Por que odeio futebol europeu.

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Odeio o futebol europeu.
Odeio seus gramados axadrezados, listrados, tingidos em 50 tons de verde, por onde a bola corre de área a área. Odeio seus craques superfaturados, seus uniformes monopatrocinados, seus escudos ricos em heráldica e design.
Odeio porque deixa tudo que amo cada vez mais sem sentido.
As fases decisivas da Liga dos Campeões, a velocidade da Premier League, as partidas protagonizadas por Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo, tudo isso competindo com as fases finais de nossos Estaduais… é uma covardia.
Tenho o mesmo sentimento da mulher que vê o marido assinar a Playboy após 20 anos de casado. Não é exatamente errado, mas é impossível dizer que tudo está como antes. Não é possível ver os campeonatos europeus sem admitir, pelo contraste, que os Estaduais estão moribundos.
O Estadual do Rio, já disse, merece um Programa de Proteção à Testemunha. Eu ainda acredito que o folclore recente das finais entre Flamengo x Vasco será capaz de produzir um público decente – mas não sei se dois públicos, porque isso dependeria de uma eliminação precoce do Fla na Libertadores, e sempre se pode esperar um novo recorde de preços nos ingressos do Rio $urreal. Mas ainda deve ser um torneio importante, já que Renato Gaúcho saiu do Fluminense por causa da campanha carioca.
O Campeonato Paulista termina sem clássicos na sua fase final. O Corinthians não chegou às quartas, o São Paulo foi castigado pelo Penapolense, o Palmeiras deu adeus ante o Ituano, que enfrentará um Santos cada vez mais hegemônico no… Estadual. Poderíamos elogiar a competitividade dos clubes do interior (Ituano de incrível defesa, Penapolense de resultados fenomenais), mas a falta de grandes batalhas entre as principais forças do Estado deprime. Com todo o respeito, os Estaduais são guindados pelo interesse de suas grandes forças.
Não houve grandes contratações de verão, não houve espetáculo, não houve ânimo que nos recuperasse da ressaca de um Brasileiro discutido nos tribunais.
E pior: houve violência, mortes, emboscadas, invasões de treinamentos. O antiespetáculo toma lugar do espetáculo, as notícias policiais nos atacam dentro e fora dos estádios. No campo, as arbitragens ficam mais importantes que o drible, o passe e o chute.
Meu amigo Fabiano Tatu, implacável com o futebol brasileiro, sintetizou: “Meu único prazer no futebol brasileiro hoje é secar”. É a frase que sintetiza o Paulista, decidido sem clássicos. Schadenfreude (chádenfrrróide), dizem os alemães, para descrever o prazer que surge quando se vê a dor alheia. É também a frase que sintetiza o sentimento no Rio, em que rubro-negros celebram a eliminação precoce do Fluminense no Estadual que, para o Flamengo, é terceira opção, enquanto tricolores acompanham com volúpia e sofreguidão a péssima campanha dos urubus na Libertadores – outra competição que tampouco ajuda na comparação entre espetáculos continentais.
Sentimentos mesquinhos que jorram de um cenário mesquinho. Resta a melancolia de ver que a inércia e a conivência dos clubes eternizarão esse funeral de competições que aprendemos a amar.
E enquanto isso, na Europa, eles parecem estar se divertindo mais do que nós no ano da Copa. A única coisa que preserva os campeonatos estaduais hoje é o ódio cego ao futebol europeu.
Vou ter que cultivar esse sentimento, se ainda quiser me divertir, já que Schadenfreude só não me basta.
Fonte: Blog do Márvio dos Anjos
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