Trinta e três centímetros separaram a vitória do empate. Na volta do clássico dos milhões ao Maracanã, a cegueira e o despreparo dos homens de amarelo definiram o resultado do jogo.
Os mais fanáticos dirão que roubado é mais gostoso. Eu não penso assim. Ganhar do maior rival, freguês e eterno vice vale mais sem a interferência de qualquer um que não seja os jogadores dentro do campo. A sensação faz lembrar aquele aluno que recebe a nota dez, sabendo que para alcançar seu feito aproveitou-se da distração do professor para copiar as respostas do colega ao lado.
Lamentável a atuação do juiz e, principalmente, de seu auxiliar cego. Além do erro no gol vascaíno e da titubeante confirmação do primeiro gol flamenguista, errou ao não expulsar o argentino careca e carniceiro que tentou arrancar uma das coxas de nosso centroavante artilheiro com as travas de sua chuteira colorida. Errou ao não ver o impedimento em jogada de quase-gol do Flamengo antes do gol salvador do ótimo Gabriel.
Até quando os resultados de jogos de futebol serão reféns da instabilidade técnica de amadores do apito e dos caprichos do reflexo e da percepção humanos? Hoje, fomos os beneficiados, amanhã seremos as vítimas. Esportes com muito menos apelo popular, do golfe ao hockey no gelo, do tênis ao futebol americano confiam nos olhos precisos das câmeras e dos sensores, sempre em defesa da justiça do resultado e do respeito ao torcedor.
A quem serve a aversão ao progresso tecnológico demonstrada pelos nossos geniais dirigentes de confederações, federações e comissões desportivas de toda natureza? Seria mais uma das brechas de que se utilizam para induzir resultados de acordo com sua conveniência em troca do dinheiro e do poder corrupto de que se nutrem?
É hora de dar um basta no amadorismo. Não pode ser aceitável que os destinos das equipes de um dos esportes que mais movimentam recursos no mundo estejam nas mãos de bancários, contadores e funcionários públicos que pegam no apito nos fins de semana para complementar a renda no fim do mês.
Além da profissionalização da arbitragem, é mister que nos rendamos ao poder dos aparatos tecnológicos. Bolas com chip, sensores nas traves, câmeras em diversos ângulos e até a possibilidade do uso do replay em determinadas situações de jogo.
Quero ganhar do Vasco sempre. Mas ganhar de fato, pois sempre foi com a bola nos pés que o Flamengo mostrou sua superioridade em campos cariocas, brasileiros e mundiais.
A vitória de ontem foi importante, mas correu o risco de ter-nos cegado para os evidentes problemas do time. Problemas reconhecidos na lúcida entrevista de nosso zagueiro intelectual Wallace, que reconheceu que o time tem muito a melhorar.
É evidente que ainda não nos recuperamos das perdas de Elias e Luis Antônio. Léo Moura e André Santos estão devendo fisicamente, o segundo principalmente. Cáceres já não merece meus comentários. Elano é solução das bolas paradas, mas contribui com a desaceleração do time do meio para a frente. Gabriel finalmente fez valer a aposta de nossos dirigentes e merece lugar entre os onze. Éverton ainda não fez brilharem-me os olhos e Mugni esqueceu o bom futebol no calor escaldante de Bangu. Muralha entrou muito bem e Amaral regrediu desde a inconsequente entrada criminosa no mexicano do Leon.
Sei que tudo pode mudar com o tempo e o entrosamento da equipe. Sei também que o cansaço teve sua parcela de responsabilidade. Mas ainda falta muito para o nosso Flamengo voltar a jogar com aquela consistência que conhecemos. Não nos iludamos.
Enquanto isso, vamos colecionando os pontos pelo caminho, sendo eles merecidos ou não, afinal de contas são eles que fazem um time ganhar o campeonato.
FLAVIEW