O argentino de 25 anos, sem passaporte europeu, formado no Vélez, teve uma curta passagem pelo Villarreal, na qual não teve uma sequência adequada, voltando assim para o Vélez em meados de 2013 onde esteve até então, conseguindo um bom destaque na Libertadores deste ano.
Muitas análises sobre o jogador saíram recentemente, a maioria destacando sua técnica e capacidade de armar o jogo, inclusive muitos lhe atribuindo a função de armador como se fosse o camisa 10, entretanto é importante ressaltar que sua formação de base e início de carreira foi como volante e não meia de criação como andam sugerindo que ele seja no Flamengo.
E é justamente o posicionamento de Canteros que me motiva a escrever hoje, afinal em um local completamente deserto que é o meio campo do Flamengo, a tendência é de que a torcida diga: escolhe aí onde quer jogar e o número da camisa. Entretanto este não é o melhor meio de se pensar a organização do time e o novo esquema de Ney Franco com 3 zagueiros.
Antes de discutir mais a fundo o meio de campo é bom salientar que o esquema 3-5-2 montado no Flamengo não é retranqueiro, não visa lotar a defesa e esvaziar o ataque. O objetivo é formar uma linha de 3 zagueiros que dê conta de proteger as laterais e fazer uma saída de bola qualificada, liberando os laterais para serem mais ofensivos (o que não significa que não precisem marcar) e na frente com Paulinho e Éverton em campo a tendência é de que com a bola o esquema mude para o 3-4-3 com ambos fazendo a função de pontas que estavam acostumados no esquema anterior.
As opções que Ney Franco tem pro meio campo são basicamente:
Amaral e Recife: Ambos são os volantes de maior poder de marcação do elenco, sendo os únicos primeiros volantes de fato. Apesar de terem velocidade e maior poder de marcação não possuem grande qualidade com a bola nos pés e geralmente acabam por entregar ao adversário a posse da bola logo após terem feito o desarme.
Muralha e Márcio Araújo: São volantes que tendem a equilibrar o poder de marcação com a técnica para dar passes que fazem a transição da bola para o ataque, inclusive lançamentos e inversões. O problema de ambos é que rendem muito abaixo do que podem, o primeiro sempre pecando pelo preciosismo e tentando fazer jogadas de “craque” ao invés de privilegiar o básico, já o segundo some do jogo sem mais nem menos, extremamente passivo, o que também o leva a um número excessivo de erros.
Cáceres: Pode fazer a função de 1° volante, porém sua formação é de 2° volante, posição em que teve poucas oportunidades de atuar no Flamengo. Apesar de lento, tem bom posicionamento, boa técnica e principalmente é nossa melhor opção em jogos aéreos defensivamente ou ofensivamente. Com uma melhor preparação física deve se lesionar menos no restante do ano.
Luiz Antônio: É veloz, pode armar o jogo como um 3° homem de meio e fazer a cobertura do lateral/ala, até jogar na função de lateral se for o caso, apesar de suas características ofensivas serem muito melhores que as defensivas. O grande problema é que ainda não jogou bola em 2014, talvez todo aquele imbróglio jurídico tenha determinado que o melhor caminho pra ele seja mesmo ir para outro clube.
Elano: Eu não consigo mais vê-lo como jogador profissional de série A ou mesmo B, tem visão de jogo e sabe distribuir, armar, mas não o faz. Sequer consegue participar do jogo, corre para não chegar, não marca, não pede a bola, não recua pra ajudar na saída de bola, não aparece pra finalizar, vive de tocar pro lado ou, raramente, quando recebe a bola sozinho faz uma jogada de mais efeito. Aliás com seu histórico médico dos últimos anos, até visando a própria saúde e qualidade de vida, deveria se aposentar enquanto ainda consegue andar, afinal dinheiro já tem e muito.
Mugni: Ainda não conseguiu sequência, mas fez bons jogos e é esforçado, tenta participar bastante do jogo, se movimentar por todas as regiões do meio e ataque, sabe distribuir o jogo, tem visão para escolher o companheiro melhor posicionado e recurso técnico para ser objetivo, agudo, coisa que nenhum outro meio campista do Flamengo consegue.
Mattheus: Ney Franco ensaia usá-lo como atacante de movimentação, o que pode ser uma boa já que finaliza muito melhor que Paulinho, Nixon e Sartori sendo inclusive um goleador na base. Tem boa técnica, visão de jogo e pode se desenvolver tanto como armador quanto como um meia atacante, mas ainda é cru, a transição da base para o profissional é um problema no Flamengo e o garoto precisa de mais orientação, no que talvez Ney Franco seja bastante útil.
