O Maracanã, onde o Flamengo irá começar sua caminhada em 2014 neste domingo, contra o Audax, foi palco, há 40 anos, do início de uma era que até hoje divide a história do clube em antes e depois. No dia 18 de janeiro de 1974, o Rubro-negro estreava na temporada com o garoto Zico alçado à condição de titular. Ali, ele assumia a camisa 10 para não mais largar, e com ela, comandou a época mais vitoriosa do Flamengo.
— Lógico que foi a realização de um sonho, também por estar vestindo a camisa que foi de meu ídolo Dida. Aquele momento em 1974 era a minha afirmação como titular. Se não me engano, nesses primeiros jogos do ano joguei seis partidas e fiz uns dez gols. Ali, me firmava definitivamente como titular da camisa 10 do Flamengo — recordou o ídolo.
O pontapé inicial desta história de sucesso foi o amistoso contra o Zeljeznicar, da Iugoslávia, primeiro jogo daquele ano. O adversário era vice-campeão de seu país e fazia excursão pelo Brasil. Apesar de contar com metade da seleção que disputaria a Copa de 1974, caiu diante da joia rubro-negra: 3 a 1, com dois gols do Galinho.
— Fazer dois gols e ser considerado um dos melhores foi inesquecível. Tinha prometido a minha mãe (dona Matilde) fazer um gol para ela, que aniversariava no dia seguinte. Cumpri minha promessa.
Àquela altura, Zico já era uma estrela em ascensão. No ano anterior, como reserva de luxo, havia marcado 13 gols e tinha sido o terceiro maior goleador do time. Com a nova temporada, uma nova etapa iniciava. E, antes do amistoso, o técnico Joubert o ajudou a desabrochar de vez:
— Durante a semana, quando eu me destaquei nos treinamentos, o Joubert nos chamou, eu, Dario e Doval, e disse que eu seria o titular e que os dois iam lutar pela outra vaga. Ali, senti do Joubert que só dependia de mim seguir em frente.
Se na época a decisão sofreu alguma contestação, o tempo calou qualquer crítica. Foram 509 gols em 732 jogos pelo clube, um Mundial , uma Libertadores, quatro Brasileiros e sete Cariocas.
Uma era que lotou o Maracanã, tornou a camisa 10 a mais vendida até hoje, fez a torcida crescer, encantou e foi cantada em verso e prosa. Zico virou inspiração para torcedores artistas, como Jorge Benjor e Moraes Moreira — e até para vascaínos sofridos, que se renderam aos gols do carrasco, como João Bosco. Joubert nunca precisou ter dúvidas de que tomou a decisão mais acertada:
— Ele (Zico) estava em ascendência. Quem jogava na frente era o Doval (dono da 10 até 1973) e o Dario. Um dos dois ia ter que sair. Deixei o Doval porque ele era mais ofensivo. Argentino, né? Mas não tive problema nenhum com os dois. Cada um esperava a sua vez. Não havia vaidade.
Carlos Eduardo: o 10 que não veste o número
“E agora como é que eu fico nas tardes de domingo?”. O trecho de “Saudades do Galinho”, cantada por Moraes Moreira na primeira despedida de Zico do Flamengo, em 1983, passou a ser a pergunta feita pelos rubro-negros desde que o ídolo se aposentou em 1990. A partir daí, a camisa 10 passou por muitos donos e, em 2013, terminou no banco de reservas, com Gabriel.
— É um menino que eu gosto muito. Não é por causa do 10 que ele não jogou. A maior dificuldade foi a adaptação. Mas a gente conta com ele este ano de novo — defendeu Jayme.
Em uma análise franca sobre o atual momento da camisa 10, o técnico lamenta a escassez de jogadores com a característica certa para assumi-la. Hoje, o nome que mais se encaixa é o de Carlos Eduardo. Mas, devido à desconfiança da torcida, Jayme acredita que para o jogador é melhor não vestir o número.
— Quem joga na posição mais próxima ao 10 hoje é o Carlos Eduardo, um jogador que foi polêmico no ano passado, mas para mim fez um campeonato ótimo. Mas se botar a 10 nele a cobrança vai ser maior ainda. Eu acho que não vale a pena. Vão comparar com o Zico…
Como o Estadual não exige numeração fixa, o problema vai ser adiado. Escalado no time reserva que irá enfrentar o Audax, Gabriel deve voltar a usá-la. E a 10 inicia mais um ano em busca da glória passada.
Fonte: Extra Globo