O vice-presidente de esportes olímpicos Alexandre Póvoa volta ao blog com análises e novidades sobre o basquete, a estrutura da Gávea e os demais esportes olímpicos.
Confira:
– Walter Herrmann fechado. Augusto Lima tem alguma chance? Como você planeja a temporada? Tereremos uma contratação pontual para o Mundial e NBA?
A contratação do Herrmann foi a mais difícil de todas, desde que a gente assumiu em 2013. Ele sempre foi a nossa primeira opção. Na primeira sondagem, o empresário e o atleta nem quiseram escutar. Chegamos a observar alternativas, mas nunca fomos adiante de forma concreta. Insistimos, conversamos diretamente com o atleta (acho que foi fundamental para dar confiança a ambos os lados). Ele tinha propostas de clubes argentinos e sondagens para voltar para a Europa. Acho que ajudou muito o fato do Nicolas e do Gonzalo Garcia terem dado boas referências do clube, além do calendário muito bom que temos e o prestígio que o Flamengo vem construindo no basquete. Estamos felizes porque, além de ser um jogador de altíssimo nível (campeão olímpico, NBA e Liga Espanhola, em todas as competições como destaque), pelas conversas que tivemos, trata-se de uma pessoa também de um patamar intelectual e de formação alto, dentro e fora da quadra. Tem uma história de vida muito dura, o que deve ter contribuído nessa formação. Esse fato foi levado em conta, porque ele vai se juntar a grupo já formado e que tem essa característica. É importante não somente pela temporada inteira, mas sobretudo porque ele só terá 12 dias aproximadamente para treinar com o grupo antes do jogo com o Maccabi Tel Aviv. Quanto ao fato de ter 35 anos, o fato de ele ter sido MVP da Liga Argentina ano passado e convocado (para efetivamente jogar) o Mundial, faz com que essa preocupação fique diminuída.
Não gostamos de trazer um terceiro estrangeiro no começo da temporada, como política. Anos passado, chegamos a ser criticados por não ter renovado com o Kojo ou com o Zanotti. Achamos que jogador estrangeiro só deve vir em duas condições – para fazer diferença (contratações de começo de temporada) ou para suprir alguma lacuna no meio da temporada (seja técnica ou física). Como foi o caso do Washam na temporada passada, com a contusão do Benite. Temos somente “três tiros” para estrangeiros, fomos pacientes e acho que tomamos a decisão correta. Mas nesse ano, dado o calendário, tivemos que abrir essa exceção, o que é um risco, mesmo com um jogador de ótimo nível.
Quanto ao restante do elenco, acredito que montamos na temporada passada um equipe mais qualificada e equilibrada relativamente à temporada anterior. Mesmo tendo sido “campeão de tudo”, o que nos deixou muito felizes, acreditamos que o grupo não rendeu tudo que podia. Pelo nível dos jogadores, poderíamos ter ganho alguns jogos com mais facilidade. Isso não é crítica, até porque vários fatores contribuíram negativamente: Marcelinho, 39 anos, voltando de uma contusão seríssima de 10 meses de parado; Marquinhos perdeu todo o segundo semestre por conta de uma complicação de uma cirurgia simples; a contusão feia do Benite; Nicolas e Jerome, apesar de serem jogadores de alto nível, não renderam tudo que podiam, porque é o primeiro ano de Brasil, a adaptação não é tão fácil. Tenho a convicção que o mesmo time vai crescer esse ano, ainda há potencial para chegarmos á nossa condição máxima.
Sempre digo que está ganhando, se mexe sim. Sempre para melhor. A chegada do Walter Herrmann qualifica demais o elenco. O Cristiano hoje é pivô 5 da Seleção Brasileira e vai ganhar mais espaço nesse ano. Gostaria de lembrar que rebote não se ganha somente com “pivozão”; se ganha com inteligência, não só dos pivôs, mas também dos alas que precisam fechar o pessoal que vem de fora. Isso precisa e deve ser treinado. O time vai jogar mais perto do seu potencial nesse ano, não tenho dúvidas.
