Não tenho dúvida de que essa demissão suja tenha sido a maior frustração da carreira de Jayme de Almeida. É quase impossível seguir adiante. Por mais que os amigos se solidarizem, a dor da injustiça não dá espaço para mais nada. É raiva o tempo todo e não passa tão rápido.
O momento mais duro de minha carreira aconteceu aos meus 28 anos, nas eliminatórias de 78. Seria minha terceira Copa do Mundo, essa na Argentina, e estava em ótima fase. O técnico era Claudio Coutinho. Faltavam dois jogos para o término das eliminatórias e, no Centro Residencial Beto Rockfeller, na Colômbia, reivindiquei aumento de nossas gratificações. Alguns jogadores concordaram, mas era uma insatisfação minha, não convoquei uma greve ou algo parecido. Expus isso numa reunião e o presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), Almirante Heleno Nunes, revoltou-se com a minha ousadia e me ameaçou na frente do grupo:
“Você nunca mais vestirá a camisa da seleção”.
Havia recuperado minha vaga no time e faltavam apenas duas partidas para nossa classificação, Peru (1×0) e Bolívia (8×0). Não fui chamado para o jogo contra a Bolívia, mas nunca imaginaria ser cortado da convocação final. Mas fui.
Os jornalistas, Ney Bianchi e Thales Batista, da Manchete, estavam lá em casa para uma matéria comigo. Levaram camisa da seleção e tudo para que eu posasse, me entrevistaram e liguei para meus amigos na França avisando que a seleção faria alguns amistosos por lá antes da estreia. Claudio Coutinho não me chamou. Os milicos mandavam na seleção, escalavam. Fiquei sem chão, destruído, arrasado. A traição nos desestrutura.
Imagino como o Jayme esteja se sentindo agora. Mas os ventos mudam, Jayme! Em casa, recebo uma ligação de Henfil me convidando para integrar outra seleção, a do Pasquim. Aceitei na hora. Precisava colocar meus demônios para fora de alguma forma e o jornal foi meu porto-seguro.
Jayme, não deixe essa inhaca contaminá-lo. Nossa história não pode ser arranhada por monstros. Minha solidariedade.
Fonte: Blog do Caju