A coluna de hoje se divide em duas partes: a primeira trata dos problemas relativos à gestão do Clube de Regatas do Flamengo. A segunda trata dos problemas do rubro-negro dentro de campo. Vamos a elas:
Afiar o machado
Como alguns que me lêem já sabem, sou administrador. Na empresa onde trabalho, ouvimos incessantemente que os resultados positivos continuados homologam o modelo de gestão adotado. Ou seja, quando apresentamos bons e duradouros resultados, é sinal que estamos gerindo da maneira correta, que estamos no caminho certo. Quando, por outro lado, não apresentamos tão bons resultados assim, paramos e analisamos as nossas falhas, de forma que possamos aprender e alterar o rumo da nossa caminhada para atingir o sucesso.
No futebol, resultados positivos não são traduzidos apenas em saldos financeiros. É importante entender que nesse esporte, e principalmente no Flamengo, as finanças são sobrepostas pelos resultados obtidos dentro de campo. Óbvio que a ligação entre os resultados e as finanças é íntima e sou um dos defensores de um clube sério, responsável e saneado financeiramente. Mas não existirá paz sem resultados aceitáveis nas quatro linhas.
Chegou o momento de parar, olhar para os 18 meses de trabalho e afiar o machado. Tem coisa boa ao longo desse caminho, mas também aconteceram erros que podem ser vistos a olhos nus. E cada erro, na verdade, é um dilema. Se visto apenas como uma falha a se esquecer, nada acrescenta ao homem e ao clube. Mas se visto como uma importante etapa do aprendizado, pode gerar mais conhecimentos e riquezas que o próprio acerto. Como gestores renomados que são, os comandantes do Flamengo sabem o quanto é importante essa análise tempestiva do trabalho. Mas seriam nossos dirigentes humildes o suficiente para cumprir tal etapa de reflexão?
Falta de convicção
Ney Franco chegou ao clube para substituir o vitorioso Jayme de Almeida. O técnico anterior parecia não conseguir mais dar liga ao time, parecia ter perdido a mão. Substituí-lo parecia coisa certa a fazer, apesar de o processo ter sido mais doloroso e atrapalhado do que o necessário.
A chegada do Ney Franco, apesar de não ser nome de consenso entre os rubro-negros, trouxe a expectativa de dias melhores. Como assumiu no meio do campeonato, os cinco primeiros jogos sem vitórias foram de certa forma “perdoados” por conta da necessidade que o novo treinador tinha de implantar seu modelo tático e fazer suas escolhas técnicas. A parada da Copa do Mundo era o momento ideal para isso.
Chegou ao fim a Copa, voltou o Brasileirão e em campo o que se viu foi uma surpresa. Na verdade, uma surpresa extremamente negativa. O time mais parece um bando. Jogadores que não honravam o manto continuaram a envergá-lo, como se fossem imunes a qualquer mudança. E o pior: O esquema tático adotado e treinado durante o período de recesso foi desfeito porque uma peça se lesionou. Voltou-se, por conta de um único jogador, ao esquema que não estava dando certo antes da parada.
Esse último fato parecia ser o mais grave. Parecia. Pois no último jogo, nosso treinador conseguiu praticamente nos fazer esquecer o que é um esquema tático. Tinha cabeça de área na lateral-direita, lateral no meio-campo e meio-campo cobrindo a lateral-esquerda. Isso para não entrar no mérito das péssimas escolhas técnicas exercidas pelo nosso comandante.
Se o jogo contra o Internacional serviu para alguma coisa, foi pra perceber que Ney Franco não está mais em condições de ser técnico no Mengão. Mas na verdade, a última partida serviu pra mais: tem jogadores que não podem mais vestir nosso manto sagrado.
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Observação 1: Muitas vezes podemos não conseguir enxergar, mas é sempre bom lembrar: Jogadores são seres humanos e nada justifica quaisquer tipos de violência. O melhor que o torcedor rubro-negro pode fazer nesse momento, em minha opinião, é apoiar incondicionalmente o já limitado selecionado do nosso clube. Mas entendo perfeitamente quem deseja mudanças e quer protestar. Só devemos tomar o cuidado para que os movimentos ocorram sem violência, até para que se dê a devida atenção aos protestos.
Observação 2: Seria legal explicar para alguns jornalistas e para alguns rubro-negros que nem todos os membros de Torcidas Organizadas ou torcedores comuns que decidiram protestar são vagabundos ou criminosos. Lutar por dias melhores no clube que amamos não é crime e sim um direito que qualquer rubro-negro possui. Faz parte da democracia.
Fonte: Falando de Flamengo