Na última semana, esse assunto veio numa crescente de emoção, e consequentemente, de irracionalidade (temperada com boas doses de demagogia rasteira e oportunista, claro) assustadora. Hoje leio que o Procon-RJ encaminhou um funcionário do Flamengo à delegacia, ameaçando autuar o clube por “crime contra a economia popular”.
Sustenta o órgão, que os preços praticados pelo clube para a decisão da Copa do Brasil, são abusivos, e ferem os direitos dos consumidores. E mais. O Procon informa que toda a relação de consumo dentro do clube também será verificada, como os preços dos produtos na loja do clube, e até o valor que é cobrado de não sócios para entrar nas dependências do clube !
Mas onde será que estamos ? Desenterraram os fiscais do Sarney ? Vamos voltar aos tempos de mandar “laçar boi no pasto” para entregar carne com preço tabelado no supermercado ?
Pelo jeito a idéia dos Governos é tabelar preços de todos os produtos cujo aumento seja objeto de clamor popular, pelo menos até o período eleitoral. As passagens recuaram. A gasolina congelou. Qual será o impacto dos ingressos do futebol no índice de inflação ? Será que o Flamengo vai colocar em perigo a meta inflacionária do ano ?
Bem, então, já que o Flamengo perdeu a faculdade de precificar os próprios jogos (e aqui não avalio se a precificação está “certa” ou “errada”, mas o direito do clube a cobrar quanto quiser e arcar com as consequências de erros e acertos), devo intuir que a industria do entretenimento no Brasil deve estar em pânico. E os preços do parque de diversões ? E do próximo Rock in Rio ? E da peça de teatro ou do show do Roberto Carlos ? Será que o “Rei” vai extrapolar e ser levado à delegacia mais próxima ? E da latinha de refrigerante no Antiquarius a R$ 8, o Procon não se manifesta ? Vão rever a famigerada Lei da “meia-entrada” ? E a farra das gratuidades ?
Precificação de eventos é coisa séria. Quem erra paga um preço alto, mas tem o direito de correr o risco. Jogo de futebol não é gênero de primeira necessidade, algo que impacte na vida das pessoas como comida ou transporte público. Se tabelar esses ítens já é “enxugar gelo”, imaginem os jogos da Copa. O único reparo que faço aos gestores dos clubes, é que correr riscos com o dinheiro do clube é fácil. Dificil seria corrê-los num futebol profissional com P maiúsculo, em que erros grosseiros custam empregos e ressarcimento aos cofres do clube.
O que me dá engulhos nessa história, é a eterna vontade de aparecer sob a luz dos holofotes de pessoas que embora alheias ao dia a dia daquilo que realmente causa um efeito nocivo à população, sobem à ribalta apenas em acontecimentos midiáticos. Será que fazer “uma média” com a torcida do Flamengo poderá garantir um bom número de votos em 2014 ? É provável.
Enquanto isso, o futebol mais uma vez é visto pelo poder público, não como um importante segmento econômico, mas como “ópio do povo”, pois afinal, o que será deles se a “massa” parar de ir ao futebol, e começar a prestar mais atenção no que eles estão (ou não estão) fazendo ?
Fonte: Novas Arenas