Escrevi no Facebook outro dia, comentando uma postagem do Jefferson Freire, parceiro aqui do Magia. Ele falava da tentativa sempre frustrada do arco-íris no desgastado e preconceituoso corinho: Favela, Favela! Externei minha indignação contra a agressão e ao mesmo tempo a minha satisfação de ser considerado um “mulambo”. Eu e as amigas Cida Gomes, Claudinha Simas, Cris Marassi, Lívia Gesta, entre outros. A Vivi Mariano e a Karoll Chaves do Magia, além da Nayra Halm também se auto-intulam “mulambas”.
Os idiotas adoram criticar os modestos, observei também a propósito da cobrança injusta vira e mexe feita ao Brocador. Defendo que isso somente ocorre porque o Hernane se comporta com moderação fora de campo, em especial quando faz declarações. Penso que os detratores do Brocador assim procedem em virtude do comportamento humilde, sem qualquer marketing pessoal. O artilheiro do Brasil em 2013 fala como confere na grande área: com um toque e muita simplicidade.
Hoje vou falar das trocas de mensagens entre os Magias, entre nós e entre nós e outros blogueiros. Para ilustrar melhor, pincei algumas frases críticas a essa mania de tentar diminuir quem é ou se comporta de maneira mais humilde. O Flamengo, como detentor de 63% da torcida do Estado do Rio de Janeiro e 22% da torcida nacional, sempre foi alvo dos pusilânimes ataques dos adversários inconformados com o seu eterno sucesso, sua hegemonia, a constituição democrática da sua Imensa Nação. E o que fazem os superados? Buscam subestimar nossas conquistas nos rotulando de Favela.
Somos maioria esmagadora em todas as camadas sociais. Somos favelados, ricos, analfabetos, PHDs, “mulambos”, “mauricinhos”, marginais, celebridades, moços, velhos, homens, mulheres, heterossexuais, homossexuais, negros, brancos, mulatos, índios. Não temos cara de rubro-negro, temos pele e alma em vermelho e preto. O resto é mimimimi. O resto é chororô. O resto é o resto. E é pouco, insignificante demais diante da nossa grandeza.
Fomos as frequentes invasões do templo maior, com imagens antigas da saída avassaladora dos trens tomando de assalto desde a plataforma da estação até as então gerais e arquibancadas do Maracanã. Hoje invadimos pelos trens do metrô, pelos ônibus, pelas ruas. Orgulhosamente sempre estive entre eles. A torcida rubro-negra sempre foi a melhor representação do miscigenado povo brasileiro, vencedor da desigualdade social, da disparidade tamanha que o futebol consegue igualar. Naquela atmosfera de equivalência todos tiveram as mesmas chances de vencer, de se sentir fortes e imbatíveis, defendidos pelos divinos pés do Domingos, do Leônidas, do Zizinho e, mais em especial, do Zico, no passado. Hoje, pelos gols sucessivos e decisivos do Brocador.
O Walter Monteiro, outro colunista do Magia e defensor de primeira hora do Brocador, escreveu “Essa situação do Hernane é mesmo incrível. Enquanto é comum que jogadores atuem mal e fiquem todos esperando que recuperem a performance que um dia tiveram (Ganso, Carlos Eduardo, Fred), Hernane joga bem há três anos, mas todos esperam que fracasse a qualquer momento”. E complemento que ele continua brocando, contra tudo e contra todos. Humilde, modesto, desviando os olhos da câmera, porém cirúrgico para marcar gols. Parafrasenado o Walter Monteiro, o Brocador entrega o combinado.
E as favelas, a Tijuca, Ipanema, Realengo, Barra, Del Castilho, Jacarepaguá, os igarapés da Amazônia, as cidades satélites de Brasília, as aldeias, as vilas, as mansões, as palafitas, enfim, todo o Brasil multifacetado e injusto socialmente comemora junto com o baiano Hernane, nosso ídolo, nosso Robin Hood pós-moderno. Ao sinal do Brocador, aparecemos, em meio às florestas de concreto ou às poucas árvores restantes, prontos para tomar o poder que jamais deixou de ser nosso. Nossas vestes rubro-negras nos identificam e nos aglutinam. A “mulambada” somos todos nós. E daí? Somos a “mulambada” sim, somos muitos e muito mais felizes do que eles. Eles serão eternamente apenas ilhotas, pontinhos no mapa com um Imenso Mar Vermelho e Preto a cercá-los por todos os lados. Só não os varremos, num tsunami rubro-negro definitivo, porque não teríamos a mesma felicidade sem vê-los devastados pelas nossas águas.
Por Alexandre Fernandes
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Fonte: Magia Rubro-Negra