Antes que o torcedor, tomado pela decepção natural do empate com gosto de derrota, desande a exibir seu arsenal de insultos e acusações irracionais direcionados do gandula ao presidente, é preciso refletir.
Após levar para casa todos os pontos disputados, levando a campo seu terceiro time, o Flamengo alcançou o topo da tabela e fez nascer em cada um de nós a expectativa de desempenho ainda mais alentador da equipe titular.
Assumindo a conquista da Copa Libertadores da América como a prioridade do ano, o departamento de futebol, empunhando a bandeira do planejamento assumiu o risco de um mau desempenho no campeonato estadual em troca de uma preparação adequada de seus atletas. Aos jogadores reservas foi dada a responsabilidade de representar a nação no campo.
Desde o início, a torcida apoiou a decisão. Convencida da importância de uma boa pré-temporada para o bom desempenho do time na competição continental, não demonstrava interesse algum numa eventual conquista do título do campeonato carioca. Para conquistar a América, valia qualquer sacrifício.
Com o surpreendente resultado alcançado pelos abnegados reservas dos reservas, a antes desventurada taça estadual voltou a ser objeto de desejo da Nação. Dali em diante, ganhar tudo passou a ser obrigação.
E a Libertadores? E o tal planejamento? E a pré-temporada? Todo o discurso combinado foi dissolvido no caldo quente da paixão irracional.
O jogo foi ruim, sim. Inevitável não esperar dos nossos principais jogadores, dos campeões, uma exibição mais animadora. Mas, despindo-nos das vestes da idolatria, sejamos razoáveis. É sabido que após dias de treinamento físico intenso os músculos ficam “presos”, dificultando movimentos e limitando o desempenho. Ritmo de jogo, se ganha aos poucos. Alguns desfalques importantes fazem com que seja mais um obstáculo a definição de um esquema que funcione com novos jogadores.
Nem todos os reforços estavam à disposição. Não era, portanto, um time formado, nossa equipe definitiva para o ano. Ademais, os gols sofridos pela equipe caxiense foram achados como pepitas de ouro em meio a cascalhos de rochas: algo raro e de muito difícil logro.
Time apático? Em alguns momentos me pareceu sim. Estava nítido na expressão dos atletas. Espécie de ressaca insuportável de quem saiu da festa de uma conquista nacional numa arena lotada para a dura realidade das disputas locais – partidas de pouco apelo, jogadas para poucos, valendo quase nada.
Mas foi-lhes dito que o objetivo é a Libertadores. O grupo foi dividido por este motivo; a preparação é toda feita pensando nisso. Difícil fazê-los todos darem o sangue e o oxigênio que ainda rareiam como se fossem os últimos jogos de suas carreiras.
Críticos, pessimistas e detratores de plantão, aquietai-vos! Todos sabem ser prematura qualquer conclusão sobre o sucesso do Flamengo neste momento. Consideremos os jogos do campeonato carioca como treino para ajustes com vistas ao nosso maior intento. Nosso esquadrão, o verdadeiro, pronto para a guerra, entrará em campo de verdade no dia 12 de fevereiro. A partir daí, sim, diante do seu desempenho no torneio para o qual estamos investindo e treinando, façamos nosso juízo.
FLAVIEW