Dé, o Aranha, foi um bom centroavante. Esperto, simbolizou a malandragem em campo. Fez gol usando uma pedra de gelo, que atirou na bola para desviar sua trajetória, tomá-la do zagueiro paraguaio Reyes e marcar pelo Bangu sobre o Flamengo.
Dé jogou areia na cara do argentino Andrada logo após uma cobrança de falta. O goleiro mal conseguia abrir os olhos e o Aranha aproveitou para mandar a bola às redes. Foi num triunfo banguense sobre o Vasco, time pelo qual brilharia depois.
Já com a cruz de malta no peito, irado com a anulação de um gol sobre o rival rubro-negro, Dé partiu na direção do bandeirinha. “Agarrei um monte de capim e empurrei tudo dentro da goela dele. Gritei que burro tinha que comer capim”, contou em entrevista ao jornal “O Globo”.
Dé defendeu 10 clubes entre 1967 e 1985, se destacou não só por Bangu e Vasco, onde fez forte dupla com Roberto Dinamite, como também no Botafogo. Entre 1974 e 1975 foi campeão brasileiro pelo Vasco e português com a camisa do Sporting.
Antes de pendurar as chuteiras, “brincou” de repórter de campo certa vez numa jornada da Rádio Tupi, parou, virou técnico e hoje é comentarista na Globo e na TV Bandeirantes do Rio de Janeiro. Na rádio deu o mais divertido depoimento do último fim de semana.
Quando o pessoal debatia sobre reclamações contra a arbitragem e situações do gênero, Dé entrou em cena. “O jogador quer é a alma do juiz”, disse o ex-centroavante, sobre situações nas quais o atleta cresce para cima do apitador, quer dominar a situação e consequentemente o jogo.
Depois contou “causo” de árbitro cuja alma era “todinha” de um jogador que o homem do apito, segundo Dé, adorava. “Ele fazia o que bem entendesse em campo”, lembrou, às gargalhadas.
Quando só se fala de tática e estratégia, e se esquece os aspectos humanos do futebol, tudo fica absolutamente chato. Estudo, informação, estatística, a parte científica, hoje tudo isso… “pertence ao futebol”. Não estamos aqui negando sua importância, pelo contrário.
Mas o jogo segue sendo jogado por seres humanos. E é um jogo não só de técnica, habilidade, estratégia e condicionamento físico. É também de malícia, intimidação, perspicácia, sagacidade, experiência, catimba, esperteza.
Não estou discutindo aqui sequer as análises que Dé fez ao microfone, se você gosta ou não, se ele se prepara adequadamente ou não. Estamos distantes desse debate. Só sei que também é saudável ouvir alguém falando do jogo como ele é.
E nem é preciso ter jogado bola profissionalmente para conhecer essas histórias, saber como as coisas funcionam lá dentro. Quem já passou jogos e mais jogos à beira da cancha vendo o que acontece de perto sabe bem disso.
Da mesma maneira que o ex-jogador que envereda no comentário não está impossibilitado de ir além de suas velhas histórias. Basta querer ir além e reunir essa vivência do campo aos estudos nesses tempos em que o conhecimento está aí, farto, ao nosso dispor.
Em tempo: o primeiro gol que vi num estádio de futebol foi marcado por Dé, o Aranha.
Fonte: Blog do Mauro Cezar Pereira