Impeachment no Fla é patético, e a torcida precisa confiar.

Já comentei em outros posts uma frase de Kleber Leite, proferida há alguns anos, quando era vice-presidente de futebol em uma das gestões de Marcio Braga. Disse ele, então, que era muito difícil administrar o futebol (e o clube, claro), pois, de repente, aparecia um fantasma do passado e jogava no lixo todo o trabalho que estava sendo desenvolvido.

O fantasma da frase de Leite era alguma cobrança de dívida perdida no tempo e na memória. Quando ele surgia, de repente não mais que de repente, lá se ia o dinheiro do salário dos jogadores, sempre o primeiro a ser consumido, até por ser o valor maior do mês a mês. E aí… Bom, aí a rapaziada chiava, passava por um processo quase instantâneo de desmotivação – que muitas vezes é inconsciente, a pessoa não percebe ou acha que não está desmotivada, mas seu corpo diz e pensa de forma contrária – e na sequência vinha a chiadeira da torcida devido aos resultados em campo.

Assim vem vivendo o Flamengo há décadas. É possível que no dia em que suas contas forem saneadas totalmente, diminua o número de acidentes cardiovasculares na cidade do Rio de Janeiro. Porque o torcedor sofre com isso, como vem sofrendo hoje.

Antes de prosseguir essa leitura, recomendo, insisto mesmo, que você leitor, rubro-negro ou não, leia esse post do Arthur Muhlenberg, responsável pelo Urublog, o blog da torcida do Flamengo no portal GloboEsporte: Burn, baby,burn.

Em linhas gerais concordo com tudo que o Arthur escreveu, inclusive na crítica à atual gestão pela virtual acefalia do departamento de futebol. Se com um cabeça à frente o mundo já desaba sobre o treinador e um ou outro jogador, sem ter esse responsável desaba ainda mais e com mais força.

Já na noite de ontem, o colunista de O Globo, Renato Maurício Prado, grande conhecedor das pessoas e coisas do Flamengo, voltou a falar sobre o movimento que une as várias correntes de oposição à gestão de Bandeira de Mello, dessa vez até com participação de apoiadores da Chapa Azul (nome da chapa de Bandeira de Mello na eleição, para o leitor que não torce ou não conhece a política do Flamengo).

Segundo ele, por temerem o rebaixamento para a segunda divisão, falam até em impeachment do presidente atual. O que é extremamente curioso e seria interessante se não fosse, digamos, com o máximo de respeito possível, um tanto quanto patético.

Apesar da gestão responsável, corajosa e decente dessa diretoria atual, visando reconduzir o Clube de Regatas do Flamengo a uma situação econômico-financeira e também jurídica ao menos razoável, que permita trabalhar em paz (esforços que esse OCE acompanha desde o início), Informações diversas dão conta que os salários dos jogadores, pelo menos em parte, estão atrasados dois meses.

O motivo? Basicamente, a interrupção dos pagamentos do patrocínio pela CEF, patrocinadora máster do clube. Isso ocorreu porque o Flamengo perdeu a CND – Certidão Negativa de Débitos – e sem ela os órgãos e empresas públicas não podem efetuar pagamentos.

Por que o Flamengo perdeu a CND, arduamente conquistada meses atrás?

Porque “apareceu” no radar uma dívida do clube na faixa de 80 milhões de reais (valor atualizado, com juros e correção), inscrita pelo Banco Central no CADIN (Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal), por conta de irregularidades no registro de várias transações 33internacionais, entre os anos de 1990 e 1998 (leia aqui matéria do portal GloboEsporte a respeito).

Eis, aí, um dos “fantasmas do passado” citado por Kleber Leite.

Pergunta o leitor e se não perguntou deveria ter perguntado, quem foi que gerou essa dívida? Sim, porque o BC não a inventou, ela não saiu do nada, alguém foi responsável e, em regime presidencialista, esse alguém é sempre o presidente.

Uma pesquisa rápida mostrou que entre 1990 e 1998, o Flamengo teve quatro diferentes presidentes:

– Gilberto Cardoso Filho em 1990;

– Márcio Braga, em 1991 e 1992;

– Luiz Augusto Veloso, em 1993 e 1994;

– Kleber Leite, de 1995 a 1998, inclusive.

O fantasma de hoje nasceu no período dessas quatro gestões, como informa o Banco Central do Brasil.

Segundo informa o Renato Maurício Prado, cogita-se entre os opositores que Márcio Braga assuma o futebol do clube.

Isso acontecendo, um cruel e irônico círculo será fechado novamente.

O momento é difícil e delicado para o clube e para o presidente Bandeira de Mello. Alguma medida tem que ser tomada no futebol e, acredito eu, a mais indicada, correta, seja a nomeação de um responsável político pela área, independentemente do Comitê Gestor.

