Nesse post não me apegarei tanto ao jogo que terminou com o placar Flamengo 2 x 2 Duque de Caxias e sim ao que podemos ver do time desenhado para disputar a Libertadores de 2014, a competição mais importante do ano, porém não é ou pode ser a única a receber atenção.
O time escalado por Jayme foi basicamente o utilizado no ano passado com a substituição de Elias e Luiz Antônio por Muralha e Elano, tal medida pode ser interessante se pensarmos no gerenciamento de grupo, porém tornou-se totalmente equivocada ao vermos o desempenho de alguns jogadores em campo, tanto do ponto de vista físico quanto tático.
“- Em duas, três semanas a gente já consegue entrar no peso e depois recuperar o ritmo de jogo na sequência.” –André Santos disse em entrevista no Encontro das Estrelas em dezembro, onde ainda reforçou que quer disputar a Copa do Mundo este ano.
Não só o trecho destacado acima, como toda a entrevista, mostra bem o tipo de comprometimento de André Santos, que se vê como jogador de futebol e não atleta, por isso não precisa se cuidar. O resultado foi visto ontem quando nitidamente fora de forma, mesmo com pré-temporada maior, não conseguiu participar do jogo a um nível minimamente aceitável. Sabendo que não tinha pernas pra correr o jogo todo, ficou muito recuado e não se aproximava de Paulinho, não se apresentava pra ajudar Amaral a sair com a bola e ainda perdia na corrida com o adversário.
Carlos Eduardo não parece estar tão acima do peso, já tinha chegado a jogar alguns minutos no primeiro jogo do Carioca e foi tão mal quanto na temporada passada. Demorou quase cinco minutos pra entrar no jogo, aos quinze do 1° tempo já não conseguia correr e ficou se arrastando de um lado pra outro dando passes pros lados e pra trás. Já no segundo tempo chamou a atenção vê-lo parado olhando os jogadores do Duque de Caxias trocando passes enquanto Elano e Léo Moura tentavam marcar e roubar a bola, tudo isso a menos de dois metros dele, que permaneceu com as mãos na cintura assistindo como um torcedor em lugar privilegiado.
Ao invés de dar entrevistas levantando a moral de Carlos Eduardo e chorando pelo pobre coitado que custa um milhão por mês ao Flamengo e nunca demonstrou sequer vontade de jogar, Jayme deveria ter deixado Carlos Eduardo de fora –mesmo que no banco – até visando de fato preparar o time pra Libertadores, que tem uma longa pausa por causa da Copa, e o contrato de Carlos Eduardo –felizmente – termina em 30 de junho.
André Santos pode até ser na opinião de Jayme o lateral titular, mas fisicamente está bem abaixo de todo o resto do time e não poderia ter jogado, inclusive pensando na própria saúde do jogador que poderia ter se lesionado. João Paulo tranquilamente deveria ter entrado nesse jogo como titular e Jayme explicado que André Santos ainda precisava de trabalho físico.
Indo para a análise tática do time, como já havia adiantado anteriormente no twitter, tanto no meu perfil quanto no do Flamengo em Foco, Elano e Carlos Eduardo não ajudariam na marcação e isso faria com que os dois volantes tivessem que ter velocidade e ficariam mais presos, portanto Amaral e Muralha seriam a escolha mais óbvia já que Cáceres é lento. Essa mudança no perfil dos jogadores tornou o esquema inadequado e a distribuição dos jogadores em campo ainda pior, deixando o time totalmente torto para a direita.
Em 2013 o Flamengo no papel jogava no 4-3-3 com Carlos Eduardo de ponta direita (podem rir, está liberado) e Paulinho de ponta esquerda. Na prática era um 4-4-2 com Luiz Antônio na meia direita, Amaral como 1° volante que se mantinha mais recuado pra proteger a zaga, Elias como 2° volante tendo bastante liberdade de avançar já que os meias da ponta voltavam pra marcar, e Paulinho como um meia esquerdo jogando bem próximo de André Santos, inclusive se assistirem ao VT dos melhores jogos dele –especialmente a goleada sobre o Botafogo –verão que ele joga grudado na lateral esquerda e volta pra marcar até a grande área do Flamengo, quase um 2° lateral esquerdo. Esse esquema funcionava bem porque defendíamos com duas linhas de quatro e atacávamos com Luiz e Paulinho avançando como pontas, Elias aparecendo de trás e Hernane mais enfiado, com Carlos Eduardo na intermediária cadenciando o jogo quando preciso.
