O diretor executivo de esportes olímpicos do Flamengo, Marcelo Vido, está sendo beneficiado indiretamente com os cortes que estão acontecendo nas categorias de base rubro-negra das mais diversas modalidades. No contrato do dirigente com o clube, o qual o LANCE!Net teve acesso (confira quadro acima), está prevista bonificação de acordo com a redução de déficit da área feita por ele.
As bonificações por redução de déficit dos esportes olímpicos estão previstas na cláusula quarta do contrato de Marcelo Vido com o Flamengo. Além do salário fixo mensal no valor de R$ 10 mil, o executivo já obteve um adicional de R$ 8.674,20 pelo primeiro ano de vínculo e ganhará mais um valor que pode chegar a R$ 52.045,20 caso consiga, ao menos, reduzir o déficit em 76%, levando em consideração o início da gestão do presidente Eduardo Bandeira de Mello.
Um dos cortes do Flamengo para a área dos esportes olímpicos que já aconteceu este ano foi a dispensa de grande parte dos atletas que não residem no Rio de Janeiro, evitando assim gastos como a ajuda de custos, alimentação e hospedagem destes jogadores. Apenas os nomes que já se destacaram foram mantidos pelo Rubro-Negro.
Outro exemplo recente de corte que vale destacar é em relação às categorias de base de futsal e basquete. O clube acabou dispensando grande parte dos atletas, mantendo apenas os jogadores considerados principais em um único time para cada esporte.
Vale destacar ainda que o Flamengo planeja gastar apenas R$ 13.614.000,00 com os esportes olímpicos neste ano, como visto no orçamento aprovado para 2014 no início do mês, o que equivale a R$ 1.134.500,00 mensais disponíveis para os gastos de todas as modalidades olímpicas, exceto o Remo que tem um valor em separado.
O LANCE!Net entrou em contato com a assessoria do Flamengo, que informou que todos os cortes que estão acontecendo foram aprovados desde a chegada de Marcelo Vido ao clube (a assinatura do contrato aconteceu no dia 18 de fevereiro de 2013). O Rubro-Negro ainda afirmou que corte de categoria não significa redução de déficit e disse que o executivo receberá bônus apenas se deixar a área autosustentável.
Salário: atraso no remo chega a oito meses
O Flamengo está com oito meses de salários atrasados no remo. A modalidade olímpica também foi alvo de cortes por parte da diretoria rubro-negra, mesmo tendo a previsão de receita e despesa feita de forma separada em relação aos demais esportes olímpicos no orçamento do clube para toda esta temporada.
Para 2014, o Flamengo, conforme aponta o orçamento aprovado pelos conselheiros, planeja gastar com o remo uma quantia de R$ 2.870.000,00, o equivalente a aproximadamente R$ 239.166,66 por mês, com todos os custos relativos ao esporte.
Um fato que precisa ser levado em consideração em todas as áreas dos esportes olímpicos diz respeito também ao valor total de patrocínio para cada área. Com escassez destes recursos, o Flamengo, no ano passado, chegou a realizar um projeto visando arrecadar fundos para estas modalidades por meio de leis de incentivo, mas não teve o êxito que esperava.
LANCE!Net Explica: Déficit
Uma situação de déficit acontece quando há um excesso de despesas sobre receitas de uma determinada área. É a diferença existente para completar uma quantidade (soma em dinheiro) necessária ou prevista em um projeto orçamentário. Este termo é usado geralmente em referência à contabilidade.
Luiz Roberto Leven Siano – advogado
Não é ilegal, mas imoral este tipo de contrato
É normal ver esse tipo de cláusula em contratos relacionados a outros setores empresariais, mas sinceramente nunca tinha visto um deste tipo no esporte. Aliás, isto não é recomendável de ser feito nos contratos com a relação esportiva, pois acaba incentivando possível corte de pessoal a pedido do contratante, que pode vir a querer aumentar a sua remuneração.
No mundo esportivo, é comum ver em um contrato de prestação de serviços uma cláusula inversa à esta, que é a de dar bonificação de acordo com o número e a importância de títulos que determinada pessoa conquistar durante a vigência do acordo, sempre documentado.
Vale ressaltar que este tipo de contrato não é ilegal de ser feito juridicamente, mas acaba sendo imoral, antiético de ser visto. Precisa ter com clareza o real motivo dos cortes acontecerem para ver se a ação não foge dos princípios morais e éticos de um profissional.
Fonte: Lancenet