Há pouco menos de um ano e meio na vice-presidência do Flamengo, Rodrigo Tostes resiste às pressões e mantém os pés no chão. Com o balanço de 2012 corrigido e o de 2013 fechado sem ressalvas, ele sabe que tem muito trabalho pela frente, mas comemora o legado ético que deixará no clube. Se falta dinheiro para contratações como a de Elias, a credibilidade perante os investidores cresce a juros altos. Segundo o dirigente, seu sucessor receberá o trem nos trilhos e terá dificuldade para explicar um descarrilamento futuro. A torcida, porém, precisará de paciência para entender que grandes astros devem continuar longe da Gávea por um bom tempo, em nome das contas em dia. Tostes garante que vale a pena.
O DIA: Por que republicar o balanço de 2012?
Rodrigo Tostes: “A gente teve de corrigir o que foi publicado em 2013 referente a 2012, que veio sem opinião do auditor. O auditor novo que chamamos, melhor que o anterior, preferiu não emitir opinião porque não tinha documentação suficiente para corroborar toda as informações. Publicamos um novo, ainda com ressalva, mas o de 2013 ficou sem ressalvas. Nem eu esperava isso.”
Qual será a grande novidade no balanço de 2013?
Vamos publicar quanto o Flamengo tem de cada jogador. Faz parte do ativo do clube. A nova legislação exige, mas nenhum clube faz. Apenas estamos adequando o clube às normas contábeis e dando a transparência necessária. Hoje (terça-feira) me ligaram (patrocinadores) para agradecer. Isso é muito gratificante. Eles veem que estão colocando dinheiro num clube que trabalha com transparência.
Filosoficamente, qual o significado disso?
Amanhã a gente perde a eleição, o cara vai ter de cortar um dobrado para explicar por que não faz mais isso. A gente cria um precedente. Esse é um grande legado. Não dá para voltar atrás.
Já se pode dizer que o clube entrou nos eixos?
Estamos longe da perfeição, mas toda empresa está. Chegamos achando que poderíamos tratar o futebol como empresa. Mas o clube de futebol tem as suas peculiaridades. Por outro lado, você não pode ter essa desculpa para não conseguir realizar coisas básicas, tipo pagar imposto, ter um balanço publicado, cumprir um orçamento.
O que é diferente no mundo do futebol?
Não dá para reduzir os salários e pagar por performance. É um modelo que em outros países já é estabelecido, mas não se faz isso do dia para noite. Tem que planejar para um dia chegar próximo. Todo profissional tem que receber pelo que produz. Nesse caso, a Lei Pelé é muito perversa com o clube. Ela protege que o atleta receba até o fim do contrato tendo bom desempenho ou não. Por outro lado, se o cara tem um contrato e rende acima do esperado, vem negociar aumento.
O clube tem um rombo de R$ 40 milhões para este ano e deixou de arrecadar R$ 10 milhões por não ter cumprido a meta de ir às quartas de final da Libertadores. O que fazer?
Teremos que cortar de algum lugar. O novo patrocínio da Guaraviton ajuda, mas já estava previsto. Estamos emprestando alguns jogadores.
A situação financeira do clube ainda é delicada?
Até o fim do nosso mandato vai ser muito difícil. O nosso maior ganho é conseguir prever. Temos um furo de R$ 40 milhões, e ano que vem haverá outro. Tem gente que acha que o salário em dia significa que está tudo bem. Podemos cobrar os jogadores, mas não está bem. Não ter trazido o Elias foi bom para essa percepção. Oferecemos R$ 6 milhões, e o Sporting queria R$ 12 milhões. Outro problema do Flamengo hoje é apresentar garantias bancárias.
Qual a maior dificuldade para se atrair grandes investidores?
É incrível o número de empresas que não querem nem ouvir falar de futebol. A credibilidade do futebol no Brasil é péssima. O nível de amadorismo, de falta de transparência de forma geral, de clubes, de federações… As empresas veem de maneira ruim se envolver com uma coisa que não tem transparência. Não me espanto que o Flamengo não tenha conseguido patrocinador na época do Ronaldinho. Ainda mais na situação de antes, sem clareza nas contas.
Quando o clube se livrará das dívidas?
O importante não é zerar tudo. Dívida sempre vai ter. O importante é que, se a gente mantiver o nível de receitas e despesas, em 2016 seremos superavitários, já sobrará dinheiro no fim do ano para investir mais no futebol. A dívida vai continuar, vamos pagar em dez anos.
E dinheiro para reforços? Haverá mais espaço na folha com a saída do Carlos Eduardo, sem o retorno do Elias…
A saída do Carlos Eduardo já estava prevista há um ano. Já estava no orçamento. Não existe essa matemática. Nem com o Elias. A folha passou de R$ 8 milhões para R$ 9 milhões. Tem que liberar orçamento para trazer reforços.
Fonte: O Dia