Errar é humano. E vencer, seja por quais meios, todos gostam.

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É digno comemorar vitória sobre erros de juiz? Esta dúvida é tão velha como a profissão mais antiga do mundo e vem desde que guerreiros aztecas ou maias jogavam um primórdio do depois chamado esporte bretão usando cabeças decepadas dos inimigos como bola.
Errar é humano, já dizia a frase feita. E vencer, seja por que meios for, todos humanos ou animais de duas patas acham bom, muito bom, muito bem e por isso tanto lutam. No Brasil, pelo menos, nunca vi ou soube de algum jogador que tenha corrido para o juiz confessando que ele se atirou e não foi penalti ou que foi penalti mesmo porque ele botou a mão na bola. Não faz parte da nossa cultura cristãjudaicatupiniquimcigana. Não condeno o choro dos vascaínos reclamando do gol rubro-negro aos 44′ do segundo tempo. Admiro o nosso maior rival — que, ao contrário do resto do Rio, também tem Libertadores e quatro Brasileirões reais, apesar que o de 2000 é meio maroto e grande torcida. Sou do tempo em que descíamos lado a lado a rampa do Maracanã, com gozações do vencedor sobre o vencido, mas tudo na santa paz dos santos torcedores, isto é, são Judas Tadeu contra São Januário. E várias vezes vi Dona Dulce Rosalina, chefe da torcida vascaína, bebendo cerveja com Jayme de Carvalho, fundador da nossa amada Charanga, e ambos rindo como se não houvesse vencedores, amanhãs e nem vencidos. Tudo como mandava o figurino da elegância “beau geste”.
Voltando ao presente já quase passado, tá certo, o gol do Mengão não foi legal, soubemos depois, mas nem mesmo o replay em câmera lenta mostrou imediatamente que Marcio Araujo estava em impedimento. A jogada é muito rápida e a cabeçada de Wallace sai pouco antes da meia lua. Foi preciso o tal tira-teima para alertar todos que o gol era ilegal. Sabemos que nem juiz, nem bandeirinhas dispõem de tal tecnologia, culpa da vetusta puta senhora (mas toda poderosa) FIFA. Pau no fiofó da FIFA!
Quanto ao autor do gol, só após a reapresentação do lance (em várias câmeras) deu para ver realmente quem tinha chutado para dentro das redes. Durante quase 30 segundos, Arnaldo Cezar Coelho e Luiz Roberto ficaram na dúvida sobre o pai da criança. Imagine então o árbitro que tem que decidir ali na bucha e a olho nu e não faz exame de DNA. Nenhum jogador cruzmaltino reclamou na hora e, como de praxe, aceitaram mais uma derrota no finalzinho de uma decisão. Perder nos últimos minutos incomoda muito, sei. Estava gritando “é campeão” quando o antigo rubro-negro Renato Gaúcho enfiou aquela bola em 1995.
Como esquecer? Nem sempre somos vencer, vencer, vencer.
Mas em jogos Flamengo X Vasco, ganhar no “apagar das luzes”, para nós já é rotina, clichê e enredo batido desde 1944 quando Valido marcou aos 41minutos, passando por Rondinelli aos 42′ e Pet aos 43′. Ainda nos falta um gol aos 44 minutos.
Mas na verdade, este gol do Flamengo aos 45′ agora só aconteceu porque um atleta vascaíno perdeu a bola naquela ridícula tentativa de dar olé ejaculação precoce. Na sequencia, houve escanteio, gol, debandada geral do rival e mais um vice previsto, preconizado, decantado e esperado aconteceu. O castigo veio em um cavalo paraguaio vestido de preto e branco. Se a bola pune, a bola vermelha e preta nos une.
