Considerando um total de 34 competições disputadas por times brasileiros em 2013, a arrecadação total foi de R$ 475 milhões em 3940 jogos, segundo levantamento da Pluri Consultoria, com apoio do site Sr. Goool. Esse mesmo valor corresponde a tão somente 50 jogos da UEFA Champions League.
É para pensar. É o caso de parar e realmente pensar.
Sim, é verdade que há diferenças enormes entre o Brasil e os países europeus, principalmente os ocidentais. É verdade, também, que são países considerados ricos, com elevadas rendas per capita. Por outro lado, embora tenhamos uma distribuição de renda criminosa e muito distante do modelo capitalista básico, o Brasil ostenta e se vangloria de ter uma das dez maiores economias do mundo (7º maior PIB nominal ou por poder paritário de compra em 2012). O que não é pouca coisa, por mais enganadora que seja – e é – essa posição.
Listar os porquês de tal situação e como corrigi-los, demandaria seminário de muitos dias e inúmeras discussões. De maneira geral, porém, alguns motivos para tão pouca gente e tão pouco dinheiro em nossos jogos são claros e saltam aos olhos de quem quer que se detenha por alguns segundos a uma análise ligeira:
– qualidade do espetáculo;
– segurança para assistir ao jogo (antes, durante e depois da partida);
– conforto nos estádios.
Aqui mesmo nesse OCE já listamos muitos outros fatores, mas vamos nos ater a esses três. Reparem que os clubes são responsáveis diretos por dois deles: qualidade e conforto. O outro, embora também esteja na área de responsabilidade dos clubes (que teimam em financiar das mais diferentes e “criativas” maneiras seus bandos de “organizados”), é de responsabilidade maior das autoridades responsáveis pela segurança pública no país.
Vamos a mais uma acachapante e desoladora comparação: apenas 15 Superbolwls, a partida final da NFL, atingiriam essa mesma receita – considerando, é claro, apenas a venda de ingressos. É até cruel colocarmos os números no papel ou na telinha:
50 = 3940 = 15
Há poucos dias, dois diferentes posts nesse OCE mostraram as médias de público e o índice de ocupação dos estádios no Brasil, com números deprimentemente baixos nos dois casos, aos quais agrego agora o número com a renda média por jogo disputado no Brasil em 2013:
– público por jogo (todas as competições): 4.721
– ocupação média dos estádios (todas as competições): 26,0%
– renda média por partida (todas as competições): R$ 121 mil
São números extremamente baixos, muito aquém do que precisam nossos clubes, mas condizentes com a pouca importância que é dada ao consumidor de futebol, o torcedor.
Feita essa introdução, vamos aos números do levantamento da Pluri.
Para esse trabalho foram considerados todos os 3.940 jogos do futebol brasileiro, disputados durante 2013 nas quatro divisões do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Copas Libertadores e Sul Americana, Recopa, Copa do Nordeste e 26 campeonatos Estaduais, num total de 34 competições.
Alguns destaques:
– arrecadação total de R$ 475 milhões em 3.940 jogos;
– média de apenas R$ 121 mil por partida;
– ingresso médio no valor de R$ 25,83.
Como já tínhamos visto no post sobre público e ocupação de estádios (aqui), as competições Internacionais (Libertadores, Sul Americana e Recopa) foram as que tiveram maior apelo junto ao público, com média de R$ 1,34 milhão por jogo, valor 11 vezes superior à média nacional. Em seguida vieram os campeonatos nacionais (4 divisões do Brasileirão e Copa do Brasil) com média de R$ 215 mil/jogo e os Regionais (Copa do Nordeste) com R$ 132 mil por jogo. Como era de se esperar, os estaduais ficaram em último lugar, com a baixíssima média de R$ 49 mil/jogo, metade da média nacional e cerca de 4% da média das competições internacionais.
Apesar de também terem uma baixa média de arrecadação, os Campeonatos Nacionais (1ª a 4ª divisão + Copa do Brasil) possuem média quase 4 vezes superior à dos Estaduais (R$ 215 mil x R$ 49 mil).
Precisamos levar em consideração que a média da Copa Libertadores foi tremendamente alavancada pela renda da partida final no Mineirão, entre Atlético Mineiro e Olímpia, com seus 14,2 milhões de reais, quase 5 milhões de euros à época (recorde aqui). Com isso, a Libertadores teve renda bruta média de R$ 1,98 milhão por partida, a maior envolvendo clubes brasileiros, e 4 vezes mais do que o 2º colocado, o Brasileirão Série A, com R$ 464 mil/jogo. Das 34 competições consideradas, somente sete superaram a média nacional de R$ 121 mil por jogo: Libertadores, Brasileirão série A, Sul Americana, Copas do Nordeste e do Brasil e estaduais de Minas e São Paulo (esses também fortemente alavancados pelas partidas finais).
Os melhores estaduais aparecem apenas na 5ª (MG), 7ª (SP) e 10ª (PE) posições. Os catorze últimos colocados são todos estaduais.
Dos 34 campeonatos analisados, 10 tiveram média de arrecadação inferior a R$ 10.000 por jogo, todos campeonatos estaduais.
Amapá (média de R$ 2,3 mil por jogo), Acre (R$ 2,9 mil) e Rondônia (R$ 4,1 mil) são os campeonatos com menor média de renda no país. Mesmo o pior campeonato nacional (Série D) apresentou média de renda (R$ 24 mil por jogo) superior à de 16 dos 26 estaduais analisados.
Se considerarmos a média de arrecadação do futebol brasileiro sem a inclusão dos campeonatos estaduais, o resultado final seria uma renda média de R$ 240 mil/jogo, cerca de 99% acima da média final, quando se incluem os estaduais (R$ 121 mil/jogo). Lembrando que neste número estão incluídos não apenas os campeonatos de maior apelo de público, como Libertadores e a 1ª divisão do Brasileirão, mas também a 3ª e 4ª divisões Nacionais, evidenciando o desinteresse pelos estaduais, em relação às competições nacionais.
Ticket Médio
O ticket médio das competições internacionais foi de R$ 54,16 e esse valor representa mais que o dobro da média nacional– uma indicação de que o torcedor paga mais para assistir a jogos de maior qualidade e importância. Por outro lado, R$ 19,67 de ticket médio nos campeonatos estaduais é muito caro para uma competição com cerca de 2.500 jogos de baixa qualidade e pouca importância.
O ticket médio da Libertadores foi de R$ 57,92, o maior entre todas as competições disputadas pelos clubes Brasileiros, seguido pela Copa do Brasil com R$ 38,43 e pelo Campeonato Mineiro com R$ 35,49.
Novamente: o jogo final da Copa Libertadores alterou muito esses números. Ele sozinho representou 25,7% da renda total dos jogos com mandos brasileiros na competição. Mesmo assim, a renda média sem esse jogo daria um valor significativo: R$ 1,5 milhão.
Fechando o post, a lista completa com os campeonatos e receitas.
Fechando o post, a lista completa com os campeonatos e receitas.
Fonte: Olhar Crônico