Dia 26 de março de 2014. A data é representativa no futebol brasileiro. Para o bem e para o mal.
Para o bem, porque demarca o início, de fato, do calendário doméstico no país. É quando os jogos, enfim, passam a ter potencial para atrair interesse do público. Mesmo nos Estaduais, têm caráter decisivo.
Para o mal, pelo que representa ter mais de dois meses do ano dedicados a expor as marcas dos clubes a situações embaraçosas, constrangedoras. Uma longa procissão de jogos desimportantes. Frutos de campeonatos que representam uma tradição brasileira, que ampliam nosso campo de revelação de jogadores, que precisam continuar existindo, mas que devem ser redimensionados urgentemente.
Ninguém exige que tenhamos no Brasil um Bayern de Munique, um Barcelona, duelos globais típicos de uma Liga dos Campeões. Não é nossa realidade. Mas é fundamental entender que hoje, a disputa por mercado é global. A oferta dos grandes times do mundo através da TV é farta.
Como competir? Primeiro, entendendo que os gigantes mundiais não são parte de outro mundo. Pertencem ao universo globalizado do futebol. E teremos que lidar com eles. Oferecendo um campeonato atraente, com jogos realmente importantes, bem promovidos e com preços justos. A partir daí, o poder das marcas dos nossos clubes se encarrega do restante.
Um exemplo? No último domingo, Bahia e Vitória não duelavam por nada além da manutenção da possibilidade do tricolor de alcançar o total de pontos do rubro-negro no Campeonato Baiano e, assim, ter vantagem num provável reencontro na decisão. E foram 30 mil pessoas à Fonte Nova. O preço médio foi próximo de R$ 30.
O torcedor brasileiro ainda é apaixonado por nossos clubes. Ter interesse pelos grandes da Europa é natural para quem gosta de futebol. Mas se tiver uma boa atração local, ele responderá.
Fazer campeonatos mal dimensionados, jogados em estádios de várzea, tem efeitos colaterais graves. Diante da TV, há um exército de jovens em fase de fazer escolhas. Como ele dará credibilidade a um torneio jogado em Bangu minutos após ver Messi e Neymar em ação no Camp Nou?
O último domingo foi constrangedor. No Maracanã, Flamengo e Cabofriense jogavam a troco de nada e com um ingresso caríssimo. Foram 5 mil pagantes. Muitos destes, sem contar jornalistas e funcionários do estádio, só falavam em Real Madrid x Barcelona. O contraste foi constrangedor. E precisa ser evitado.
Nesta quarta, Flamengo e Cabofriense abrem a semifinal no Maracanã. Jogo que vale. Mas será que tem apelo suficiente para ter o ingresso cheio mais barato a R$ 60? Parece que não. Para pagar preço de sócio-torcedor é preciso, no mínimo, gastar R$ 39,90 por mês. Não é para todo mundo.
Se custa tão caro ir ao Maracanã, a distância que separa o jovem e o clube de sua cidade será a mesma que o separa do Bayern de Munique: a TV. Em especial o jovem mais pobre. Perdê-lo é um risco que o futebol brasileiro não pode correr.
Fonte: Blog do Mansur