Éverton: É um bom carregador de bola, tem técnicas que favorecem como o drible e o toque rápido, aparece bem para finalizar, mas não é armador, não tem grande visão de jogo e não sabe cadenciar, por isso geralmente está posicionado como meia pela esquerda, ponta ou ala. Aliás, no esquema com 3 zagueiros é claríssimo que deveria atuar como ala pela esquerda.
Terminada a revisão acima, vamos a discussão do meio de campo que eu gostaria de ver no Flamengo. O conceito é simples, volantes que combinem poder defensivo com técnica de saída de bola e auxílio na armação do jogo, um armador que tenha boa visão de jogo e saiba cadenciar e acelerar quando necessário e, por fim, alas que sejam eficientes ofensivamente e tenham responsabilidade e força na marcação assim como os volantes.
E aí temos a discussão do que é o tal “volante moderno” que tanto se fala nos últimos anos. A resposta é simples, quem acompanha o futebol internacional ou está vendo a Copa do Mundo está vendo estes volantes o tempo todo. Contra o Brasil, Sampaoli escalou o Chile com Díaz de 1° volante e Aránguiz de 2° volante, ambos com responsabilidades defensivas claras, porém sabendo não apenas fazer a saída de bola, mas auxiliar na armação ou fazer ele mesmo a jogada criando o ataque, distribuindo o jogo e dificultando a marcação do Brasil. Ao ver a seleção espanhola ou o Barcelona todos vemos Xavi sendo um dos principais armadores do jogo e é volante, assim como Schweinsteiger da seleção alemã, que deu um salto de qualidade quando este se recuperou da lesão e pôde voltar a jogar. O volante moderno é o cara que sabe jogar com a bola no pé, armar o jogo, tem qualidades técnicas no passe e não foi adiantado pra ser um meia armador meia boca na transição do juvenil pros juniores ou dos juniores pro profissional, afinal quanto mais qualidade o jogador tem, mais tentam adiantá-lo para suprir a carência de meias, só que acabam ficando sem um bom meia e um ótimo volante para ter um armador meia boca.
Canteros pode ser este volante para o Flamengo, o cara que por estar numa posição mais recuada em campo acaba tendo mais visão do jogo para escolher o melhor companheiro livre, ver os buracos na marcação do adversário, sem no entanto receber uma marcação mais forte, afinal os defensores adversários estão marcando os atacantes e o meia, sobrando para o atacante adversário, menos qualificado no desarme, fazer a marcação deste volante. É a volta da função do 8, que antigamente era o “craque” do time, enquanto o 10 era o cara do último passe pro 11 ou 9 finalizarem.
Portanto, não vejo o porquê desta insistência em colocar Canteros como o 10 do Flamengo e subutilizar o meio de campo, engessá-lo mais do que já é pelas limitações do próprio elenco. Ney Franco pode assim mudar o meio para deixá-lo mais competitivo, reter mais a bola e dominar o meio de campo, o que o Flamengo não conseguiu fazer na maior parte dos jogos desse ano.
A escalação acima foi feita mexendo o menos possível no que Ney Franco tem usado nos treinamentos. Cáceres e Canteros serão os volantes que se alternarão no auxílio ao armador, sendo o paraguaio apesar de mais lento, mais dedicado e com melhor técnica que Amaral e Recife, além de fortalecer o jogo aéreo do Flamengo. Assim, a troca de André Santos por Éverton é natural, afinal Canteros faria o que se espera do Éverton no meio e este é muito melhor ala que André Santos. Já a troca de Elano por Mugni é óbvia, prefiro um garoto que precisa de rodagem e tem vontade e talento que um volante que fisicamente não aguenta mais jogar em sua posição e foi deslocado pro meio, onde até então não mostrou a que veio. Lembrando ainda que com o trio gringo no meio a tendência é a diminuição dos erros de passe e aumento do entrosamento, não ficará redondo logo de cara, mas certamente é algo com potencial de melhora a curto e médio prazo, ao contrário da combinação de um 1° volante brucutu com Canteros e Elano deixando Éverton no banco para a manutenção de André Santos na ala, como é possível de vermos no retorno do Campeonato Brasileiro.
Fonte: Flamengo em Foco