Inesquecível e saboroso mesmo é ver, rever, logo depois do gol Guinazu caindo, ou melhor, desabando literalmente para trás. Ou Pedro Ken escondendo o rosto com a camisa suada, Douglas socando o ar com raiva e o xerife Rodrigo, sentado na maca atrás das redes, olhando atônito e depois se estatelar estupefato ao ver que a casa caiu e a nau afundou. E depois ver o clarão que de imediato abriu no lado da torcida rival, antes alvinegro, ficar azul-amarelinho na debandada geral. Ou lembrar da cara do torcedor cruzmaltino que, meio minuto antes do nosso gol, já exibia para a câmera do Sport Tv uma faixa Vasco Campeão Carioca de 2014. Senti até pena dele: poxa… ele estava tão inocentemente feliz!
Quando será que eles vão aprender que os gritos de “ela, ela, ela, silêncio na favela” só nos empolga mais porque somos favela, campo, selva, zona norte, Baixada e Leblon. E isso nos serve como estímulo, principalmente quando a provocação parte de um clube que se gaba de ter trazido negros para um esporte de elite — palmas para eles, sem ironias! —apesar do Bangu ter escalado jogadores negros antes do Vasco, que pelo menos naquela vez (?) foi o segundo a faze-lo. Com ironias, por favor…
Mas o que incomodou mesmo nossos colegas e cartolas vascaínos foi a tal frase dita pelo Felipe, frase não, melhor, um clichê dos mais batidos na historia do tal violento esporte bretão no Patropi: “ganhar roubado é mais gostoso…”. Nosso goleirão, em uma rima, virou vilão e xingado de macaco nos twists da rede para cima e para baixo.
Quem nunca proferiu ou pensou esta manjada frase que atire a primeira ou escreva o pimeiro tweet!
Eurico M. sempre falava que gostava de ganhar do Flamengo assim — lembrem do gol legal, porém anulado, do Athirson naquele Fla 1X1 Vasco, da Taça Guanabara de 2003 que possibilitou a ultima conquista carioca deles. Os exemplos de vitórias contestadas porém comemoradas são vários, desde Tulio contra o Santos e até o gol do impedido Renato Gaucho em 1995, que o juiz assinalou na sumula para Ailton, autor do passe. No site vascaíno, aqui no Globo.com, tal frase foi dita e desejada na semana passada por vários dos seus leitores — “quero que o Vasco faça um gol de mão aos 45′ e em impedimento”— mal sabendo eles que o castigo viria a cavalo como vingança, sina ou profecia.
Mas a tal famigerada frase “roubado é mais gostoso”, que já foi até estampada com letras garrafais na capa da Placar, maior revista esportiva do país, agora desencadeou uma absurda campanha por parte de alguns dos meus coleguinhas, (também sou jornalista) membros da Rainbowpress em mesas redondas e blogs, todos agora politicamente corretos. Ainda bem que a Flapress é bem maior e mais bem vestida.
Então, devolvam o Penta, manés, e não sejam tão hipócritas!
Não esqueçam do gol ilegal do Brasil contra a Turquia em 2002! O juiz coreano Kim Young Joo marcou um pênalti inexistente sobre Luizão quando a falta foi fora da área. Rivaldo marcou na cobrança, terminamos a partida com uma vitória por 2 a 1 e seguimos em frente no torneio. E o Brasil inteiro, mais uma vez, louvou a “ajudinha” do juiz.
Duvido que algum torcedor ou jornalista vascaíno, tricolor, corintiano, flamenguista, botafoguense (os três ou dois que ainda restam), gremista ou palmeirense não tenha curtido esse delito tão decisivo para o tal “esquadrão canarinho”. Pois é… cadê as reclamações enfáticas de alguns jornalistas politicamente corretos nas mesas redondas e blogs? Cadê os tais “defensores da honestidade’ … mas só quando esta lhes convém? Cadê? Ora, pois, pois…
Mais alguns exemplos porque deveríamos, em nome desta nova e moderna honestidade, devolver o quinto caneco:

Em 1962, no Chile, Nilton Santos cometeu um penalti contra a Espanha, que vencia por um gol, mas malandramente deu dois passos para fora da área iludindo o juiz, que assim só marcou falta. A Espanha rosetou a cobrança, mas o juíz mandou voltar e invalidou o gol. E o Brasil inteiro louvou a malandrice e esperteza da “Enciclopédia”.
