Ontem recebi um e-mail de Alexandre Póvoa, Vice-Presidente de Esportes Olímpicos do Flamengo, a respeito do texto que publiquei aqui. Publicarei o texto NA ÍNTEGRA, sem mexer nem na gramática e nem comentarei alguns pontos que poderiam ser debatidos. Abaixo o texto:
Caro Fábio,
Em respeito à enorme contribuição que você presta ao basquete nacional e aos seus leitores amantes do basquete, gostaria de ponderar alguns pontos em relação a sua coluna “Sobre o patrocínio da Sky ao basquete do Flamengo”. Agradeço as críticas, sobretudo as construtivas e as de boa-fé, estamos sempre analisando e aprendendo com elas. Mas dessa vez, realmente discordamos.
Antes de falar da sua opinião em si, apenas uma correção. Trata-se, nesse momento, de um patrocínio pontual até o final da NBB. Qualquer patrocínio anual, até por envolver valores maiores, têm que passar pela aprovação dos diversos conselhos internos do clube.
Você começa sua coluna apresentando definições de “ÉTICA” e mostra que se trata de um conceito longe de ser absoluto. Enfim, o que é ético para mim, pode não ser ético para você, até porque não há verdades absolutas em um campo que é, por definição, de julgamento pessoal. Um bom começo.
No entanto, gostaria de contribuir com a sua análise, que me parece incompleta por não observar os dois lados da questão. A Sky hoje já patrocina dois clubes na NBB – o Basquete Cearense e o Pinheiros. Acho estranho que essa questão ética só seja levantada agora sob o ponto de vista do Flamengo. Por que, até agora, ninguém nunca levantou o fato de que “é eticamente condenável que uma empresa dirigida pelo vice-presidente de marketing do Flamengo patrocine dois adversários? Será que, por ser o patrocinador do adversário, não poderia haver um conflito ético, quando esses times jogassem contra o Flamengo? No limite, o patrocinador não poderia exigir que seus patrocinados facilitassem a vida para o Flamengo? Obviamente, isso não existe no esporte, como obviamente o Flamengo, a NBB e todos os clubes negociam de forma extremamente profissional todos os seus contratos e todas as suas relações.
Portanto, o que fazer? Pedir para a Sky deixar de patrocinar qualquer esporte em que o Flamengo esteja envolvido? Não me parece o caso a ser recomendado. Me parece estranho que a Sky esteja no basquete nesses últimos 17 meses (desde que a nova diretoria do Flamengo assumiu) e só agora, quando um patrocínio pontual chega ao clube, esse assunto seja levantado. Ética, caro Fábio, tem que ser olhada de uma maneira ampla, não só a parte e o momento que interessam ser levantada.
Para encerrar, apenas mais dois comentários:
– Para quem acha que está fácil conseguir patrocínios para o esporte olímpico, basta dar uma olhadinha no que está acontecendo no vôlei (saída da OGX do Rio e da Amil de Campinas, que já tinha perdido a Medley) e no próprio basquete (saída da Vivo de Franca). Mesmo com o Flamengo campeão da LDA, jornais de grande circulação do Rio nem citavam a existência da semifinal da NBB na última segunda-feira. Tudo é conseguido à fórceps para o esporte olímpico, as pessoas não têm ideia do esforço abnegado dos atletas, com o próprio setor privado, com raras exceções, virando as costas para os clubes (nunca para as confederações, que tem as seleções e estão milionárias) a apenas dois anos das Olimpíadas no Rio.
Lembrando que a mesma caneta que denuncia pseudo conflitos éticos, será usada para criticar quando os salários dos atletas atrasarem. Aliás, eram 3 meses quando chegamos e sem nenhum patrocinador e com o basquete 100% sustentado pelo futebol. Hoje, são três patrocinadores (todos com preços de mercado e cláusulas claras de rescisão para ambos os lados), alguns títulos e caminhando para a completa autos sustentabilidade (enormes dificuldades ainda, apesar de todos as conquistas, como todos devem passar). Temos orgulho de nossos patrocinadores e agradecemos a parceria.
– Tudo no Flamengo ganha uma repercussão que é proporcional ao tamanho midiático do clube. Vide o barulho completamente insano – sem entrar no mérito – da demissão (que acontece semanalmente no Brasil) de um técnico de futebol ontem. Se formos discutir ética, por que não comentarmos, por exemplo, a ajuda de prefeituras municipais e de órgãos de administração indireta (dinheiro de orçamento público) no basquete e no vôlei? Não estamos falando de patrocínio, mas de injeção direta de dinheiro dos contribuintes. Isso é mais ético do que uma grande empresa privada, que fatura bilhões, patrocinar legitimamente três times de basquete e mais outros esportes olímpicos? Em qualquer lugar do mundo, a Sky seria elogiada. Colocar dinheiro no clube é infinitamente mais elogiável do que desviar dele. No Brasil, infelizmente, onde ser um executivo de sucesso parece virar sempre polêmica, a empresa é ainda criticada. Respeito a crítica, mas não concordo. Quem deveria ser criticado são as empresas que não apoiam o esporte. Aí, acho que nem todos os blogs seriam suficientes para listá-las.
Enfim, ontem, o Flamengo ganhou o prêmio do clube mais transparente do futebol brasileiro em 2013 no III Fórum do Futebol Brasileiro. Nos orgulhamos muito disso, o próprio mercado reconhece que o clube deu uma enorme guinada em relação a esses aspectos, aliás, contrariando interesses de muita gente – inclusive da imprensa – acostumada à métodos antigos (que certamente não é o seu caso). Somos completamente a favor de discussões no plano ético e espero que esse nosso ponto de vista contribua para a continuação mais aberta desse debate. Discordamos do seu artigo de hoje, mas conte sempre com o Flamengo para o fortalecimento do basquete brasileiro em todos os níveis.
Abraços,
Alexandre Póvoa
VP de Esportes Olímpicos do C.R. Flamengo
Fonte: Bala na Cesta