só sei que é diferente.
PS: E enquanto você lia isso, concordando ou achando tudo um horror, mais um gol do Brocador.
Fonte: Magia Rubro-Negra
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