Na mesma copa, a CBD (hoje CBF) subornou juiz e bandeirinha da semifinal Brasil X Chile, onde o Garrincha foi expulso, para sumirem do país e assim poder absolver o craque para que ele jogasse a final da Copa contra a então Checoslováquia. Aposto que o menino Roberto, na época com oito anos de idade, décadas mais tarde grande artilheiro e presidente do Vasco, vibrou sem pudores com aquele bicampeonato.
Copa de 1970, no Mexico, o Brasil joga contra o Uruguai. Pelé, sem que o juiz espanhol José Ortiz de Mendibil perceba, acerta uma violenta cotovelada em Matosas, quase quebrando o seu pescoço. Nós, brasileiros, comemoramos o “coice”como se fosse gol, assim como no mesmo jogo vibramos com aquele não gol do mesmo Pelé, no drible da vaca sobre o goleiro uruguaio Mazurkiewicz.
Em 1994, nos EUA, antes de marcar o gol da classificação de falta, no jogo contra a Holanda, o lateral Branco cavou uma infração numa disputa com Marc Overmars, quando acertou um tapa no holandês e depois se atirou no gramado. falta e Goooooool do Brasil! berramos todos e o “savoir-faire”que se exploda e se foda. Estávamos na final contra a Itália e nos tornamos tetra! Garanto como o Rodrigo caetaneamente comemorou.
Também em 2002, o juiz jamaicano Peter Prendargast livrou a nossa cara em um difícil duelo de oitavas com a Bélgica ao anular um gol legal belga. Marc Wilmots ganhou de Roque Jr. no ar e marcou, quando o placar estava 0 a 0. Mais adiante, Rivaldo e Ronaldo classificaram o Brasil que assim se tornaria penta campeão.
Se é para ser honesto, amigos, jogadores e cartolas da CBD, devolvam o penta. Lembro aos amigos que se fosse enumerar todos os erros a favor do Vasco, Flamengo, Botafogo e Fluminense em decisões, esse texto teria umas vinte páginas.
Se é para ser honesto, juizes e cartolas da CBD, devolvam o nosso Hexa. Certas vezes penso que o Brasil não será Hexa enquanto não nos reconhecerem por direito e ata do Clube dos Treze o nosso sexto Brasileirão. Praga de rubro-negro tem poder.
Saudações rubro-negras para todos!
ps> Ainda a respeito da partida do ultimo domingo, lembro que o nosso Jayme de Carvalho, sempre que ouvia os torcedores rubro-negros ao seu redor gritando olé, nos anos 60, bradava forte: “— Olé não! Aqui se grita mais um”.
Ele estava certo: olé era mesmo coisa de botafoguense que tinha um Garrincha em seu plantel — aliás, favor não confundir com “prantéu”… mas isto já é uma outra história bem posterior.
Na verdade, enquanto nós temos o Manto Sagrado, eles usam o Pranto Salgado…
Outro PS… quando era garoto tinha um personagem no programa de rádio Balança Mas Não Cai (anos antes da televisão) que sempre vestido com o nosso manto dizia já meio calibrado: “— Mengo, tu é o maior!”. Com erro de concordância tão típico de nós, mulambos, engenheiros, médicos, estivadores, ricos, gays, pleibóis e favelados, de acordo com os despeitados que nos chamam de desdentados.
Isto foi na década de 1950, mas passados mais de 60 anos o Mengão continua grande e, ainda melhor, incaível!
Mais um PS> … porra, isto já está ficando monótono… em 1962, Garrincha fez um gol tão bonito sobre o Flamengo no Maraca, que a magnética encantada toda levantou e aplaudiu o glorioso jogador. Meninos, eu menino estava lá e vi. E naquele momento soube que seria Flamengo para sempre e o sempre, amém.
Frederico Mendes
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