Reconhecemos, porém, que talvez para os jogos com o Maccabi e da NBA, precisemos de um pouco mais de força e não está descartada uma contratação pontual de algum estrangeiro – um pivô 5. Que fique claro, porém, que essa seria mais uma exceção, porque estamos em um ano realmente “excepcional”. Não é mais política do Flamengo contratar jogadores que possam sair a qualquer momento para a NBA ou qualquer lugar. O Flamengo não é ponte, é final de estrada, Não pode ser meio, é sempre fim. Temos que nos dar ao respeito com todo o currículo que estamos acumulando no basquete. Nesse caso da contratação pontual, o atleta teria dia para chegar e dia para ir embora. Seria um contrato curto. E teria que ser um atleta para fazer a diferença nesses 5 jogos históricos do começo da temporada.
Queremos, sim, observar muito a LDB e começarmos a formar uma base forte. O Flamengo tem que voltar a formar jogador, como sempre fez na minha época. Ganhamos a LDB esse ano, fantástico, mas o nível foi muito baixo da competição. Quem sabe buscamos um bom pivô 5 nessa competição para o resto da temporada ? O José Neto, a partir desse ano, vai exercer um papel diferente, como se fosse um Head Coach de todo o basquete do clube. Vamos verticalizar tudo, do adulto até a escolinha – parte técnica, preparação física, médicos, fisioterapia.
Finalizando, nunca houve contato com Augusto Lima ou Fab Melo como vi sendo comentado em vários blogs. O nosso problema bom é que todo mundo quer jogar no Flamengo hoje e começam a aparecer as “cavadas”. São ótimos jogadores, mas não temos orçamento para tudo, escolhas precisam ser feitas. Gostaria de lembrar que a renovação dos jogadores que ganharam tudo na temporada passada também foi difícil. Os atletas e a comissão técnica se valorizaram e buscamos reconhecer dentro dos nossos limites.
– O Flamengo teve aprovado o projeto de R$ 8 milhões via ICMS para a próxima temporada do basquete? A previsão é “renovar” com a TIM?
Sim, no esporte olímpico, mata-se um elefante por dia. As pessoas não têm ideia das dificuldades. Talvez no interior de São Paulo, o dinheiro esteja sobrando (rs), aqui não. Hoje, temos a Lei de Incentivo (só foi publicada em DO na semana passada – vide em anexo – depois de uma longa tramitação, mas deu tudo certo), dois patrocínios, cotas da NBA e do Mundial, enfim, temos uma situação muito melhor do que prevalecia até dezembro de 2012 (quando o basquete era praticamente financiado pelo futebol e os salários estava atrasados por mais de 3 meses), mas não temos espaço para cometer loucuras. Não é segredo para ninguém que a situação financeira do Flamengo é muito difícil e nós não vamos abrir mão do nosso compromisso de ser um clube cidadão. O processo da renovação da TIM está bem mais adiantado relativamente à temporada passada. Esperamos não passar pela mesma situação do segundo semestre de 2013 mas, novamente, há um manada de elefantes a serem abatidos no horizonte.
– Como está o andamento dos projetos enviados pelo Flamengo para participar do chamamento interno da Confederação Brasileira de Clubes para equipamentos? Há expectativa para o lançamento de novos editais?
Vocês devem saber que o Flamengo, hoje, apesar de estar com todas as certidões em dia, não pode receber um tostão de verbas incentivadas federais porque teve seu nome inscrito no CADIN do Banco Central. O motivo foi a multa, que caiu no nosso colo agora, de R$ 90 milhões pelo fato do clube não ter informado ao BC corretamente sobre milionárias transações de jogadores na década de 90. Pagamos o preço da irresponsabilidade e más gestões até hoje. Mas estamos otimistas que, ainda nessa semana, conseguiremos resolver a questão. O contato com o BC está adiantado.