Essa situação coloca em risco toda a gestão que vem lutando para manter o clube vivo e, mais que isso, com boas perspectivas futuras. Apesar das informações disponíveis, que não são poucas, o torcedor rubro-negro acreditou que tudo estava resolvido e que o clube já navegaria em águas mansas.

Não é assim.

Mesmo com a boa receita de 2013 e com bons resultados em 2014, o dinheiro não é suficiente para fazer frente a todas as necessidades do clube. Uma perda na receita com os programas de sócio-torcedor, algo que já se desenha com clareza, contribuirá para agravar ainda mais a situação.

“Ah, mas estão gastando demais com um time ruim!”

É verdade, gasta-se um bom dinheiro com o futebol profissional e parte desse valor pode e deve ser creditado à pressão brutal, pacífica ou não, que a torcida e os públicos “internos” da própria Gávea exercem sobre a direção.

No afã de contratar, a diretoria acabou por fazer negócios ruins, com jogadores caros e que não rendem mais o que já renderam em outros tempos. Ao mesmo tempo, nem sempre é possível aproveitar os valores da base, especialmente em situações extremas como essa, o que torna essa equação ainda mais difícil de ser resolvida.

O clube tem dois bons profissionais à frente do futebol: Ney Franco e Felipe Ximenes. Sei que é difícil, mas o torcedor precisa ter um mínimo de confiança e deixar os profissionais trabalharem.

Muricy Ramalho diz, especialmente quando irritado, que “o pessoal” (torcedores e também parte da imprensa) não sabe nem 10% do que acontece no vestiário. Realmente, essa é uma verdade que frequentemente ignoramos. Muitos detalhes, muitos acontecimentos internos não são conhecidos e isso torna mais fácil nosso trabalho de técnicos – sim, somos todos técnicos de futebol e todos nós acreditamos saber a escalação correta e o jeito certo de vencer quem quer que venha pela frente, até mesmo a Seleção Alemã.

A vida real, porém, não é tão comportadinha e é dentro dela que vivemos.

É dentro dela que se desenvolve o futebol. Ney passou o período da Copa pedindo reforços e, parece, também uma solução para os casos dos jogadores que vêm sendo perseguidos pelos torcedores. Nada aconteceu e duvido que por má vontade ou incompetência dos responsáveis e sim devido a dificuldades objetivas, claras, duras, todas relacionadas com dinheiro. Dessa forma, o técnico Ney Franco, que vive disso, é profissional e tem currículo expressivo, tem que trabalhar com o que tem à mão e tentar fazer o melhor possível de acordo com a realidade e não com uma situação idealizada por quem está fora da intimidade do dia a dia do futebol.

Todos reconhecem que ele fez várias tentativas de montagem de time nas últimas semanas, sem conseguir um resultado que agradasse. Não há como fugir disso hoje, tem que continuar buscando uma formação que permita ao time sair do buraco em que se colocou.

Isso provavelmente aconteceu porque, talvez, antes da formação, seja necessário conseguir um “psicológico” melhor, mais animador, que dê condições para os jogadores se sentirem mais confiantes. Ninguém trabalha bem sem confiança em si próprio, no grupo e no trabalho que realiza. E esse “psicológico” inclui o bolso ou a conta bancária de quem está trabalhando.

A agressão ao jogador André Santos, ontem, além de ser criminosa – sim, foi crime, com todas as letras e os culpados têm que ser presos e processados – e estúpida ao extremo, serviu apenas para apavorar ainda mais os jogadores, tirando-lhes toda a tranquilidade para trabalhar.

Todos eles estão no Flamengo trabalhando. Dependem disso para viver e manter suas famílias. Não estão lá por hobby ou por diversão ou diletantismo. Se existe uma pessoa que quer ganhar pontos, jogos, campeonatos, taças, é um jogador profissional. Ele quer isso tanto quanto os torcedores e, não poucas vezes, até mais. Afinal, ser campeão é conquistar um bilhete para um futuro melhor para ele próprio e toda sua família, além da satisfação imediata e redentora trazida pelas vitórias.

O torcedor precisa respeitar isso. Jogador respeitado rende muito mais.

É nessa condição que todos ganham.

O Flamengo vive uma crise que há muitos e muitos anos se desenha no horizonte. Os atuais dirigentes sabiam disso, como sabiam também todos os outros, embora nada tenham feito de concreto para impedi-la.

Tirar essa direção ou compromete-la seriamente, só contribuirá para um futuro muito mais complicado para o clube. É difícil engolir isso, mas é a realidade e o remédio é amargo e, de um jeito ou de outro, acabaria por comprometer o futebol.

Para existir futebol tem que existir o clube. E para o clube existir, ele precisa, é óbvio, estar vivo. Eduardo Bandeira de Mello e seus companheiros de chapa vêm trabalhando com essa visão desde a candidatura.

De preferência sem novas “mágicas” que tornem o futuro ainda pior e mais difícil de resolver do que já é hoje.

Fonte: Olhar Crônico

Coluna do Flamengo

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