Tempos estranhos vive a torcida do Flamengo. Junto à óbvia decepção com o desempenho da mulambada reaviva-se aquele fio de esperança que contraria a lógica. Ao mesmo tempo em que tem gente que já está encomendando o terno preto pro dia do enterro do Flamengo percebe-se que a cada insucesso nos gramados a fé em nossos símbolos e mitologias se renova.
É sempre emocionante ouvir afirmações peremptórias de que o Flamengo não cai porque não cai e pronto. Que nosso Manto, nosso tamanho, nossa torcida e nosso incontável esquadrão de urubus que sobrevoa os céus do mundo impedem que essa tragédia se consume. Mas sé é emocionante quando ouvimos essas manifestações de dogmatismo religioso da boca de um torcedor. Porque não é nada tranquilizador ouvir essas coisas quando são ditas pelo presidente do Flamengo. Não me parece certo. Ele pode e deve ser torcedor, mas agora ele está presidente e o protocolo é outro.
Sei muito bem que o presidente Bandeira é tão torcedor quanto eu ou você, mas na moral, esse papinho de que o Flamengo não cai sem indicar claramente em que se baseia essa certeza mística não é discurso do líder de uma Nação transnacional. Preferia que o presidente se preservasse um pouco mais, principalmente durante essa época nojenta em que o urubu está na muda.
Não há a menor necessidade de que o Bandeira atenda a cada chamado de uma mídia carnívora e que não resiste a um sangue pingando. Declarações presidenciais devem ser reservadas apenas para as boas notícias e as grandes tragédias. E no segundo caso exclusivamente quando estas se consumam. Tem nada a ver o presidente dando corda pra especulações sobre um possível cataclismo. A boa educação reza que pelotões de fuzilamento só devem ser encarados quando não há outra alternativa e este ainda não é o caso.
Para falar sobre o futebol, ou melhor, para falar sobre o desastre em curso no futebol não é preciso desgastar a imagem do presidente. Basta indicar um pato bem corajoso para o cargo de vice-presidente de futebol e ele que se encarregue de alimentar os flamengotofágos com o que eles quiserem ouvir. Mas aparentemente tá faltando alguém com culhão suficiente ( e em quem essa diretoria confie) para segurar o rabo de foguete em que o cargo mais importante do nosso futebol se transformou.
Flamengo é futebol, óbvio, mas é também comunicação e conteúdo qualificado. Ou seja, nesses campos do conhecimento humano nós também temos a obrigação de sermos os melhores. Se a realidade dos fatos não tem nos dado oportunidade de oferecer boas noticias azar das notícias. O presidente não deve se portar como o cordeiro que vai espontaneamente para o sacrifício só pra que não digam que ele não bota a cara. Deixa que digam, deixa que falem, mas que se preserve a imagem do presidente do Flamengo. Quando não se tem nada bom pra dizer é melhor não dizer nada.
Fonte: Urublog