Eu tenho um carinho enorme pelo Flamengo. Sou apaixonado pela torcida. É diferente entrar em campo e ver o Maracanã lotado de rubro-negros. Aquele título de 2009 foi a nossa consagração.
Era um time vaidoso. Tínhamos jogadores sensacionais, como Petkovic e Adriano, mas que não abriam mão de seu ego. Só que a gente não deixava a vaidade atrapalhar. Nossos problemas morriam no vestiário.
Em 2009 não teve briga entre os jogadores. Mas eu me desentendi com o Pet em 2010. Foi uma discussão de vestiário, acima do tom normal. Coisa de jogo. As pessoas confundem as coisas. Acham que eu sou bad boy. Mas era uma questão de personalidade. Um líder tem de estar sempre cobrando.
Ser capitão de uma equipe não é simplesmente colocar a braçadeira. Eu respeitava o espaço dos medalhões e eles respeitavam o meu. O Andrade não tomava decisões sozinho. Por isso dizem que ele não tinha autoridade. Nada a ver. Ele foi super importante para aquele grupo.
Se tinha de concentrar dois dias antes dos jogos, ele chegava até mim e perguntava: “Bruno, o que você acha?” Jogador odeia concentração. Eu falava com os mais experientes do elenco – os mais jovens nem opinavam – e a gente votava. Mas quem batia a martelada era eu, por ser o capitão. A última palavra sempre era a minha. Quem votava contra, ficava de biquinho, puto, mas ia com a maioria. Isso não interferia no campo.
Naquele Brasileiro, nós saímos da zona de rebaixamento e, de repente, opa: deixou chegar, o gigante acordou! Se deixar o Flamengo chegar, é campeão na certa. Fechamos o grupo, deixamos os problemas de lado e arrancamos para o título.
Tenho saudades daquela época. Eu vinha mantendo boas atuações por alguns anos. Deixei de ir para clubes da Europa, como o Benfica, para poder jogar a Copa do Mundo. Se não tivesse sido preso, com certeza eu estaria entre os três goleiros dessa Copa, no Brasil.
Milagres a gente não explica. Mas chegar à seleção como goleiro eu acho difícil. Meu tempo passou. Tenho outros planos. Posso representar o Brasil em outra função. Quem sabe como preparador de goleiros?
Aqui na prisão, eu acompanho alguns jogos. A seleção brasileira é favorita na Copa. Eu continuo brincando… Atuo como centroavante nas peladas durante o banho de sol. Os caras não perdoam. Me jogam na grade. Mas nunca recebi ameaça dos outros detentos. Muitos deles até me pedem autógrafo de vez em quando.
O futebol me dá a chance de ser absolvido publicamente. Porque o futebol é uma roda gigante, você vai do céu ao inferno de um dia pro outro. A partir do momento em que tiver a oportunidade de sair e voltar aos gramados, as pessoas vão me olhar com outros olhos e ver quem realmente eu sou.
Fonte: Placar