Vinha sendo muito criticado por dar minha opinião sobre a incapacidade de nosso agora ex-treinador Jayme de Almeida de organizar e dar um padrão de jogo ao atual time do Flamengo.
Muitos questionavam: “Vão colocar quem no lugar”? Por mais estranho, contraditório e incoerente que possa parecer, afirmar que o técnico faz um mau trabalho, pode não significar, necessariamente, sua substituição, ainda mais quando faltam alternativas no mercado nacional e dinheiro para buscá-las no internacional.
Acredito de verdade que a simples demissão do treinador e sua troca por qualquer outro profissional seria inócua. Nosso problema está além das questões técnicas e táticas. Ele reside no âmbito estratégico, no nível de diretoria para cima. Está na falta de diretrizes objetivas que modelem a visão do que é o futebol do clube mais querido e poderoso do Brasil.
Falta um planejamento de longo prazo que comece na base do futebol, com a definição de um modelo de jogo, o trabalho de identificação de necessidades e desenvolvimento de jogadores de futebol identificados e comprometidos com nossa história de glórias.
Precisamos de uma diretoria que entenda o futebol conforme é jogado hoje. Chega de amadorismo! A profissionalização chegou para ficar. Sobreviverão os que se adequarem aos novos paradigmas.
Não há mais espaço para essa cultura da tentativa e erro, da politicagem, do apadrinhamento e privilégio a certos empresários. Não podemos mais aceitar que os jogadores milionários ajam como bem entendem. Eles precisam otimizar seu condicionamento físico e técnico, treinar diariamente alternativas táticas, fundamentos do futebol, estilos de jogo dos adversários.
Indisciplinas precisam ser identificadas e tratadas com rigor. Lideranças negativas devem ser expurgadas do grupo.
Fiquei aliviado mesmo quando ouvi a notícia de que, junto com o Jayme, Pelaipe também havia saído. Isso mostra que a diretoria está pensando um pouco diferente do que estávamos acostumados. A decisão confirma o fato óbvio de que a responsabilidade pelos fracassos recentes não deve ser pousada sobre os ombros de apenas uma pessoa.
A saída do Jayme para a contratação de outro treinador qualquer teria talvez um efeito momentâneo, mas não atingiria a raiz principal do problema.
Temos um time limitado sim, mas conheço histórias de times limitados em todos os esportes que unindo visão com disciplina, determinação, treinamento exaustivo e comprometimento alcançam objetivos inimagináveis. Em todos os casos, a competência de treinadores e dirigentes é acompanhada de um senso de responsabilidade só alcançado pela via de uma liderança forte.
É disso que precisamos: um líder no nível de diretoria que projete um Flamengo campeão, crie um modelo de jogo que seja uma marca do clube, como é o tic tac do Barcelona ou o estilo de toque de bola perfeito do excelente time rubro-negro da década de oitenta. Esse modelo, aliado a uma cultura que alie preparação física de excelência, profissionalismo total e raça, muita raça, deve ser difundido para o treinador e o elenco. Cada vez que os resultados em campo não aparecerem, a diretoria deve intervir para que os desvios de rota possam ser corrigidos.
O lado bom da troca de Jayme e Pelaipe veio, infelizmente, acompanhado de boatos sobre a contratação de Kleber Leite ou Marcos Braz para a diretoria executiva de futebol, dois exemplares dos tempos amadores do futebol. Sujeitos ineptos para dar ao Flamengo o aprofundamento de ações de profissionalização dos processos pedagógicos e administrativos do futebol do clube, desde as divisões de base até o elenco profissional, como deseja a diretoria de acordo com nota oficial emitida.
Seja bem vindo Ney Franco. A considerar a organização que tem dado ao time do Vitória recentemente, espero sinceramente perceber a melhora em termos táticos de que temos necessitado há meses. Mas isso não bastará para nos levar ao posto que tanto almejamos no cenário desportivo.
Seja qual for o treinador, com a vinda tanto de Kleber quanto de Braz continuará a nos faltar a figura do líder estratégico e conhecedor de futebol de que tanto precisamos.
E não podemos esquecer das evidentes necessidades de jogadores de qualidade para posições chave do time. Para pensar em ser campeão serão necessários alguns nomes acima da média. Sabemos das prioridades da nova diretoria, às quais dou meu total e irrestrito apoio. Na falta de jogadores deste nível, no curto prazo, a mudança de filosofia, o trabalho sério e treinamento, muito treinamento, serão suficientes para nos manter vivos durante os tempos de reconstrução.
Boa sorte ao Flamengo!
FLAVIEW