O discurso é otimista, mas internamente o Flamengo está receoso em receber os R$ 7 milhões pela venda de Hernane ao Al Nassr. O atacante já assinou contrato, ganhou 50% de adiantamento e até agora o dinheiro não entrou nos cofres da Gávea. O Rubro-negro fez o negócio apesar da alcunha de mau pagador do clube árabe e corre o risco de um longo desgaste na FIFA pelo caso.
Porém, o intermediário da negociação conversou com o príncipe dono do Al Nassr e recebeu a promessa de que o depósito será feito até o próximo dia 5 de setembro. Advogado da Traffic – empresa de marketing esportivo -, Rafael Botelho comandou as tratativas que tiraram o Brocador do Flamengo.
“Os árabes avisaram que estavam sem dinheiro depois do pagamento ao Hernane. Existe a malandragem de empurrar para frente na Arábia, mas o príncipe do Al Nassr é um cara sério. Ele estava com as contas em dia até não pagar ao Flamengo. Me garantiu que no dia 31 de agosto entra o dinheiro da Liga e de patrocinadores. Caso não receba, prometeu tirar do bolso e quitar a dívida pela compra do Hernane até 5 de setembro. Ficarei desapontado se isso não acontecer, pois não tenho motivos para não confiar em sua palavra”, explicou Botelho ao UOL Esporte.
O advogado da Traffic participou de toda a operação envolvendo Hernane. Ele estava na Arábia Saudita promovendo a transferência do atacante Marquinhos Gabriel para o Al Nassr, quando o dono do clube manifestou o interesse em contar com os serviços do Brocador.
A negociação foi arrastada e resultou em egos inflados de ambos os lados. A demora do atacante para viajar e se apresentar foi o primeiro capítulo da irritação dos árabes, que chegou ao limite quando o Flamengo enviou uma notificação para pagamento 24 horas depois da assinatura de contrato.
“Os árabes acreditam que foi molecagem do Flamengo. O príncipe disse que não teria dinheiro antes do dia 31 e recebeu uma notificação. Foi tudo muito enrolado. Ele ficou irritado com a repercussão da notícia. O Al Nassr também errou ao colocar um membro do clube para requisitar a liberação do jogador mesmo sem depósito. Inclusive, alguns funcionários de lá defendem o não pagamento, mas isso não faz parte da conduta do príncipe”, comentou Rafael.
Causa estranheza nos bastidores do Flamengo e já é alvo de investigação por parte do Conselho Fiscal o fato de a diretoria ter liberado Hernane para realizar exames e assinar contrato antes de qualquer garantia bancária. Em fevereiro, o clube aceitou a proposta de R$ 11 milhões do chinês Shangai Shenhua. Porém, as garantias não chegaram e o Brocador permaneceu na Gávea. Hernane era a certeza de receita com venda de atletas desde o ano passado e teve a sua saída facilitada.
Segundo Rafael Botelho, o Rubro-negro tinha conhecimento do caso desde o início e não exigiu qualquer conduta diferente dos árabes. “O Al Nassr não deu garantia. O príncipe diz que a palavra dele vale mais do que tudo. O negócio não sairia com garantia antecipada. O Flamengo sabia e topou. Eles trabalham assim, mas pagaram os 50% do salário ao Hernane”, encerrou.
O Flamengo tem direito a 50% pela negociação de Hernane – em torno de R$ 7 milhões. A primeira parcela no valor de R$ 6 milhões deveria ser paga até o último dia 17 e nada foi depositado. Caso receba até 5 de setembro, o Rubro-negro terá que destinar uma verba para quitar a comissão da Traffic. O escritório do advogado Marcos Motta foi acionado para brigar pelos direitos do clube. Perplexa, a administração Bandeira de Mello segue em compasso de espera e torce por um desfecho positivo para mais uma crise interna.
Fonte: UOL