Adão, Murilo, Washington, Reyes e Paulo Henrique; Zanata e Liminha; Rodrigues Neto, Adãozinho; Fio, o Maravilha e Caldeira. Este time, em 1970, deu ao Flamengo seu primeiro título da Taça Guanabara. No último jogo, contra o tricolor das Laranjeiras, 106.515 pessoas testemunharam o início de uma história que ganhou ontem, mais de quarenta anos depois, seu mais novo capítulo.
Foi o vigésimo título, 40% de todos os disputados. Duas rodadas de antecedência, sete pontos de vantagem sobre o segundo colocado. Uma supremacia indiscutível que parece fazer justiça à nova era de organização e responsabilidade inaugurada pela excelente gestão de Eduardo Bandeira de Melo.
Diferente das grandes conquistas do passado, desta feita faltaram público e taça. Pouco mais de nove mil pessoas pagaram para assistir à partida. Nada de pódio, tampouco volta olímpica. Um título que reflete no dourado troféu da evidência a funesta realidade de um campeonato que nada mais tem a oferecer.
Muitos apontam os preços inflacionados como a causa para a deserção do público. Não concordo. O que estamos dispostos a gastar com qualquer entretenimento está diretamente relacionado ao valor dado à qualidade do produto ou serviço oferecidos. Qual é o atrativo de uma partida contra o todo-poderoso Bonsucesso, genialmente marcada para uma quarta-feira de cinzas no acanhado estádio do Volta Redonda? Sempre haverá os trezentos e setenta e cinco abnegados que, sem nada melhor a fazer, enfrentarão raios e trovões e pagarão o preço para um evento deste nível.
O menor preço cobrado no jogo do título, contra os reservas do Botafogo, era oitenta reais. Oitenta que viram quarenta na mão do estudante e vinte na do sócio torcedor. Onde estava o torcedor na linda tarde de domingo? Comendo pipoca na poltrona de casa em frente à televisão ligada no pay-per-view. O dinheiro está bem guardado para o jogo do meio de semana contra o Bolívar, pela Libertadores da América, este sim o torneio valorizado por dirigentes, jogadores e torcedores.
Está na hora de rompermos com o paradigma atrasado e falido de uma federação movida a interesses de dirigentes corruptos. O Campeonato Estadual do Rio de Janeiro perdeu seu charme. Não beneficia mais ninguém além de poucos sanguessugas remanescentes da fase mais ultrapassada de nosso futebol.
Se o vigésimo título da Taça Guanabara já não nos faz vibrar tanto, ele hoje representa muito mais do que um belo troféu. Ganhamos uma diretoria competente e responsável. Deixamos no passado o ambiente insustentável onde medalhões mandavam e desmandavam no clube. Vencemos a luta contra as vaidades e a ganância de quem pisou em nossa história para atender a interesses próprios. Ganhamos o Gabriel, recuperamos o Cáceres. Mantivemos o Brocador, montamos um elenco.
Acabou a era dos salários atrasados. Na justiça só ganha quem tem que ganhar. A credibilidade voltou e com ela as grandes parcerias e os maiores contratos de patrocínio. No campo, joga quem estiver melhor. A transparência é o idioma falado por todos no grupo.
O jogo sem taça acabou servindo como evidência do resultado óbvio do trabalho excelente que está sendo feito do presidente ao porteiro do clube no saneamento para o reerguimento da maior potência do futebol brasileiro. Este título é para poucos.
FLAVIEW