Temos que estar com o nome fora do CADIN até o dia 22/08 para recebermos as verbas de equipamentos que pedimos para a Confederação Brasileira de Clubes (CBC), que está distribuindo os recursos da Lei Pelé. Depois de tanta luta e sacrifícios, não receber esses recursos seria uma frustração enorme. Mas, se conseguimos resolver o Cadin, estamos otimistas, dado nossas intensas batalhas e contatos com a CBC e Ministério dos Esportes (que está olhando SICONV + Lei Pelé como uma coisa só). Pedimos nessa primeira tranche cerca de R$ 7 milhões, entre piscina italiana Myrtha, flotilha de remo e diversos equipamentos para ginástica, judô e vôlei.
Pelo o que fomos informados, há expectativa de lançamento de novos editais assim que o resultado do atual (que deve ser publicado em 22 de agosto) sair. Há muito dinheiro na Caixa da CBC e o Flamengo não pode ficar fora desses recursos, vamos lutar por cada centavo.
– Qual o balanço que você faz do Projeto Anjo da Guarda? Existirá algum tipo de prestação de contas onde o dinheiro foi investido?
Quanto ao Anjo da Guarda, podemos olhar o resultado sob a ótica do copo “meio vazio” ou “meio cheio”. Em se tratando de Flamengo, em uma campanha onde o sujeito apenas tem o trabalho de transferir o seu IR a pagar da Receita Federal para o clube (ou seja, não há nenhum desembolso real envolvido), não dá para afirmar que R$ 1,2 milhões de captação tenha sido algo brilhante. Levando em consideração que aproximadamente 15% (30 milhões) da população brasileira (200 milhões) declararam I.R. em 2014, teríamos, no caso do Flamengo, 6 milhões de pessoas que potencialmente poderiam contribuir (15% de 40 milhões). Quando apenas 822 rubro-negros se dispõem a fazer isso, por mais que a divulgação não atinja a todos, tem alguma coisa errada. O que chama mais atenção é que eu e o nosso grupo falamos com pelo menos 500 pessoas de altíssima renda, que se dizem “grandes rubro-negros”, e o nível de resposta efetiva de adesão ao Anjo da Guarda foi baixíssima, tal como ocorreu em quase toda a “classe política” rubro-negra.
Olhando a situação pelo copo “meio cheio”, cabe ressaltar que foi a maior captação pulverizada da história da Lei de Incentivo de I.R. no Brasil. Dentro de todos os riscos que assumimos, acho que a resposta foi interessante para um primeiro ano. Montamos um eficiente sistema de captação via Internet e, pelo o que eu saiba, ninguém teve problemas do tipo “malha fina” com o I.R., dado que a Receita às vezes pega aleatoriamente esses casos de doação. Ótimo, porque lá para Outubro vem aí o Anjo da Guarda II. O fundamental é que o programa, dando certo, cresça ano a ano. Que em 2014, ao invés de 800 contribuintes, consigamos 1.600. A meta realista seria dobrar a arrecadação para R$ 2,4 milhões. Tirando o basquete adulto, isso significaria quase 25% do nosso orçamento anual para custeio do esporte olímpico no Flamengo.
Dos 1,2 milhões captados, cerca de R$ 200 mil estão sendo usados no Projeto de Judô e Ginastica, em plena fase de execução.
– R$ 600 mil foram destinados ao Projeto de Esportes Coletivos, ainda em fase de captação (faltam R$ 500 mil de empresas para começarmos a executar)
– R$ 200 mil foram destinados aos projetos aquáticos (ainda faltam R$ 200 mil de empresas para começarmos a executar)
– R$ 200 mil foram destinados ao remo (ainda faltam R$ 800 mil de empresa, para começarmos a executar).
O remo, apesar de estar aparentemente mais longe, já tem uma empresa interessada em bancar. Estamos na expectativa do CADIN para irmos em frente.
