Nem o vascaíno Eurico Miranda, disfarçado de rubro-negro, com todo o apetite de Dick Vigarista e vestindo uma daquelas máscaras inigualáveis do agente Ethan Hunt em “Missão Impossível”, seria capaz de fazer tão mal aos torcedores do Flamengo como os cartolas que hoje tocam o clube.
É indesculpável o que eles fizeram ao demitir Jayme de Almeida sem avisá-lo, humilhando-o publicamente. O técnico passou horas e horas dando entrevistas a jornalistas que, ao contrário dele, já sabiam de sua queda.
Já seria um comportamento sádico com qualquer treinador. Mas foi muito pior com Jayme, prata da casa, ex-jogador da Gávea, filho de ídolo rubro-negro, membro de uma dinastia que tanto orgulha _ou deveria orgulhar_ o Flamengo.
Em entrevista ao vivo ao “Bate-Bola”, Jayme qualificou de “asquerosa” a forma como se livraram dele. Está coberto de razão.
É possível que com Ney Franco o time evolua, mas não é de desempenho esportivo que se trata aqui. É direito dos clubes, na pior tradição, trocarem de treinador depois de resultados adversos. Mesmo que o técnico penasse com um elenco muito fraco, fruto de uma política tacanha que pensa que finanças só se equilibram cortando drasticamente investimentos.
O Flamengo perdeu muito dinheiro ao ser eliminado na primeira fase da Libertadores. Fracassou também porque não contratou. Mas trouxe para ganhar uma fortuna um perna-de-pau como Carlos Eduardo. Sem falar de outros jogadores horríveis.
Depois da lamentável gestão de Patrícia Amorim, o investimento rareou e foi mal feito. Alecsandro, um reserva em clubes com torcidas menores do que a do Flamengo, hoje é bambambam no Ninho do Urubu. O gorducho André Santos, em fim de carreira, é dos mais bem pagos da equipe.
Os ingressos caríssimos levam menos público aos estádios. Pois os dirigentes deveriam saber que casa cheia provoca impacto midiático enorme, o que resulta em contratos publicitários muito melhores.
O pior é não entender a genética do clube popular, majoritário em todas as classes sociais. Ao afastar os torcedores menos abastados ou mais pobres, o Flamengo ofende seu passado e avilta seu caráter, desde que no começo do século XX um grupo de pioneiros rompeu com as Laranjeiras, foi treinar em praça pública e assim conquistou corações sem fim.
Parece que a atual diretoria, com “cabeça de mercado”, ignora a genética rubro-negra. É como se fosse um corpo estranho, incompatível com o sangue do clube.
E não venham falar em ética, porque cartola que opera ao mesmo tempo como empresário ou executivo do setor comunicações-esporte evidencia conflito de interesses que hoje afeta o Flamengo.
A direção do clube vilipendia a alma dos torcedores, ofende seus valores mais caros.
Se, disfarçado, o Eurico Miranda tomar o controle do clube para sabotá-lo, não será mais cruel com o Flamengo do que os atuais mandatários têm sido.
Fonte: Blog do Mário Guimalhães