Sábado passado o Maracanã recebeu o primeiro Fla x Flu de 2014 (vencido pelo Fluminense) apresentando as já protocolares arquibancadas vazias. Mais do que o baixíssimo comparecimento de torcedores do Flu, chamou atenção o alto preço dos ingressos – razão pela qual os tricolores protestaram. Os 13.596 pagantes proporcionaram renda de R$ 1.091.950,00, representando inacreditável ticket médio de R$ 80. O ingresso mais barato custou R$ 100, e apenas sócios do Flamengo tiveram a prerrogativa de pagar R$ 40 por um assento. O borderô do clássico pode ser conferido aqui.
Ticket médio do Fla-Flu supera o da semi da Copa do Brasil.
Por diversas vezes o Blog Teoria dos Jogos explanou acerca da precificação de ingressos no futebol, sendo favorável à maximização de tais receitas. Significa que em situações de alta demanda, como na final da Copa do Brasil, os ingressos realmente devem custar mais do que a maioria está disposta a arcar. Situação inversa à verificada agora. Em partidas de pouco apelo – que encontram nos estaduais seu auge – o preço do “ingresso maximizador” deveria ser muito baixo, em alguns casos próximo a zero. Mesmo que não seja o caso do Fla-Flu, resta claro que um ticket superior ao da semifinal da Copa do Brasil (R$ 68) configura distorção irreparável. O resultado foi um Maracanã com 80% de capacidade ociosa.
Como já foi dito anteriormente, a diretoria do Fla alega não haver qualquer prejuízo pelo fato de sócios-torcedores pagarem até 60% menos. Portanto, este seria o modo de se fomentar o projeto associativo lançado com sucesso há quase um ano. Trata-se de uma meia-verdade. A análise do borderô revela que muitos flamenguistas saíram no prejuízo: dos 5.971 rubro-negros presentes ao setor Norte, apenas 1.502 (25%) eram associados – proporção projetável aos demais setores do estádio. Nada menos que 75% dos flamenguistas incorreram nos mesmíssimos custos dos poucos tricolores presentes.
E por que estes simplesmente não se associam? A resposta: porque nem todo torcedor é um heavy user – ou melhor, a maioria não é. Fanáticos por arquibancada são usuários intensivos que não perdem grandes jogos sob nenhuma hipótese. Também frequentam partidas menores, mas na medida verificada sábado – ou seja, os tais 25%. Situação diferente da estreia do Flamengo na Libertadores, quando sócios-torcedores serão mais de 20 mil. Também foi assim no título da Copa do Brasil, quando os mesmos passaram de 40 mil. Mas não se enganem: heavy users são e quase sempre serão minoria.
Boa parte dos que não se enquadram nesta condição opta pela não-associação. As razões são variadas: porque moram longe, não tem tempo ou acham caro. Ou mesmo por serem “turistas de Maracanã”, dando maior importância à experiência em si do que ao esporte. Seja qual for o motivo, ele é legítimo, já que ninguém é obrigado a fazer o que não lhe convém. Mas uma coisa é certa: quando decidem torcer de corpo presente, o nível de preços na estratosfera se torna elemento afugentador. Ideia pouco inteligente considerando o perfil do torcedor brasileiro e a necessidade de cooptarem “comuns” às partidas de baixo apelo.
Fonte: Teoria dos Jogos
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