É angustiante como se troca de técnico no Brasil! A cartolagem parece viciada na estratégia única de, no mínimo aperto, chutar o traseiro de um e contratar outro. Quem já não ouviu aquela surrada frase, estúpida como muitas que circulam impensadas no futebol, de que é mais fácil trocar o comandante que o elenco inteiro? Como se treinadores fossem milagreiros, chutassem faltas, driblassem e, delírio dos delírios, fossem capazes de com palavras transformar pernas de pau em craques, goleiros fracos em muros intransponíveis e por aí vai. Do razoável, a mentalidade aqui passa a léguas de distância.
A ciranda é tamanha que é muito comum o novo técnico ser um velho conhecido, que em outro momento não serviu para esse mesmo clube, foi despachado, e agora é a solução. O argumento pode ser o “novo” momento do profissional, o que seria convincente no varejo, não no atacado, já que poucos técnicos parecem dispostos a se modernizar em nossas terras. Desespero é a etiqueta que deveria vir colada na testa dos presidentes dos clubes tupiniquins. De maneira geral, recorrem ao expediente único que joga para a torcida, dá falsa resposta e não resolve nada.
A supervalorização dos técnicos no Brasil é um fato insofismável. As vitórias e derrotas são mais imputadas a eles que aos jogadores. Basta ver os contextos de suas demissões. Sempre se encontra uma ação, ou passividade, para atribuir ao comandante culpa que nitidamente é do atleta ou, então, do jogo, que teima em ter um vencedor no final (ainda bem!). Jayme de Almeida foi defenestrado do Flamengo por quê? Conquistou a Copa do Brasil e o Carioca, foi eliminado da Libertadores e o time titubeava no começo do Brasileiro. É suficiente? Parece mais é força do vício mesmo, gestão de caminho único. Roubando triste lema do nosso futebol em tempos de ditadura: “Quando o time vai mal troque um técnico no nacional.”
Não importa que seja começo de competição, que os serviços prestados pelo profissional tenham sido satisfatórios e que as limitações do elenco sejam evidentes. Não chamar isso de amadorismo é queimar dicionários. Técnico é importantíssimo, mas sem tempo para trabalhar, com a instabilidade que predomina no Brasil, não produz. Arriscaria dizer que parte considerável da responsabilidade pela draga que está nosso futebol local, com jogos domésticos que servem como sonífero para os pobres insones, deve-se à falta de tempo para trabalhar. Imaginem se Andrés Sanchez (elogie-se o que é elogiável) tivesse mandado Tite para a rua quando da histórica eliminação do Corinthians para o Tolima em fase prévia da Libertadores? Não teríamos a oportunidade de conferir o melhor trabalho em muitos anos em nossas cercas. E o tal do Adenor teria permanecido em um injusto limbo, sem que soubéssemos de que ainda podia montar um time, com uma filosofia aplicada depois de exaustivos treinos e paciência da direção.
Enquanto a solução simplista for mexer no comando será fácil saber o porquê nosso futebol é mal gerido.
Fonte: Futebol e Ficção – Lancenet