O artigo da semanaseria outro. O texto estava pronto para ser publicado, mas resolvi dar uma olhada, antes, nas notícias sobre o Flamengo. Para minha surpresa e estarrecimento, li que o rubro-negro está disposto a aceitar valor abaixo da multa rescisória oferecido por Hernane pelos árabes, desde que à vista. Diante de combalidas finanças, um valor realmente irrecusável viria em bom momento, mas o que está se mostrando é que uma perda importante está para se confirmar no Mais Querido, sem o devido retorno financeiro.
Parto do princípio de que nenhum jogador é inegociável. Até Messi tem seu valor de venda. O que surpreende neste caso é a disposição de nossos dirigentes de abrir mão de nosso centroavante para receber pouco mais de nove milhões de reais (três milhões de euros). Está certo, somos donos de apenas metade de seus direitos econômicos. No entanto, até onde sei, a multa rescisória é bem superior aos dezenove milhões e meio oferecidos pelo Al Jazira. Por que aceitar menos do que o que foi assinado em contrato?
Hernane foi contratado como aposta para substituir o badalado Vágner Love e fez a torcida esquecer as tranças rubro-negras “brocando” as redes adversárias e tornando-se o maior artilheiro do novo Maracanã. Uma valorização seria inevitável. Com salário em torno de R$ 150 mil reais por mês, o jogador pode ser considerado um exemplo de relação custo benefício extremamente vantajosa.
Antes da venda, no entanto, penso ser mais inteligente que Flamengo e investidores, que dividem seus direitos econômicos, ofereçam o aparentemente almejado aumento salarial ao jogador, recusando a proposta árabe.
A mensagem que está sendo passada é que o clube e seus parceiros não acreditam que Hernane possa repetir seu desempenho em campo. Querem aproveitar o que, para eles, pode ser a única oportunidade de retorno sobre o investimento feito.
Importante lembrar que o camisa nove, antes de ir para a Gávea, foi vice artilheiro do campeonato paulista, jogando pelo modesto Mogi Mirim. Ficou a quatro gols de um tal de Neymar. No ano passado, confirmou sua intimidade com a artilharia, sendo o maior goleador do Brasil com trinta e seis gols. Para mim, não resta muita dúvida em relação à sua real capacidade.
Se nossa competente diretoria decidir pela venda, será a primeira grande bola fora do ano. Nosso atacante é uma realidade. Foi um dos principais nomes da campanha do ano passado. Um aumento salarial, além de equipará-lo aos valores praticados no mercado será menos impactante do que uma nova aposta: uma contratação que pode ser mais cara e não trazer o resultado esperado num ano tão importante para o clube.
Quero crer que a notícia veiculada não traduza a realidade e que aqueles responsáveis por tomar a decisão ajam com a mesma razão que os têm guiado até agora. Já bastam as importantes perdas que tivemos com as saídas muito prováveis de Elias e Luis Antônio, estas sim até certo ponto fora do controle de nossos mandatários. A primeira por depender de um clube quase falido que pede valores absurdos por um jogador com mais de trinta anos. A segunda por se tratar de uma atitude irracional de um projeto de jogador, guiado pela ganância de seu procurador, que quer ser grande antes de crescer.
Nove milhões e meio de reais são recursos sem dúvida muito importantes em tempos de asfixia financeira. No entanto, não quitam nossa dívida de quase setecentos milhões de reais, muito menos garantem a contratação de um jogador à altura. A ausência do nosso atacante, esta sim representa prejuízo dificilmente recuperável neste momento.
Pela permanência de Hernane, a torcida do Flamengo, usando os meios que estão ao seu alcance, sempre evitando a violência, deve se mobilizar para que aqueles meramente interessados no retorno de seus investimentos sejam mais pacientes e entendam que se a Copa do Brasil mostrou ao mundo um novo talento, a Libertadores pode fazer muito mais. Diretores, por favor, não vendam o “brocador”.
FLAVIEW