É muito difícil conseguir apoio. Desde que assumimos, já visitamos/contactamos umas 200 empresas e só doze estão patrocinando o clube através de verba direta ou incentivada. Mas temos frentes abertas e tenho a expectativa no segundo semestre já estaremos anunciando a autossutentabilidade do esporte olímpico do C.R. Flamengo.
– Existe a possibilidade de o Flamengo voltar a ter uma equipe adulta de natação pro ano que vem somada aos ótimos atletas da categoria júnior? E o projeto referente ao parque aquático via ICMS? Alguma novidade?
Só vamos ter equipe quando tivermos condições de abriga-la (infraestrutura) e custeá-la (lei de incentivo). Tal qual foi com a ginástica artística. Estamos próximos a isso. No caso da piscina, temos bastante expectativa de conseguirmos a solução italiana Myrtha via Lei Pelé (que custa cerca de R$ 2 milhões). Aí precisaremos de algo em torno de mais R$ 2 milhões da lei de incentivo de ICMS para completarmos nosso sonho. Estamos abrindo frentes, estamos mais próximos.
– O Comitê Olímpico planeja construir uma Arena do judô? Quais outras obras estão em vista?
Estamos em negociação para a construção de uma academia para sócios e a arena de lutas de judô deve ficar no andar de cima, financiado com os recursos acordados com o Comitê Olímpico dos EUA. Caso essa definição da academia não ocorra, o espaço será feito em outro espaço da Gávea.
Aí sim, com equipamento novo e custeio através de lei de incentivo, vamos vislumbrar a volta de uma equipe adulta forte. Sonho todos os dias com a seguinte Gávea ao final de 2015:
– Campo de futebol totalmente reformado (já concluído com a parceria com a Holanda).
– Vestiários do Hélio Maurício e Togo Renan totalmente reformados (com recursos do Comitê Olímpico dos EUA, as reformas devem ficar prontas até outubro)
– Ginásio Cláudio Coutinho reformado – Com recursos próprios, estamos consertando o teto e preparando o ginásio para receber equipamentos de última geração (acordo operacional com o COB, devem chegar em novembro, quando pretendemos reinaugurar o ginásio em grande estilo, com toda a nossa equipe de volta).
– 2 Salas de musculação modernas, com equipamentos de última geração, somente para atletas olímpicos (já conseguimos recursos pela lei de incentivo de ICMS), uma para a Gávea e a outra para o Remo. Devemos ter ambas prontas até novembro também.
– Arena de judô – Até o final de 2015 é o prazo limite, com recursos do Comitê Olímpico dos EUA
– Reforma das quadras de tênis – Até o final de 2015 é o prazo limite, com os recursos do Comitê Olímpico dos EUA.
– Construções/equipamentos esportivas que ainda estamos tentando viabilizar: Arena Mc Donalds, Flotilha nova (Lei Pelé), reforma da piscina (Lei Pelé + ICMS), material novo vôlei, futsal, basquete (Lei Pelé).
– Construções sociais que ainda estamos tentando viabilizar: Museu e Academia para sócios
Fora isso, há todo o Plano Diretor da Gávea já pronto e que será proposto no Conselho Deliberativo para aprovação. Recomendo que quem queira comprar um título de sócio do Flamengo, pode ser um bom momento…. (rs).
– E qual a situação da Arena McFla?
Tivemos uma ótima reunião com o Eduardo Paes na semana passada. Ele gostou do projeto, sobretudo por ser um equipamento importante para a cidade como legado das Olimpíadas de 2016 e para a beleza arquitetônica da Lagoa. Estamos esperançosos em conseguir as últimas licenças que estão faltando em breve. O patrocinador está 100% de pé e estamos aguardando a liberação integral da prefeitura para começar as obras. Ainda temos a esperança e o sonho de termos essa arena pronta até o final de 2015.
Fonte: Ninho do Flamengo