André Santos foi mandado embora? Não foi? Fica de verdade ou fica de mentirinha? Será que não vai jogar domingo, mesmo sem treinar? Ausentar-se do treino não é motivo para “justa causa”?
Se André não foi, Ney foi. Nada mais óbvio e nada mais deprimente para quem pensa na necessidade de um futebol melhor. Como se diz no mundo da bola, ele não ganhou, não tem controle sobre o “grupo”, não conhece o elenco e, crime dos crimes, durante a parada da Copa e férias de todo mundo, foi com sua família para a Disney. Pecado mortal imperdoável para a orquestra de corneteiros, internos (os piores) e externos. Ao fim e ao cabo, Eduardo Bandeira de Mello não resistiu e defenestrou Ney Franco.
Em meio às pressões e à boataria de que o ex-presidente Marcio Braga assumiria o futebol, justo o futebol, e com outro ex, o Kleber Leite, já “contratando” (mas ressalvando que o clube trata disso) Robinho por módicos 900 mil… mensais – ah, mas pagos por três patrocinadores (como se isso fizesse algum tipo de diferença) – e para jogar apenas 5 meses – isso mesmo, cinco meses e não cinco anos –, o Flamengo viveu uma semana interessante, naquele velho sentido de “fugiu à rotina”, o que geralmente significa tempos ruins, tenebrosos, problemáticos.
Fechando esse período conturbado (salvo algo novo na tarde dessa sexta-feira), chegou à Gávea, uma vez mais, Vanderlei Luxemburgo. Dizem que baratinho, coisa de 350 mil mensais, o mesmo, parece, que ganhava Ney Franco.
No mínimo uma coisa boa resultou dessa contratação: o Flamengo mostrou-se afinadíssimo com a CBF. Enquanto essa regrediu e trouxe Dunga, o Flamengo regride e contrata Luxemburgo.
“Tamo junto, parça!”
Paciência. Às vezes não se deve esperar algo de onde nada costuma vir.
Assim é o futebol no Brasil.
Muito se fala em “democratizar” a CBF, mudar a CBF, intervir (parece que não é só na guerra e no amor que vale tudo, no futebol também) na CBF, mas pouco ou nada é falado sobre mudar a verdadeira base do futebol – os clubes.
Embora não dito de forma explícita, ficou claro nesse bafafá rubro-negro que é preciso malandragem, no seu velho, péssimo e triste sentido – para dirigir o futebol. Aparentemente, seriedade e modernidade no futebol só podem existir além-fronteiras, além-mar. Por aqui é diferente. E o mesmo boleiro que se comporta e joga de um jeito lá fora, quando de volta esquece o que aprendeu lá e pratica o que aprendeu aqui desde criança.
Para esse olheiro e escriba, resta seguir o que ditava antigo treinador do escrete canarinho: é preciso reverter as expectativas.
Sim, preciso reverter minhas expectativas.
Independentemente desse charivari de vestiário, espero que a gestão do presidente Bandeira de Mello ao menos mantenha seu rumo original, elogiado muitas vezes aqui nesse espaço: sanear o clube, deixando-o economicamente viável e sustentável. O que será muito mais difícil a partir de agora.
Aparentemente, a importância desse objetivo não foi percebida por uma significativa parte da torcida, a mesma que vibrou com a agressão a André Santos e conseguiu seu afastamento do time, provando, em pleno século XXI, que a força bruta e a violência têm razão de ser em coisas banais do dia a dia. Ficou claro, igualmente, que tudo que importa é “ganhar” hoje, custe o que custar. Afinal, o futuro está aí para ser empurrado com a barriga, ação permanente praticada por todos que estão na mesma vala comum.
Até quando?
Fonte: Olhar Crônico