Serão os 90 minutos mais intensos dos próximos meses.

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Putz, parece que foi ontem, eu tinha 17 anos e fui empolgadão pro Maracanã ver o Flamengo jogar pela primeira vez em casa na Libertadores. Era o nosso segundo jogo na competição, tínhamos estreado contra nossos fregueses mineiros lá no Mineirão num 2 x 2 enjoadaço. Hoje em dia é terrivelmente banal dizer que  estava realizando um sonho, mas com 17 anos sonhamos qualquer besteira mesmo.
Nosso adversário era o Cerro Porteño, uma carne assada de 5ª categoria naqueles tempos em que o futebol paraguaio ainda estava no século XIX. O jogo foi moleza, Zico abriu os trabalhos cobrando uma falta “com a mão”, depois fez um de pênalti. Baroninho fez o 3º, cobrando falta e depois cruzou na cabeça do Nunes pro artilheiro fazer o 4º. Pra fechar a tampa Adílio rolou uma bola com açúcar pro João Danado fazer o 5º. Putz, tô velho mesmo, não consigo me lembrar dos gols do Cerro. Mas quem se importa?
De lá pra cá foram mais 98 jogos na Libertadores, muitos memoráveis, um ou outro inesquecível e o resto tudo uma merda. A Libertadores tem sido madrasta com a gente, cortado a nossa onda e às vezes despertado um viralatismo brazuca que muitos pensavam erradicado desde 1958. Mas mesmo assim a cada participação nossa na Liberta renovam-se as esperanças da Magnética de que esse ano vai. Ninguém precisa explicar como é difícil, nós todos já aprendemos. Mentira, não aprendemos porra nenhuma, rubro-negro nasce sabendo.
Não tem jeito, simplesmente não aprendemos a não esperar nada. Como somos racionais, científicos e nos baseamos exclusivamente em fatos na hora de torcer, sempre acreditamos que o Flamengo está perfeitamente preparado para ser Bi da Libertadores. Esse ano não foi diferente. Pela décima segunda vez aquela velha sensação, um favoritismo meio messiânico, se manifestou fortemente quando vimos nossos mulambos entrarem em campo bem vestidos e cercados de carabineiros cucarachos em seus trajes de combate. Arriba, Mengón!
Hoje, lá em Guayaquil, jogaremos em 90 minutos o resto do nosso ano. Basta um empate, mas quem é que se satisfaz com algo menos que a vitória em nosso centésimo jogo na selvagem competição rompehuesos? Sabemos que se deixarem a gente passar pras 8ªs tudo pode acontecer. O Deixou Chegar Fudeu tomará conta de tudo, a cidade se incendiará, a arco-íris cometerá harakiris coletivos e nós, fechados com o certo, sempre humildes, mas muito conscientes de nossa posição na cosmogonia do futebol mundial, lotaremos o Maracanã quantas vezes forem necessárias pra garantir que a Libertadores volte à Gávea. De onde, cá pra nós, ela jamais deveria ter saído.
Vão ser os 90 minutos mais importantes, intensos e insanos dos próximos meses, disso temos certeza. Corações perderão até o ritmo, gente vai passar mal, palavrões serão proferidos com a ira santa dos que lutam por justiça. É do jogo.
Só esperamos que após o apito final, o som dos risos, dos morteiros, dos tin-tins dos copos cheios, dos milhões de high fives que soarão como aplausos e da ventania provocada pelos gigantescos ufas! que serão expirados em toda a Nação não acordem as nossas crianças. Afinal, os filhos da Nação precisam dormir direito pra crescer saudáveis. E eles tem o direito, ou melhor, os filhos da Nação tem o dever, de sonhar do jeito como nós sonhamos.
Dizem que existe ameaça de terremoto, tsunami, surto de cólera-morbo e golpe militar no Equador. E daí? Já passamos por tudo isso antes. Pra cima deles, Mengão. Sem medo, sem estafa, sem estresse. Mas com todo o rubro-negrismo do mundo.
Fonte: Urublog
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