Vai entender o futebol, capaz de produzir jogos em que os dois tempos têm realidades opostas, em que um time parece batido e, por encanto, torna-se dominante após o intervalo.
Vai entender o Campeonato Brasileiro, competição em que há tanta igualdade, tanto equilíbrio, que momentos de inspiração de um ou dois jogadores fazem a balança pender totalmente para um lado ou outro. Retrato deste campeonato foi a vitória por 4 a 2 do Flamengo sobre o Palmeiras.
Pois assim é o campeonato. Uma opção que se revelou equivocada no primeiro tempo fez do Flamengo presa fácil por 45 minutos. Negueba e Nixon titulares, Mugni no banco, e lá ia o rubro-negro com quatro atacantes, sendo três deles carregadores de bola. Paulinho, Nixon e Negueba corriam muito, pensavam pouco o jogo. E qual era a sensação? De que o Palmeiras, em que Wesley e Valdívia se destacavam, era um time de outra categoria. E o Flamengo? Bem, este era um time condenado a lutar contra o rebaixamento. Afinal, com os desfalques de Éverton, Elano, Leonardo Moura e Hernane, exibia as fraquezas de seu elenco.
Pois veio o intervalo, com o 2 a 1 no placar a favor dos paulistas. Entrou Mugni e saiu Nixon, embora a maioria esperasse que saísse Negueba. Pois a mudança de um nome, a entrada de um jogador dedicado a criar, a fazer a bola chegar à frente através de passes e não da correria, alterou todo o jogo. Alecsandro fez dois gols, Mugni serviu os atacantes, o Flamengo não parecia mais um elenco tão frágil. E o Palmeiras? Expôs a fragilidade física do zagueiro Lúcio, a limitação da defesa e a falta de poder ofensivo quando Valdívia sumiu do jogo. E a torcida do Palmeiras pedia a cabeça de Gilson Kleina. Nada era como antes.
Assim é o Campeonato Brasileiro. Rodada após rodada, verdades serão desmentidas. O caso é que no domingo, quando a escalação do Flamengo foi anunciada, era como se um “isso não vai dar certo” ecoasse no Maracanã. O rubro-negro só criava algo se roubasse a bola e contra-atacasse. Porque não tinha articulação. Além de sobrecarregar seus volantes na marcação. Foi assim que o Palmeiras trocou passes e, aos dez minutos, Wesley chutou para abrir o placar. E foi no único momento em que conseguiu uma arrancada que o Flamengo empatou. Aos 13, Nixon correu pela ponta e cruzou para Paulinho empatar. Mas o jogo era controlado pelo Palmeiras. Que, novamente, trocaria passes com propriedade, até que, aos 31, Wendel tocou para trás, e Valdívia deixou Henrique à vontade para o 2 a 1. Vaias, protestos, preocupação no estádio.
Nada como um tempo após o outro. Não demorou mais de 15 minutos para o Flamengo passar à frente. E a virada teve tudo a ver com Mugni e Alecsandro. Aos quatro, o argentino tabelou com André Santos, que deu belo passe para Alecsandro rolar e Márcio Araújo decretar o 2 a 2.
A torcida passou a acreditar, o time se transformou e o Palmeiras se encolheu. Aos 15, Mugni deu lindo passe para Alecsandro: 3 a 2. Surpresa mesmo foi o lance de Wallace, que saiu da defesa, driblou dois e deu meio gol para Alecsandro, que finalizou com eficiência.
O Maracanã da angústia e da descrença, passou a enxergar um horizonte melhor.
Fonte: Blog do Mansur