É um texto de repúdio, sem fotos. Estranho comportamento dos jogadores. Após demonstrações inequívocas de incompetência e falta de disposição, culminando com o vexatório episódio do jogo contra o Cruzeiro, eles se sentem ofendidos? Gostaria que eles se travestissem de operários a construírem suas mansões; motoristas levando e trazendo suas mulheres e seus filhos; mecânicos dos seus carrões importados. Se o futebol não fosse uma bênção, a maioria esmagadora disputaria esse mercado. Se estivessem recebendo bem e em dia para exercerem esses honrosos ofícios, caso desmoronassem seguidas vezes paredes por eles construídas, se envolvessem em constantes colisões no trânsito, quebrassem com freqüência os motores por eles consertados, o que esperariam dos patrões? Elogios, afagos, carinho? E se os patrões notassem menos empenho do que o esperado, mais carinho, mais afago, mais elogios? E se fossem os cirurgiões de um filho deles, de um ente querido? Admitiriam falha?
Esses profissionais do Flamengo precisam se comportar como tal, entendendo que a crítica faz parte do processo. E a crítica dura e exaltada tem espaço numa apresentação desavergonhada como a de domingo passado. Há quarenta milhões de trabalhadores, muitos deles mal pagos, mecânicos, operários, motoristas, garis, serventes, cozinheiros, garçons e outros que amam o Flamengo acima de qualquer outra coisa. Eles deixam até de comprar algo para verem o time jogar. Acreditam que aqueles vestindo o Manto Sagrado incorporam esse amor, essa gana de vencer, essa garra desmedida. Esperam isso dessa gente que poderia estar no lugar deles não fosse um passe de pura Magia do destino. Desejam apenas vontade, muita vontade de representá-los contra o maior e mais temido adversário de todos: a derrota.
Nosso orgulho está ferido, jogadores. Não só dormimos na Zona desde a semana passada. Não na Zona que vocês estabeleceram junto com esses incompetentes dirigentes e essa lamentável comissão técnica. Mas na Zona que poderá nos levar à maior humilhação da história do futebol do clube. O agravante é que ficaremos no penúltimo lugar do campeonato por quarenta e cinco dias. Enquanto isso, uma gestão infeliz lhes concede o direito de férias, com certeza em retribuição à belíssima campanha na Libertadores e no Brasileiro. Não ouviram falar de premiação por resultados. E o capitão se sente ofendido e não retorna com a faixa para o restante do jogo. Um jogador que entrou no ônibus rubro-negro outro dia se julga em condições de questionar? Estamos sem comando mesmo, a herança dessa administração é cruel.
E saibam os simpatizantes dessa gestão, aqueles que me detratam a cada coluna de críticas incisivas que tenho feito, que só estou começando. Vou escrever sempre que puder contra esses desmandos e lambanças. Fiz isso contra a gestão anterior, basta ler os meus textos da época. Fiz, faço e farei contra os de agora e os que vierem. Meu compromisso é com a minha paixão, o Clube de Regatas do Flamengo. Não torço por carecas, cabeludos, ex-atletas, empresários e quetais. Torço pelo Manto Sagrado, pelo clube que se apropriou do meu coração e da minha alma há mais de cinqüenta anos, quando aos sete anos gritei É CAMPEÃO pela primeira vez. Jamais tive, não tenho e nem terei benesses de dirigentes do clube. Sou sócio proprietário há mais de trinta anos, sócio torcedor de primeira hora. Não rasguei meus títulos. Amo o Flamengo e abomino os que o tratam mal. Honestidade não é virtude, mas mera obrigação. E o Flamengo não precisa apenas de quem seja honesto. Necessitamos de criatividade, dedicação plena, competência, sucesso, brilhantismo. Arrogância é a cortina de fumaça dos fracos. Êxito de dirigente na vida profissional não me interessa, não traz qualquer vantagem para o Flamengo. Quero êxitos bombásticos em vermelho e preto.
NÓS QUEREMOS RESPEITO E COMPROMETIMENTO.
ISSO AQUI NÃO É BRASIL, ISSO AQUI É FLAMENGO!
Por Alexandre Fernandes
Por Alexandre Fernandes
Fonte: Magia Rubro-Negra