Vanderlei Luxemburgo teria sido preciso na avaliação se, no lugar de dizer que a Copa do Mundo não teve “nada de moderno”, dissesse que não teve “nada de novidade”. Acertou ao dizer que o conservadorismo da Holanda, que usou e abusou de uma linha de cinco defensores, não representa propriamente um avanço. Mas ignorou que seus meias e atacantes, estes sim, foram modernos. Atacaram e defenderam, movimentaram-se de forma incessante e em velocidade. Como foi moderna a imprevisibilidade de um time que variou dos três zagueiros aos três atacantes.
Também parece equivocado dizer que a mobilidade e polivalência dos volantes, meias, atacantes e até do goleiro alemão não sejam uma modernidade. A grande diferença, produto justamente do mundo moderno, é que não são uma surpresa. A Copa não surpreende mais. O Mundial do Brasil teve futebol bem jogado, de excelência. Mas nunca mais se verá uma revolução numa Copa. Porque a globalização não permite.
Quando o Brasil era surpreendido pelo futebol total europeu nas famosas excursões da seleção, quando o carrossel holandês assombrou, o mundo era outro. A Copa era uma espécie de congresso, de feira internacional em que cada país expunha o seu futebol ao planeta. Um encontro com o novo. Hoje, quem se interessar, terá exibições diárias do melhor futebol do mundo na TV. Nos melhores campeonatos europeus, há jogadores do mundo todo, da Argélia à Costa Rica. Todos aprendem, evoluem. E a Copa apenas reflete tendências. Exibe o jogo moderno, mas não um jogo desconhecido.
Após um mês de imersão na elite, o reencontro com o futebol doméstico do Brasil, por vezes, assusta. Deixou de ser lento, pouco dinâmico. Hoje, o problema é outro. Corre-se desgovernadamente pelo campo, numa soma de esforços individuais. Quase sempre de cabeça baixa. Raro ver times que se associem para jogar. Zagueiros chutam para a frente como se não houvesse amanhã. Mas há exceções. E são elas que devem decidir o Brasileirão.
Campeões do mundo ditam tendências e, por vezes, nos fazem acreditar que seu estilo é proprietário exclusivo das virtudes de se jogar futebol, como se só houvesse um jeito de vencer. Mas os melhores times do Brasil, embora diferentes da Alemanha em estilo, são a antítese do atraso.
Cruzeiro e Corinthians jogam, hoje, o melhor futebol do país. Não são adeptos da troca de passes incessante. São mais agudos, preferem a retomada de bola seguida do contra-ataque veloz. O que não é crime, é estilo. Quem viu o primeiro tempo do Corinthians contra o Bahia, pela Copa do Brasil, viu tudo menos um time ultrapassado. Volantes se apresentando no ataque, meias jogando abertos e, por vezes, buscando o centro do campo, atacantes de mobilidade. Pouca previsibilidade. Pareceu promissor.
Promissor também parece ser o Fluminense de Cristóvão Borges, que arrisca e envia uma saudável mensagem ao futebol brasileiro com Jean e Cícero à frente da zaga. Solução moderna. No Internacional de Aránguiz, no São Paulo ainda em formação, é possível colher momentos de bom futebol em meio à oscilação.
O cenário pode não ser animador, mas há sopros de esperança aqui e ali.
Fonte: Blog do Mansur