Quais eram as maiores torcidas do Brasil no passado?

À medida com que se aproxima o fim de um ciclo, aprofunda-se a busca de respostas relacionadas a indagações históricas. Há quase três anos o Blog Teoria dos Jogos se propôs a mapear as torcidas nacionais com base em pesquisas locais, geralmente sem nenhum eco na grande mídia. Embora o processo não tenha se completado, evolui a cada dia. O objetivo será publicar uma compilação definitiva daquilo que seria a “maior pesquisa de torcidas do país”.

Antes, entretanto, é preciso dizer que vivemos uma fase de pesquisas nacionais. As eleições presidenciais redirecionam o foco dos institutos, fazendo que o âmbito regional ceda espaço para números do país como um todo. É o que aconteceu há algumas semanas, quando o Datafolha trouxe à tona sua mais recente pesquisa. E acontecerá amanhã, com a divulgação da aguardada pesquisa Lance-Ibope 2014.

Ainda assim, o perfil das torcidas nacionais nos reserva análises bastante interessantes. Uma delas diz respeito à configuração das massas algumas décadas atrás. Muito se fala em Flamengo e Corinthians nos dias de hoje, mas será que isto sempre foi assim? Quais eram as maiores torcidas do Brasil no passado?

Existem três formas de se tentar responder à pergunta. Vejamos:

1)      Com base nas tabulações por faixa etária nas pesquisas atuais

Um dos hábitos do Blog Teoria dos Jogos é divulgar a maioria das pesquisas em tabulações por gênero, renda, escolaridade e faixa etária. O objetivo é projetar o futuro das torcidas, mas agora a ótica é oposta. Para termos uma ideia da configuração das massas no passado, torna-se importante analisar a faixa etária mais avançada das pesquisas de hoje em dia. Tomemos o Datafolha-2014 como exemplo:

O perfil apontado é relativamente semelhante ao atual, mas com menor dispersão entre as torcidas: as maiores eram menores e as menores, maiores. Verificam-se ascensões e a formação de um bloco único do terceiro ao décimo segundo, com torcidas de tamanho relativamente parecido. Por fim, e surpreendentemente, o Datafolha apontaria para uma reversão na liderança. Será mesmo que a maior torcida do Brasil no passado era outra?

Muita calma nesta hora. Primeiro porque a margem de erro dentro de faixas específicas é muito maior do que a margem da pesquisa como um todo. Segundo porque, à medida com que se envelhece, existe uma tendência a perder o encanto com o futebol. Vejam que o percentual “sem time” sai de 12% (abaixo dos 24 anos), escala a 18%, 24% e 28% até atingir 32% acima dos 60 anos. As razões para o desapego podem ser encontradas em estudos relacionados à Psicologia, mas é possível que algumas torcidas se dissipem mais do que outras neste processo.

2)      Com base em pesquisas do passado

Antes do diário Lance firmar parceria com a Ibope – rendendo pesquisas em 1998, 2001, 2004, 2010 e 2014 – era a revista Placar quem o fazia. Como o ocorreu em 1993, com os seguintes resultados:

O problema é que, em tempos de menor solidez institucional, havia bem menos comprometimento com o trato das informações. A pesquisa de 1993, por exemplo, só englobou regiões metropolitanas e não ouviu mulheres. Não é preciso dizer muito acerca da falta de confiabilidade. O que dizer então da pesquisa Gallup-1983, requentada na mesma edição da Placar?

Clique aqui e acesse a edição completa da pesquisa Gallup 1983

É certo que no auge da “era Zico” a torcida do Flamengo viveu um boom, mas soa exagerado que tenha atingido 31% das preferências nacionais. O mesmo se pode dizer do ínfimo percentual sem clube (3%).  Quase nada se sabe a respeito das metodologias adotadas por um instituto que sequer atua mais no Brasil, comprometendo qualquer análise.

3)      Com base em publicações do passado

Em busca das relíquias nos acervos digitais de nossas grandes publicações, encontramos a seguinte matéria da revista Veja em sua edição de estreia (01/09/1968):

A reportagem era sobre o advento da Taça de Prata e sua tabela dirigida, havendo maior número de jogos em regiões onde o futebol era mais tradicional e rentável. Aos mais populares, restava “excursionar”, explorando nacionalmente seu apelo. Eis o papel atribuído a Flamengo e Santos – no auge da “era Pelé”. Sem nenhum estudo ou embasamento técnico, a revista cravava uma situação com base no pior levantamento existente: o “olhômetro”. Ainda que uma má pesquisa seja preferível a nenhuma pesquisa.

CONCLUSÃO

Todos os métodos de análise a posteriori se mostram falhos por razões expostas em cada tópico. Entretanto, tudo leva a crer que o ordenamento pouco se alterou nos últimos 50 anos. Pode ser que o Flamengo, tido e havido como maior torcida do Brasil, enfrentasse menos facilidade no passado, mas sua hegemonia sempre foi tratada como unanimidade. Independente da “fila”, a torcida do Corinthians sempre foi grande, tornando improvável que não tenha ocupado o segundo lugar neste período. São Paulo, Palmeiras e Vasco possuíam enormes contingentes, ainda que dessem margem à aproximação de Santos, Botafogo e Fluminense. Tudo indica que o Internacional era mais popular que o Grêmio, enquanto o Atlético-MG estava à frente do Cruzeiro. Havia, ainda, maior espaço para agremiações locais, dividindo um bolo que hoje tende a se concentrar cada vez mais.

Fonte: Teoria dos Jogos

Coluna do Flamengo

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