Como todo ser humano de sexo masculino, as vezes me pego pensando “como seria”. O povo, o campo, a bola, o golaço e eu correndo de braços abertos para comemorar. Sempre aos 44, sempre numa decisão, afinal, se é pra sonhar que seja pra valer a pena.
Eu queria jogar no Flamengo.
Eu não ia a um estádio desde a final da Copa do Mundo, curiosamente no mesmo Maracanã. Naquele dia eu fui pra secar, ver o desespero alheio e dizer, pro resto da vida, que estive numa final de Copa.
Hoje fui pra ver gente. Muita gente. O jogo em si pouco me interessava pois o futebol do Flamengo é pobre, cansativo, não vale nem o ingresso. Mas eles, que pagam pra entrar, deviam cobrar quando saem.
É repetitivo, os rivais enlouquecem, a “Flapress” aparece, mas… como eu queria jogar no Flamengo. Um dia, só uma vez. Mas eu queria saber como é perder a identidade por alguns minutos.
Deixar de ser fulano pra ser parte de uma massa que te empurra numa direção sem mais se importar com sua vontade própria.
Aos 10 minutos do segundo tempo, como que avisados por alguém ou ensaiados de véspera, aquele povo todo começou a pular e cantar numa altura de final de campeonato. O Atlético foi recuando e o time do Flamengo perdeu rostos. Ninguém viu quem errou passe, quem fez o gol, quem sofreu o pênalti. Não havia mais qualquer individualidade no Maracanã.
Da cativa ao camarote, do treinador ao centroavante, era uma certeza de que algo aconteceria a seu favor quase inabalável. Eu diria, agora, após o jogo, que eles já sabiam. Pois nem assistindo a um VT de um jogo eu consigo ter tanta fé no resultado.
Aos berros, empataram. E como quem psicografa um livro, tomados por espíritos que não são deles, os jogadores do Flamengo foram ganhando confiança, talento, vontade, divididas e o campo adversário.
Até que Eduardo empurrou pro gol e correu na direção do povo. Você pode jurar que quando um jogador vira uma partida e corre pra torcida ele quer dizer: “Eu sou foda! Me aplaudam!”.
Mas eu juro que neste caso, e talvez somente neste clube, ele correu dizendo “obrigado!”.
Fonte: Blog do Rica Perrone
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