Em 2014 se encaramos Elano como substituto de Carlos Eduardo o esquema usado no ano anterior funcionaria ainda melhor, porque poderíamos ter Paulinho como meia pela direita na função do Luiz Antônio, enquanto Éverton ou Mugni ocupariam a meia esquerda, ficando assim Muralha na função de Elias. Teríamos as duas linhas de 4 na formação defensiva e um padrão de ataque ligeiramente diferente, com Elano distribuindo efetivamente o jogo –como fez muito bem ontem enquanto teve pernas – e jogando pela direita com Paulinho e Léo Moura, enquanto na esquerda Muralha auxiliaria Éverton/Mugni e André Santos na armação das jogadas.
Entretanto o que vimos ontem foi um 4-3-3 torto e ineficiente, não só pela falta de preparo físico dos jogadores. Carlos Eduardo e Paulinho eram pontas que não saiam da faixa de ataque, quase não voltavam para buscar jogo. Elano estava na função de Luiz Antônio então mesmo que Muralha fizesse a saída de bola, Elano ainda voltava muito pra trabalhar com Léo Moura e Carlos Eduardo, do outro lado André Santos não subia fora de lance de bola parada, Amaral não tem qualidade de passe pra sair jogando e Paulinho não voltava como ano passado pra marcar ou buscar jogo, acabou virando um deserto. Se Jayme fizesse a simples troca de lado de Amaral e Muralha já melhoraria a distribuição do time, com Paulinho tendo com quem jogar se recuasse, ficando Amaral na direita cobrindo os buracos da marcação e deixando a bola pra Elano e Léo Moura levarem ao ataque.
Wallace e Samir continuam sendo uma boa dupla de zaga, ambos pareciam bem em forma e, mesmo com companheiros a frente sem o mesmo poder de marcação, deram conta do recado. Já Felipe falhou feio no primeiro gol e tomou outro que parecia saído de um filme pastelão tamanha a bizarrice do lance.
Hernane perdeu vários gols, alguns em chances muito nítidas, mas isso é normal já que ele é um jogador que pelo estilo precisa de ritmo de jogo para se posicionar certo e finalizar quase instintivamente, visto que seus gols são na maioria de um toque apenas. Sei que é difícil, mas espero que a torcida aguarde uns cinco jogos antes de pensar em cornetá-lo.
Gabriel, que foi bem no primeiro jogo e regular no segundo, entrou bem e movimentou o jogo, tendo sofrido a falta que gerou o primeiro gol e fazendo o gol de empate. É um jogador que precisa de sequência e ritmo, além de bom trabalho físico, pode ser bem útil na temporada.
Alecsandro ontem entrou com grande disposição, estava jogando como um meia atacante voltando pra buscar o jogo com os volantes e levando a bola ao ataque pelo meio, se posicionando pra finalizar e buscando tabelas pra entrar na área, tendo feito o primeiro gol em um cabeceio preciso após André Santos bater a falta lançando a bola na área. Não creio que ele continuará jogando com a mesma função nos outros jogos, já a vontade talvez permaneça na tentativa de tomar o lugar de Hernane.
Para o próximo jogo Jayme disse que manterá a escalação para dar ritmo de jogo ao time titular, mas espero que André Santos não esteja e que já tenham regularizado a situação de Éverton e Mugni para ver se Carlos Eduardo sai do time. Aliás, o maior desafio de Jayme é arrumar taticamente o time para se encaixar na característica do novo elenco, algo que já devia ter começado a fazer e ainda não fez.
Por fim, não me estenderei no assunto agora, mas queria lembra-los que o investimento no elenco foi grande, a folha salarial deve aumentar para 9 milhões de reais, portanto por mais que esportivamente o Carioca não tenha a importância da Libertadores, não significa que não devemos o levar a sério. Se o Flamengo se mantiver em primeiro nesta fase, será o vencedor da Taça Guanabara e isso significa 1 milhão de reais em premiação ao invés dos 200 mil reais que os outros três finalistas vão ganhar.
Saudações Rubro-Negras
Fonte: Flamengo em Foco